13 de janeiro | 2013

Brocanello deixa Olímpia e cobra medidas de segurança do município

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Ao deixar a direção da Delegacia de Polícia de Olímpia para assumir a Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes (DISE), de Barretos, já na próxima semana, o delegado João Bro­ca­nello Neto concedeu entrevista na manhã da quinta-feira, dia 10, na qual, além de comentar o trabalho que desenvolveu na cidade, voltou a cobrar a implantação de sistemas que via­bilizem dar mais segurança à população.

Brocanello cobra a instalação de um sistema de câmeras de segurança que ajude a prevenir contra a criminalidade e também a implantação da guarda municipal. Ele espera pelo menos um trabalho preventivo contra o tráfico de drogas nos portões das escolas.

Por outro lado, defende a internação compulsória para tratamento, falou sobre o aumento do consumo de drogas, principalmente do crack na cidade e avisa que se trata de uma situação que está ligada diretamente ao aumento de furtos e roubos.

O delegado iniciou contando sua trajetória profissional e como avalia a oportunidade que tem, a partir de agora, em sua carreira. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Brocanello: Já estou há quase 22 anos na labuta como delegado. Tenho uma certa experiência na área de segurança, pois trabalho desde novembro de 81 dentro da Delegacia de Polícia. Iniciei como guarda mirim, aquela antiga nomenclatura e posteriormente subi um degrau como escriturário, que também não existe mais, agora é oficial administrativo. Depois que acabei a faculdade prestei alguns concursos, passei e estou aí como delegado todo esse período. Quando fui designado para trabalhar aqui em Olímpia, assumi o cargo no dia 7 de março de 2008, numa sexta-feira, acreditava que eu trabalharia até um determinado ponto e seria transferido para um outro setor antes de requerer minha aposentadoria.

Trocou o comando da seccional, o Dr. João Ozinski foi promovido a diretor do nosso departamento, que é o Deinter 3 de Ribeirão Preto e ele designou o Dr. Edson Guilhem, que era até então diretor da Ciretran de Barretos, para ocupar o cargo de seccional. Ele me convidou para assumir o cargo de delegado da DISE e trabalhar junto com a Dra. Silvana Ferreira da Silva na DIG, porque lá em Barretos houve também a aglutinação das duas unidades num único prédio para fortalecer a investigação e para proporcionar um trabalho melhor para a sociedade. Estou indo como primeira classe, estou subindo na carreira. Aqui a unidade é de segunda e eu já sou de segunda classe, agora em maio vai fazer quatro anos. Então de certa forma é uma promoção, um reconhecimento pelo esforço do nosso trabalho.

Tenho um carinho especial, vocês sabem disso, por Olímpia, até porque nasci e fui criado aqui e ao longo desses 21 anos eu aqui trabalhei como delegado por quase sete, em duas passagens. Mas como se diz, a gente é profissional e não podemos virar as costas à instituição que paga o nosso salário e como a gente tem que enfrentar os entraves da vida eu aceitei essa incumbência. Estou deixando Olímpia com a certeza de que fiz tudo de forma a proporcionar àqueles que trabalham comigo e à comunidade algo de bom. Ou seja, tenho a sensação do dever cumprido e tenho a certeza que Olímpia permanecerá em boas mãos. O Dr. Marcelo Pupo de Paula, o Dr. Cezar Aparecido Martins e a Dra. Maria Tereza Ferreira Vendramel continuarão o trabalho sem problema algum. E como se diz na gíria, a vida continua.

Dessa experiência de sete anos de Olímpia, faz um panorama dos problemas que a cidade enfrenta na área de segurança pública?

Brocanello: Não é só Olímpia, mas podemos dizer que o nosso País inteiro, hoje o maior problema é o descontrole do consumo de drogas que, na minha visão está associado à baderna estabelecida pela própria sociedade no que tange à diferença entre democracia e libertinagem. Democracia não representa liberdade plena, ampla. Democracia representa uma liberdade mas limitada.Tem os parâmetros de ir e vir, de fazer e deixar de fazer, de deveres. Então, na medida em que tudo pode a gente se defronta com isso que nós estamos vendo, o consumo excessivo de drogas. Sempre existiu droga. Sempre existiu álcool. Acho que tirando a época das cavernas em que o homem não conhecia esses instrumentos, essa maledicência, na medida em que o homem foi desenvolvendo a sua cultura, sua inteligência, se defrontou com esses perigos. Então, isso sempre existiu, só que atualmente a coisa está muito debandada e eu penso que o grande problema está no descontrole que ainda a população não conseguiu atingir esse equilíbrio. E digo mais: esse equilíbrio tem que começar dentro de casa, com o pai e a mãe estabelecendo regras, deveres, limites e consequentemente, a sociedade como um todo.

Você acha que o crack contribuiu para esse aumento vertiginoso que a gente teve nos últimos 10 anos?

