19 de abril | 2020

Adolescente de Olímpia que estava na Índia retorna e passa aniversário em isolamento

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EFEITO COVID-19!        Vitória lamenta ter completado 18 anos na sexta, sem poder abraçar os avós e os amigos.

"É bem triste a situação, a gente não sabe quando a gente vai ter uma cura para isso, então a melhor opção agora é ficar em casa".


A adolescente de Olím­pia, Vitória Figueiredo de Oliveira, que completou 18 anos na sexta-feira, 17, conseguiu retornar para Olímpia, após ficar quase 9 meses na Índia e no mês passado não conseguir embarcar para o Brasil por causa do isolamento decretado naquele país. Ela chegou de avião na quarta-feira em São Paulo e no mesmo dia embarcou para Olímpia.

Ela passou este tempo na cidade de Erode, Estado de Ta­mil Nadu, na Índia, e teve que passar o seu aniversário de 18 anos sem o contato com os avós e os amigos que não vê há vários meses, por estar cumprindo isolamento em razão de ter retornado do exterior. Ela ficará em sua casa durante 14 dias, sem poder sair de casa.

Vitória foi entrevistada pelos âncoras do programa Cidade em Destaque no programa de sexta-feira, 17 e contou como foi a aventura vivida no segundo país com maior população do mundo.

Cidade em Destaque – Como é a sensação de ficar presa em outro país?
Vitória – Eu tinha a minha família, a minha host family, a família hospedeira, então eu estava tranquila, eles também estavam bem tranquilos.

CD – Mas lá está tudo parado, está em isolamento total?
V – Está tudo parado, mercados também estão todos fechados. Tem gente que às vezes não consegue comprar comida, ficam sem comer mesmo e não tem como sair de casa. Se a polícia pegar, tem que pagar multa e aplicam punições físicas também.

CD – Como que surgiu essa ideia de ir para Índia? Você estuda onde? Você já concluiu o ensino médio?
V – Sempre gostei muito da Índia. Assistia aquela novela Caminho das Índias, colocava alguns panos na cabeça e achava que fazia parte, que era a Maya. Na verdade, queria ir para Taiwan, um país da Ásia também, só que não teve vaga no ano que escolhi, então aceitei a opção de ir para Índia. É uma cultura totalmente diferente que queria conhecer. Aqui no Brasil, eu estava estudando no Objetivo, eu estava no meio do terceiro colegial e quando eu cheguei, eles me colocaram no meio do segundo colegial deles. Mas era mais um intercâmbio cultural, às vezes eu tinha outras atividades, eu ia para projetos do Rotary, como plantação de árvores, reuniões do Interact, então eu tinha aula de ioga, eu tinha aula de dança. Às vezes a escola era período integral, eu saia às 8 horas da manhã e voltada às 8 horas da noite, então era bem complicado.

CD – Como que é a família de lá?
V – A hora que eu cheguei lá, eu não tinha conversado tanto com eles. Eu sabia como era a casa, a família deles, eles mandavam fotos, na hora que eu cheguei lá eu me senti totalmente acolhida. Um dia antes de vir embora, o meu pai da Índia falou que o sonho dele foi ter uma filha menina e que eu era um presente de Deus para ele. Criei uma conexão muito grande com eles, sinto muita falta, me emociono falando deles. Recebi muito amor e eles faziam de tudo por mim, de tudo mesmo.

CD – Qual a idade deles? O que eles fazem lá?
V – O meu pai tem 44 anos e minha mãe 45. A minha mãe trabalha em um escritório do governo, de manhã preparava o meu café da manhã, meu almoço e depois disso ia trabalhar. O meu pai tem um escritório, uma gráfica, ele ia de manhã para o escritório e voltava na hora do almoço. Quando eu ia para escola, pegava a van de manhã e voltava às 5 horas da tarde.

CD – Eles tinham outros filhos?
V – Ele tinha um filho que está fazendo intercâmbio, de 17 anos, que está fazendo intercâmbio em São José do Rio Preto.  

CD – A diferença de hábito, de costume. O que você pode falar pra gente?
V – É totalmente diferente. Acho que não tem uma coisa que é igual. Todo mundo acorda bem cedo, tipo 5 horas da manhã e mesmo que eles não tenham nada para fazer, eles acordam cedo mesmo. O horário de almoço era 2 horas da tarde, lá a gente comia com as mãos, mesmo que seja arroz, essas coisas, a gente comida com as mãos e em folha de bananeira. É a minha coisa preferida, adorava. Uma coisa que é muito nobre deles é você sentar no chão para comer. Você coloca o seu prato que é a folha de bananeira e come com a mão. Tem que comer com a mão direita, mas eu sou canhota, eu sempre comia com a mão esquerda. A mão esquerda eles usam para limpeza e coisas do gênero e mão direita é a mão meio que sagrada deles.

CD – Quando você chegou lá?
V – Eu cheguei lá no dia 18 de junho, foram nove meses. Eu saí de casa no dia 15 de junho e cheguei aqui no dia 15 de abril.

