21 de fevereiro | 2024

“No Café Existencialista” é uma agradável jornada pelas correntes políticas

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Os Herdeiros

“Os Herdeiros” é o segundo romance do vencedor do Prêmio Nobel William Golding. Escrito logo depois de “Senhor das Moscas”, é, nas palavras do próprio autor, o seu livro preferido. Nele, Golding faz o leitor abandonar as suas certezas para mergulhar em um mundo esquecido, nas próprias origens da humanidade, e se deparar com um povo novo, recriado com maestria por uma linguagem original e poética, em que os sons, os cheiros e as imagens ganham uma nova dimensão descritiva. No livro, o autor retrocede até as origens da humanidade para falar da perda da inocência e do mal essencial que se esconde nos recantos mais remotos da alma. Assim como “Senhor das Moscas”, “Os Herdeiros” trata do choque entre a pureza e a selvageria, tendo como cenário uma floresta aparentemente paradisíaca. Mas, em vez de entrar na pele de crianças perdidas numa ilha, Golding dá voz ao homem de Neandertal, com sua cultura primitiva, seu sistema de comunicação e seus medos, e o inevitável conflito que se dará quando ele, por acidente, se deparar com a espécie muito mais avançada — e violenta — do Homo sapiens. Aos poucos, o leitor enxerga o mundo mágico e misterioso através dos olhos de Lok, um dos remanescentes de um grupo de Neandertais que, com o fim do inverno, migra de uma região costeira para terrenos mais altos no meio da floresta. Mas a realidade de Lok está mudando. Mal, o patriarca, não tem mais a mesma força nem a mesma visão. E o terreno, que eles sempre conheceram tão bem, será radicalmente alterado pela presença dos novos visitantes, que se insinuam muito lentamente, fazendo crescer a curiosidade e o temor de Lok — e, em consequência, do leitor também. Com 216 páginas, o livro é da Editora Alfaguara.

 

As Sombras de Ontem

“Dizem que o dinheiro não muda ninguém, apenas desmascara; e é num mundo sem máscaras que as predileções humanas ficam mais claras”. Esta é a síntese de um romance em que dois narradores privilegiados se alternam para contar cada um a sua história. Um deles é Egydio, herdeiro de uma empresa de navegação, que cumpre pena em prisão domiciliar após ser flagrado por uma força-tarefa da Polícia Federal; a outra é Marilu, espécie de arrivista em busca da imagem perfeita, mergulhada num presente frenético e incerto. São personagens que não buscam a simpatia do leitor, pelo contrário. Mas seu encanto está justamente no que neles há de corrompido. É necessário considerar as nuances da escrita – a meio caminho entre a paródia e a crítica, procurando abarcar um contexto muito mais amplo, o do Brasil desse início de anos 2020 – para que se possa adentrar no coração desta que, sem dúvida, é uma das estreias literárias mais corrosivas e corajosas dos últimos anos. De Marcelo Vicintin, o livro tem 216 páginas e é da Editora Companhia das Letras.

 

Três Vezes ao Amanhecer

Um homem solitário conversa com uma mulher embriagada no saguão de um hotel; um porteiro idoso tenta convencer uma adolescente temperamental a abandonar seu namorado violento; uma policial de meia-idade decide levar um menino órfão à casa do homem que ama e que não vê há anos.  Em “Três Vezes ao Amanhecer”, Alessandro Baricco entrelaça com maestria as histórias de personagens que, à luz da alvorada, se deparam com a possibilidade de reconstruírem suas vidas. São relatos ágeis e envolventes sobre nossa busca constante por mudança, e sobre como as pessoas que encontramos podem iluminar nosso caminho em momentos decisivos. “Três Vezes ao Amanhecer” surgiu como um livro imaginário, mencionado no último romance escrito por Alessandro Baricco, “Mr. Gwyn”. Concluído o romance, o autor decidiu dar vida a estas histórias inusitadas, em que os caminhos dos personagens se cruzam em três momentos diferentes de suas vidas. Cada encontro é surpreendente e ocorre sob a luz ambígua do amanhecer; uma luz que revela a fragilidade dos personagens e, ao mesmo tempo, os convida a recomeçar do zero, a traçar o próprio destino. Com 112 páginas, o livro é da Editora Alfaguara.

 

No Café Existencialista

Paris, 1933. Três jovens amigos se encontram no bar Bec-de-Gaz na Rue Montparnasse. Eles são Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Raymond Aron, companheiro filósofo que abre seus olhos para uma nova e radical maneira de pensar. A partir de então, Sartre vai criar sua própria filosofia – do amor e do desejo, da liberdade, dos cafés e garçons, das amizades e do fervor revolucionário. Sarah Bakewell conta a história do existencialismo moderno como um encontro apaixonado entre pessoas, mentes e ideias. De Sartre e Simone de Beauvoir ao seu círculo mais amplo de amigos e adversários, incluindo Albert Camus, Martin Heidegger, Maurice Merleau-Ponty e Iris Murdoch, “No Café Existencialista” é uma agradável jornada pelas correntes políticas, artísticas e sociais que moldaram o movimento intelectual que fascinou Paris e percorreu o mundo – um modo de pensar que até hoje nos afeta profundamente. Com 416 páginas, o livro é da Editora Objetiva.

 

 

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