Brocanello: Tanto acredito que sim, que até cinco, seis, sete anos, mais ou menos, o crime organizado carioca não permitia que o crack invadisse o Rio de Janeiro. Chegou um ponto em que não conseguiu mais. Atualmente, tem informações de que o próprio crime organizado está tentando proibir a venda de crack no Rio de Janeiro porque perceberam que é uma grande devastação (dos usuários). Aqui no Estado de São Paulo faz mais de 20 anos que o crack está infestado e infelizmente as políticas de prevenção e de atuação governamental são fracas. O crack está disseminando em nossa sociedade e o duro de tudo isso é que não é só entre os jovens, estamos vendo pessoas já adultas, na terceira idade, consumindo essa droga. Então a pessoa deveria enxergar que a grande consequência do uso de crack é a destruição da família e também de quem usa. Porque o consumo de cinco a seis anos, se não levar à morte aquele que tem alguma doença crônica, ele destrói quase que irrecuperavelmente a pessoa. A pessoa não sai mais do buraco.

É difícil falar que consegue recuperar um usuário de crack. Não tem ex-usuário de crack. Eu até agora não ouvi ninguém falar que saiu do crack. Isso é lamentável e preocupante. Então, antes de entrar nesse mundo (do crack) pensem duas vezes, porque a grande porta para o crack e o álcool. As pessoas nas festas, nos embalos, alcoolizadas fazem coisas que depois se arrependem e não tem mais volta. É a lei da semeadura que costumo dizer: plantou vai colher. Pergunta: O que pode ser feito para que a pessoa não entre nessa vida?

Brocanello: É prevenção com maior ênfase dos governos federal, estaduais e municipais, atuando mais com palestras nas escolas na medida em que está se formando as crianças e os adolescentes. Mostrar para eles que as consequências são devastadoras. É como se estivesse aí passando um furacão. Derruba todo mundo. Destrói. Arrebenta. E a família sempre estar próxima do adolescente. Sempre conversar e mostrar os perigos e não deixar. Porque muitos pais acham que tem que deixar, que vivem num país democrático, que podem tudo. Tem que falar não. O filho pede, às vezes, e o pai e a mãe não percebem.

Você diz que o crack não tem tratamento, mas a legislação prevê a internação. Em São Paulo, na cracolândia, o governador baixou portaria para que os usuários sejam internados compulsoriamente. O que você acha disso?

Brocanello: Tem que fazer alguma coisa. Essa iniciativa deveria ter sido tomada há muito mais tempo. Eu sou defensor de que haja um tratamento obrigatório. Essa conversa de dizer que o paciente tem que ter a consciência de pedir e reconhecer que ele está doente, no crack não tem isso. O usuário de crack fica alienado de tudo. Ele não tem mais os freios inibitórios que o segurem. Ele não tem mais caráter. Ele perde o discernimento do certo e errado. Ele só quer consumir. Nas palestras que faço, coloco que temos no cérebro a dopomina, um neurotransmissor que dá a sensação de prazer. Um deles é a vida sexual, a alimentação, o consumo de droga, de álcool e parte esportiva. Para se ter uma ideia começa com 50% que seria a sensação de prazer com a alimentação e chega até a 930% a sensação de prazer com o crack. Olha a diferença! Então, o camarada vai em busca disso. Então, ele esquece de todas as outras coisas e precisa ser internado. Quando falo que ainda não vi um ex-usuário de crack é que ainda não descobriram um remédio eficaz que combata essa vontade. Mas alguma coisa tem que ser feita. Eu sou a favor da internação compulsória sim. Tomar remédios e também da atuação religiosa e espiritual. Tratar a alma e o corpo. É um conjugado. É preciso de socorro.

Como vê a segurança em Olímpia em termos de furtos e roubos, que também tiveram aumentos?

Brocanello: A cidade cresceu e a população aumentou e tudo aumenta. Isso está associado. E temos também a população flutuante que é constante em nossa cidade. Eu venho trabalhando já há quatro anos nesse propósito. Tentei e o comando a Polícia Militar também, para melhorar a prevenção, pois entendo que temos de prevenir porque depois que acontece é mais difícil. Quanto tempo faz que estou falando que a Prefeitura deveria instalar câmeras de segurança na cidade? Aliás, isso é uma promessa do prefeito (Eugênio José Zuliani). Ele prometeu isso na primeira gestão dele e na segunda de novo e até agora não saiu do papel. Já foi mostrado que o investimento não é tão caro para fazer e que a retribuição será muito positiva. Guarda Municipal: existe uma lei que na nossa cidade dos anos 80, mas está engavetada.

