30 de outubro | 2013

Açúcar queimado em incêndio de armazém de Santa Adélia já ameaça contaminar o rio Turvo

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O caramelo formado pelo açúcar que ainda está sendo queimado em um incêndio que iniciou na sexta-feira, dia 25, no município de Santa Adélia, já ameaça contaminar o rio Turvo, que passa na região oeste de Olímpia na divisa com o município de Guapiaçu. O alerta foi feito na terça-feira, dia 29, por autoridades ambientais que tentam controlar a situação.

De acordo com o jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, aproximadamente uma tonelada de peixes de pelo menos cinco espécies e de tamanhos variados já morreu sufocados no rio São Domingos em um dos maiores desastres ambientais da região.

Apesar das ações para a contenção da “lava” doce, espessa, escura e que chega a 40º C, formada pela queima de 28 mil toneladas de açúcar misturadas à água jogada pelos bombeiros, o material já atinge 60 quilômetros do rio e três municípios – Santa Adélia, Pindorama e Catanduva – e já ameaça chegar ao rio Turvo.

No momento do incêndio, na sexta-feira, o açúcar estocado em um dos armazéns da Agrovia dentro do chamado porto seco seria transportado por via férrea até o Porto de Santos. As chamas teriam começado na esteira usada para transportar o produto no carregamento até os vagões.

As chamas que produzem o melaço e que chegaram até em imóveis próximos, desalojando quatro famílias, ainda não foram contidas totalmente. A extinção dos focos que ainda persistem também é importante para não colocar em risco um galpão anexo, onde estão estocadas mais 45 mil toneladas de açúcar.

Para isso, as autoridades ambientais que trabalham na tentativa de controlar a contaminação do rio contam com a colaboração de São Pedro para que o desastre não seja ainda maior. Em caso de chuva nas próximas horas a situação se agravaria ainda mais.

“Estamos com 96% do vazamento do melaço no rio controlado. Caso chova a situação será crítica, já que esse caramelo pode triplicar de volume e voltar a contaminar os rios, transbordando as barreiras de contensão construídas”, explica o gerente regional da Cetesb em Rio Preto, Antonio Falco Júnior.

O problema é que a previsão do tempo para hoje em Santa Adélia é de 80% de chances de chover. De acordo com o CPTec, a quarta-feira deve ser nublado com curtos períodos de sol e pancadas de chuva com trovoadas. “Ainda não temos como prever a extensão do dano ambiental. Nossas medidas estão funcionando, esperamos que o clima ajude”, diz Falco.

Para o coronel da Polícia Ambiental de Rio Preto, Rogério Xavier, o problema da contaminação do rio é ainda mais grave por causa da época de reprodução dos peixes: “No próximo dia 1º iniciamos a piracema, época que os peixes precisam ser protegidos para que possam se reproduzir. A contaminação do São Domingos e do Turvo aumentaria o dano ambiental”.

Entre as espécies de peixes que foram encontrados mortos estão: cascudo, curvina, traíra e lambari. Cágados também morreram. “Todos os peixes atingidos pelo melaço morreram. Nessas áreas o nível de oxigênio caiu para 0%”, afirma o sargento Doanilson Cássio Nascimento.

DESAFIO

O maior desafio das autoridades envolvidas nas ações em Santa Adélia está em conter o avanço do melaço e extinguir o incêndio completamente. Para barrar o líquido doce estão sendo realizadas diversas ações comandadas por técnicos da Cetesb, Polícia Ambiental e Defesa Civil. Entre as principais ações estão a construção de represas para que o líquido que escorre do armazém não derrame no rio.

Foram construídos quatro diques, dois ao lado do armazém e outros dois fora da empresa, em um terreno vazio, cada um com capacidade para mil litros. Sem parar, caminhões-tanque sugam o líquido dos diques, que depois é transportado até a área de uma usina de cana-de-açúcar. Os caminhões têm capacidade para 30 mil litros. A Cetesb não soube precisar a quantidade derramada desde sexta-feira, quando o incêndio começou.

Além da sucção, operários da empresa Agrovia estão misturando areia ao melado e, com auxílio de máquinas retroescavadeiras, o material é despejado em caminhões. As galerias pluviais das ruas próximas ao armazém foram fechadas para evitar que o melado siga até o rio.

De acordo com o gerente da Cetesb, Antonio Falco Júnior, a situação ainda não tem um prazo definido para chegar ao fim. “É um trabalho que vai demorar meses para ser concluído”, afirma. Em razão disso o valor das multas ainda não foi calculado.

APREENSÃO

Moradores de Santa Adélia, Pindorama e Catanduva estão apreensivos com os problemas causados pelo incêndio do armazém da empresa Agrovia. Ao todo, 17 moradores de Santa Adélia foram alojados em hotéis até que o melaço que invadiu o quintal das casas e a rua seja limpo pela empresa.

O pedreiro Lindolfo Uderderge, 59, é um dos moradores prejudicados pela “larva doce”. Na frente da casa dele uma cachoeira de açúcar escorre pela rua onde mora há 16 anos. “Quando eu construí minha casa não tinha esse armazém. É muito triste olhar e ver essa situação. Vim aqui agora para limpar a frente de casa”, afirma o pedreiro enquanto observa, com os olhos marejados, o quintal sujo com o líquido escuro e espesso.

OUTRO LADO

A empresa Agrovia, através da assessoria de imprensa, disse que trabalha principalmente para conter o avanço do dano ambiental. Afirmou também que “todas as ações necessárias estão sendo tomadas” e que uma empresa terceirizada, especializada em ações ambientais, foi contratada para fazer a reposição do “possível dano causado ao meio ambiente”.

A assessoria informou que não contabilizou todos os prejuízos e que isso só será feito após o trabalho realizado pelos órgãos ambientais. Todo o produto armazenado pela empresa está segurado e as empresas proprietárias do carregamento já foram notificadas sobre o desastre.

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