02 de novembro | 2015
Santa Casa fecha, não fecha, ou fecha?
Do Conselho Editorial
Desde que a Santa Casa voltou para as mãos dos politiqueiros que a antiga ladainha do vai fechar não vai fechar voltou a rondar os dias e noites da instituição.
A Santa Casa, como é de conhecimento de quase todos os cidadãos olimpienses, construída com o suor da população, de abnegados olimpienses que dedicavam parte de sua vida a fazer do interesse coletivo mote de suas vidas, de algum tempo vem servindo a apetites vorazes que a dominam para alavancar candidaturas.
A ideia de se atuar em prol da cidade e dos seus cidadãos ficou há muito perdida na noite dos tempos e se agarra à saudade que vagueia pelos corredores abandonados de sua função hospitalar do extinto Socorros Mútuos e da Beneficência Portuguesa, e cambaleia pelos vão e frinchas da Santa Casa que ameaça fechar portas e janelas ao mesmo tempo que promete sobreviver a todas as crises provocadas por mal gestores.
Há que se notar que a instituição ao longo dos anos foi e talvez continue sendo um feudo de alguns que juraram a hipócritas que só quem fosse da confraria freqüentaria e atenderia nos seus corredores, afastando dali, por reserva de mercado e corporativismo, todo aquele que prestou o juramento de Hipócrates e ali pretendia trabalhar.
Afastados os indesejados, aproximando-se dos políticos que onde se instalam destroem tudo como erva daninha, como tiririca em horta, a Santa Casa após seus anos de glória e brilho mantida pelos despojados que ali despejavam verbas de seu próprio patrimônio e contando com a generosidade da população, foi vivendo crises após crises até chegar na decadência que chegou.
Anos e anos de politicagem e em todo ano em que se aproximavam as eleições a Santa Casa pinçava um salvador que iria resolver de vez a sua conturbada e caótica situação econômica; passadas as eleições, conferido os votos, nem salvador nem salvação, a população que esperasse a salvação da próxima eleição.
E assim foi por anos, da mesma maneira que assim não foi por anos, provando que a presença de políticos e de estranhas confrarias e guetos e grupos de poder só deturpam e corrompem o cenário de prestação de serviço social aliando-o a obtenção de voto e manutenção do poder.
A provedora Helena de Souza Pereira, a moda dos antigos benfeitores, sem alinhamento com nenhum grupo político, imbuída apenas da boa intenção que motivou os fundadores daquela instituição, como eles, se aliou ao povo e conseguiu que a Santa Casa após anos e anos de discurso de fecha, não fecha, restituísse o brilho e a cor que ela havia perdido, além do respeito junto a comunidade local.
A Santa Casa goste ou não gostem os seus detratores viveu um dos seus melhores momentos conseguindo se destacar entre as Santas Casas de ponta do Estado, se colocando entre as 45 melhores.
Porém, os políticos que lá não conseguiam colocar seus apaniguados, que não conseguiam transformá-la em mais um cabide de empregos, se incomodaram com a falta do discurso do fecha não fecha, da falta de um salvador da pátria que traz verbas e mais verbas e a instituição está sempre, como um saco sem fundo a dever e a dever, e a dever.
Foi breve o período que a provedoria do hospital não foi ao rádio e aos jornais para anunciar a continuidade ou o fechamento da instituição, o poder político, entenda-se Geninho, através de seu vice Gustavo Pimenta intervém por recomendação do MP apenas a dois meses do final do mandato da provedora, para salvá-la, não se sabe até exatamente hoje do quê.
E tendo contornos claramente políticos, voltaram todas as questões que envolviam a Santa Casa, até a fala de Eugênio de que a UPA iria desafogar o hospital hoje soa como cinicamente despudorada, cruel e real, por que a Santa Casa está como se estivera abandonada pelo poder público sendo que a Upa nada mais é que um barracão que fornece um atendimento precário, visto que raras vezes seus equipamentos estão funcionando adequadamente, ou seu quadro de funcionários é suficiente para a demanda.
Em suma, deixaram um atendimento de qualidade na Santa Casa que custava sessenta mil reais por mês, setecentos e poucos mil ao ano para fazerem uso de uma Upa que custa muitas vezes mais que isto, coloque muitas nisto, para ter um serviço de qualidade discutível, e a Santa Casa por ironia, sofre por falta de verbas.
Se vai fechar ou se não vai fechar, não se sabe, não se pode garantir; o discurso, no entanto, é de desalento em relação a situação que o hospital voltou a viver.
Ou, pode se imaginar, que como na última eleição, foram vistos folhetins de deputados salvadores da Santa Casa pelas ruas, e o próprio provedor assumindo falas de que havia salvadores por lá, que como se avizinha as eleições municipais que estejam preparando discursos e foguetes que apontarão o novo Messias, que salvará a Santa Casa até o dia seguinte ao que o eleitor depositar o voto nas urnas.
E de salvação em salvação vai se vivendo até que se perceba o que há de diabólico neste discurso divino de que o diabo são sempre os outros.
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