Nenhum prefeito que assume tem essa dinâmica. Sabe o que ouço? Que isso não é responsabilidade da Prefeitura. Que é obrigação do governo estadual. É um ledo engano porque o dever é do Estado, mas a responsabilidade é de todos. Então, os problemas emergenciais estão aqui, próximos de todos nós. Eu vejo dessa forma. Não encaro como uma crítica ou ataque à imagem do atual prefeito. É aquilo que enxergo e acredito. Eu penso que deveria sim instituir a guarda municipal para ficar na porta de escola para combater o tráfico de drogas, porque nós sabemos que existe muito. Ah porque a polícia não prende? A polícia prende sim, mas é que é preciso ter algo mais eficaz. Vou fazer um comparativo de quando o prefeito de Nova York assumiu há 15 anos. Mudou a cidade. Nova York não era frequentada nos parques e campos de diversão durante a noite com medo da criminalidade. O metrô era mal usado e frequentado por conta da crimi­na­lidade e a violência. O que ele fez? Remodelou toda a polícia, instituiu a tolerância zero, pagou bem a polícia, mandou embora os maus policiais, aperfeiçoou o treinamento dos policiais e instituiu o lema: prender, prender e prender. Ah, a cadeia não resolve. Não sei se resolve, mas a presença do poder público nas áreas ocupadas pela população dá a sensação de segurança. Eu venho repetindo, tentando esse canal de comunicação com a Prefeitura não porque sou delegado, mas porque sou cidadão olimpiense e quero viver numa cidade mais tranquila. Se nós fizermos uma comparação em termos de violência física ao cidadão aqui em Olímpia, graças a Deus, perto de outras cidades, está tendo pouquíssimos roubos. Tem muito furto sim, mas roubo em que o camarada é intimidado com faca ou revólver, com três, quatro bandidos que arrancam carteira e objetos de valor, aqui são poucos em relação até às cidades do nosso porte.

Isso porque o turismo está aí?

Brocanello: Justamente. E o turista gosta de três coisas: conforto, limpeza e segurança. Você vai numa cidade limpa e iluminada, que tem segurança, você volta e fala bem para 10, que falam bem para 100 e etc. E aí impulsiona. Essa é a minha visão, não é crítica. Penso que há sim a responsabilidade do governo municipal na segurança e grande. Mas nesses últimos anos está muito omisso, na minha visão.

Qual o caso mais importante que resolveu e o mais importante que não conseguiu solucionar?

Brocanello: Essas prisões que tivemos, esses homicídios, latrocínios, foram importantíssimos para nós. Quer dizer, eu coloco todos eles no pé de igualdade. Todos tiveram repercussões em que abalaram a sociedade e percebemos que a sociedade sempre nos viu atuando. Agora, com relação a outra pergunta a gente queria reduzir a quase zero a distribuição de drogas na cidade, mas isso é uma ilusão. O combate feito às drogas eu acho que a gente chegou a fazer um trabalho bonito, um trabalho que a sociedade esperava ou que queria até mais. Mas infelizmente não consegui. Acho que fica nesse contrassenso: foi um trabalho excelente e ao mesmo tempo acho que faltou um algo a mais. Extirpar, isso também é uma utopia. É algo que transcende à realidade, mas como cidadão queria ver um dia Olímpia quase zero nessa situação.

Como avalia a participação da sociedade para diminuir a criminalidade, principalmente em relação às drogas?

Brocanello: A participação foi muito pequena. Me desculpa falar isso. Muita gente tem medo. Muita gente não confia no trabalho da polícia. Acho que se a polícia tivesse maior respaldo da comunidade em acreditar, denunciar, não precisa por a cara e falar fulano de tal que está denunciando, se houvesse mais essa atuação da comunidade pode ter certeza que reduziria muito mais a droga. E isso é fato. Trago como exemplo e se fizerem um levantamento do que aconteceu há 20 e poucos anos lá no Brooklin, nos Estados Unidos, num bairro de comunidade maciçamente negra e pobre, as mães de drogados, amparadas pela polícia, cerca de uma dúzia, ficou apitando de frente às bocas (de drogas) e varrendo a sujeira. Por incrível que pareça diminuiu demais a violência e o tráfico de drogas, porque o tráfico está associado à violência. O usuário de crack fica violento. Ele rouba, ele mata, por causa de duas ou três pedras. Então, na medida em que há mais participação da sociedade em denunciar as biqueiras, os traficantes, porque a gente sabe que tem muita gente que percebe, que vê a movimenta, vê, às vezes, quando a droga chega, e não quer se envolver, mas depois fica preso a essa situação que é complicada.

Acredita que existam pessoas que usam drogas, mesmo o crack, apenas nos finas de semanas?

Brocanello: Isso tem. Tem aqueles que usam só nas festinhas. Cientificamente há pessoas que são usuárias, que conseguem conviver amistosamente com a vida social e às vezes usar a droga sem ficar escravo dela porque elas conseguem. Igual àquela pessoa que diz: eu só fumo quando estou numa festinha bebendo. Tem essas pessoas. Ela não fuma todo dia, mas quando está bebendo numa festinha ele fuma. É mais ou menos assim. E tem aquela pessoa que o próprio organismo não consegue estabelecer uma barreira protetora e evitar que ela entre no vício e não saia mais. Aí ela precisa todo dia. É como o alcoólatra, não fica sem beber todo dia, aquele que bebe todo dia, mesmo que consegue voltar para casa sem estar totalmente embriagado, ele é alcoólatra.

Quais suas considerações finais?

Brocanello: Para os meus conterrâneos eu deixo um grande abraço. Agradeço a todos que confiaram no meu trabalho, que depositaram essa responsabilidade no nosso convívio e pedir desculpas aqueles que não conseguimos atender da forma que esperavam. E desejar que Olímpia seja uma cidade promissora, que ofereça mais empregos, mais oportunidades e, que continue dentro de uma normalidade aceitável de convivência social, política e financeira.

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