CD – Como você matava a saudade dos pais daqui?
V – Eu ligava para eles quase todos os dias.

CD – E o seu pai e sua mãe (daqui), eles fazem o quê?
V – O meu pai trabalha no fórum, ele é funcionário público, e a minha mãe trabalha no Sindicato da Alimentação.

CD – Quando a crise do coronavírus começou a fervilhar lá?
V– Foi no começo de março. Eu tinha uma viagem marcada para o norte da Índia e eles estavam com boatos que iam cancelar essa viagem. Primeiro eles cancelaram a viagem do Himalaia que eu teria em maio, e em seis dias antes eles cancelaram essa viagem do norte que seria no dia 12 de março. No dia 6 de março, eu quis voltar para o Brasil porque eu não teria essas viagens e as únicas coisas que ia fazer na Índia nesses últimos meses, iam ser essas viagens. Resolvi voltar para passar o meu aniversário aqui e foi quando começou a acontecer tudo de errado. Normalmente, eu ia voltar no dia 31 de maio.

CD – Como que foi o início lá? Quando entraram em quarentena?
V – Eles já estavam com um pouco de medo um pouco antes, tipo no começo de março. Então eles começaram a cancelar várias coisas e aí foi quando que eles perceberam que se eles não fechassem tudo ia começar a espalhar muito, porque a Índia além de ser menor que o Brasil tem sete vezes mais a população do Brasil. Todo lugar que você vai é aglomeração, todo lugar que você vai esbarra em alguém, você não tem um espaço, então eles falaram que era melhor fechar tudo. Eles declararam “lock down” (isolamento total) no dia 22 de março e agora vão estender até o dia 3 de maio.

CD – Você estava com medo?
V – Não, ficava dentro de casa. O meu pai saia a cada duas semanas para comprar comida. Eu morava em um vilarejo que tinha umas duas mil pessoas, então era assim, umas três casas perto da onde morava, era estrada de terra mesmo, era bem longe da cidade.

CD – O que você sentiu do país lá?
V – Extrema pobreza e extrema riqueza. É muito difícil você achar um meio termo. Às vezes, perto de casa, eu via os vilarejos com banheiro comunitário, torneira comunitária, então era bem triste a situação que você via ali. As crianças não iam para escola, trabalhavam. Mas no meio em que eu vivia, as pessoas tinham uma condição de vida muito boa, então você acaba vendo os dois lados ali, é totalmente diferente.

CD – Que lição de lá você traria para o Brasil e que se você fosse o presidente da república você faria aqui?
V – Acho que um investimento maior nos estudos. Nas escolas. Eles são muito aplicados, gostam de estudar. Acho que o estudo faz uma pessoa muito melhor, tudo começa ali, dentro da escola. Eu estudava em escola particular e era uma escola muito boa, não é uma escola que é muito cara. Eles fazem muita atividade na escola também pelo fato de ficar o dia inteiro ali dentro, eles tinham vários esportes, tem aula de costura, aula de dança, aula de fotografia, aula de música, tudo dentro da escola. Eles tentam tirar da criança todo aquele lado artístico também, não só a parte do estudo.

CD – É como a novela ou a realidade é mais triste do que a novela?
V – Acho que a novela mostrou muito dessa desigualdade social que existe lá, existe muito, como aqui no Brasil também. Lá as pessoas pobres sabem da situação delas e é uma coisa da religião também, que eles meio que ‘aceitam’ essa realidade e vão viver daquela maneira para sempre, não vão tentar alcançar algo mais. Eles mostram mais a parte rica também. As danças são iguais, todo lugar eles dançam, eles gostam de dançar, qualquer coisa é motivo de festa para eles, qualquer coisinha. É como na novela também.

CD – Qual a mensagem que você passaria para população de Olímpia no sentido da crise e no sentindo que você quiser?
V – Eles estão conseguindo controlar essa doença se isolando, então acredito que a gente deveria ficar em casa. Economia a gente pode correr atrás depois, quando você já está dentro de um caixão, você não consegue fazer isso. A gente pode muito bem se isolar agora, é um momento de você ficar em casa, você pensar na sua saúde, pensar nas pessoas que estão próximas a você. Eu estou em isolamento, eu tenho que ficar em isolamento 14 dias até eu saber se eu não fui infectada nessa viagem, então eu estou sem ver meus amigos que eu fiquei nove meses sem ver, estou sem ver minha avó, estou sem ver meu avô. Hoje é meu aniversário e não posso ver eles, não posso abraçar ninguém. É bem triste, mas acredito que agora a gente tem que seguir as orientações, ficar em casa, se prevenir, lavar as mãos. Tem muita gente aí, até o presidente da república, contra o isolamento, mas acredito que a melhor opção agora é a gente se isolar. É bem triste a situação, a gente não sabe quando a gente vai ter uma cura para isso, então a melhor opção agora é ficar em casa.

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