24 de abril | 2016

PM matando e Santa Casa não salvando vidas. Você acha normal? 

Compartilhe:

Do Conselho Editorial

A vida ficou tão banalizada, tão desvalorizada que, ao invés de ser considerada como absurdo a aceitação da morte por parte da sociedade, que entende que conflitos devem ser resolvidos com violência, passou a ser entendido como normal e parte do cotidiano.

Estas semanas que findaram foram muito tristes para os que ainda insistem na melhoria das relações humanas, os que sonham com a paz e tem os pés firmemente enterrados na terra da justiça e da esperança.

Os que se comovem diante das perdas humanas se chocaram com a brutalidade e violência que resultou na morte de um rapaz pela Policia Militar.

Independente dos motivos apresentados pela PM, que não são diferentes de outros milhares em infelizes acontecimentos idênticos a este, o resultado morte choca, e a forma violenta como ela vêm sendo produzida nos redutos mais pobres da população deveria chocar mais ainda.

A visão de que a PM têm por alvo os esquecidos, os que não têm defesa e amparo do Estado, vem crescendo assustadoramente, chamando a atenção de organismos internacionais e tirando da Policia Militar o reconhecimento público que detinha antes, colocando-a entre as mais desacreditadas instituições em um país onde a maioria delas está envolta em corrupção e desvios de conduta.

A Santa Casa local, mais uma vez se vê em destaque negativo na mídia negativa por conta de um atendimento no mínimo condenável a uma grávida que, após longas horas de espera, perdeu o seu bebê em luta por vir à vida, segundo os pais, por possível negligência daquela instituição.

Não é a primeira e possivelmente não será a última em que se verá envolvida a Santa casa local sob o comando de Eugênio José e seus pupilos.

Aquela instituição, como a UPA, tem se colocado a serviço do descrédito desde que adotou a prática comum do Executivo local, seu parceiro e comandante oculto, quando opta pelas exageradas performances de marketing que jogam com a bijuteria, com  o “vitrinismo”, com a exposição de ações que na prática não se consumam por visarem apenas atingir o público externo e passar a falsa sensação de que tudo está indo bem. E não está.

E quando ocorre, como ocorreu, a morte de um bebê antes do seu nascimento, por possível falta de atendimento no período certo, a realidade vem à tona e comprova a incapacidade que a instituição tem para dar resolubilidade a questões simples como um parto, e deveria se perguntar à população que necessita dos serviços da instituição, como ela deve lidar com questões mais complexas, e não se pergunta, infelizmente.

Muito pelo contrário, e isto é emblemático e assustador, vem crescendo na sociedade como um todo, com raízes na cidade, elementos que não se pode chamar de cidadão que pensa, pois ao contrário de se indignar com situações no mínimo que remetem ao período das cavernas, tecem loas e tratam com normalidade e as vezes até aplau­dem ou justificam casos como o da morte do rapaz pela PM e o não nascimento da criança na Santa Casa.

Embora sejam questões distintas e a PM tenha ou esteja neste momento crítico vivendo o estigma de contar em seus quadros com defensores da justiça feita pelas próprias mãos, e a população esteja cansada da violência perpetrada pelos amigos do alheio, as duas questões se imbricam quando se trata de serem recepcionadas com naturalidade pela população.

Não pode e não deveria ser normal uma polícia, que tem por dever de oficio a defesa do cidadão de acordo com o que preconizam as leis, se colocar acima delas e se postar de policia, delegado, promotor e juiz, aplicando a pena de morte em número que choca países ditatoriais, em razão do número ser inconcebível em um país democrático.

E nem deveria a população, por mais cansada que esteja, se permitir entender que ações que culminam em morte na quantidade que vêm sendo concebida no Brasil, tolerar e aplaudir tamanho retrocesso em pleno terceiro milênio.

E o mesmo não poderia acontecer com a medicina que não é concebível que tenha avançado tanto pelo mundo afora e continue morrendo pessoas mais que no tempo das parteiras dentro de hospitais.

E há pessoas que aplaudem as mortes policiais e há gente que justifica mortes banais ocorridas em hospitais como se estas justificativas fossem de fácil entendimento em um mundo que prega evolução, evolução e evolução.

Coisas primárias que demonstram que as formas de atuação tanto da PM quanto a do hospital, e aqui não se faz valor de culpa ou inocência, estão distanciadas, fo­ra do foco de moder­ni­da­de que deveriam ter abraçado.

A cidade se pretende turística e as mentalidades parecem estarem congeladas desde a idade da pedra e ressuscitaram no século vinte e um sem ter compreensão de onde se encontra, e neste perdido endossa ações bárbaras e sem assento na visão que avança a passos largos na direção do futuro, com olhos passa­distas e de museu de bang-bang ou do filme “O Médico e o Monstro”.

Uma pena que seja assim, que as instituições estejam pela hora da morte e alguns seres humanos se desuma­ni­zam ao ponto de não interpretarem que algo está muito errado, errado demais, e que serão atingidos um dia por estes erros.

E entre balas e bisturis perceberão que estavam mortos por insensibilidade a vida e nasceram mortos por não compreenderem que o bem maior será sempre a vida e quando ela é tratada como descartável ou passível de ser aniquilada acabou-se a humanidade por falta total de humanismo.

É preciso resgatar esta sociedade doente antes que seja tarde demais. Quando se justifica a morte com argumentos banais não se está creditando valor à vida, e este estágio é de patologia grave.

A hora é de tentar salvar a sociedade desta loucura, que não é boa, que não é santa.

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas