04 de novembro | 2012

Cuidar da Saúde não é roubar universitários

Compartilhe:

Do Conselho Editorial
Olhando na internet, dando uma busca sem muita pretensão, observa-se muitos casos de estelionatários que se propõem a organizar a festa de final de ano de universitários que irão concluir o curso superior, e outros golpes.

 

Os universitários, por inocência, contratam o serviço daquele que irá organizar a festa que será de recepção da nova empreitada que irá se propor, aquele que durantes anos frequentou a faculdade e sonhou com o final do curso recebendo o canudo e festejando o resultado de seus esforços com amigos e familiares.
 

Ao final, no meio do sonho, do encantamento, da euforia, recebem a notícia de que um bandido, um estelionatário, o que recebeu dinheiro mês a mês para organizar a festa, deu um golpe: não há Buffett, som, bebidas, viagem, nada do que foi pago com sacrifício, tostão a tostão.
 

Um golpista dos mais vagabundos, simplesmente arrecada o dinheiro e dá sumiço nele. O caso, maioria das vezes vai parar na justiça ou não, e o que sobra, de acordo com quem já passou por isto, é angústia, decepção, desilusão.
 

E este relato vindo de um ex-universitário que teve a infelicidade de passar por este infortúnio causado um dia, no passado, por alguém que possivelmente posa de sério, mas traz em seu currículo esta mácula, fez um paralelo com a dor que experimentou pela decepção de não ter tido a festa de formatura e de despedida junto aos que o acompanharam nos anos de estudos, com situações dramáticas, grotescas e, surreais que se vive na saúde pública do Brasil.
 

Geralmente os gestores públicos estão, segundo a ótica do que expunha seus motivos, muito mais interessados em engordar a sua conta bancária, como o estelionatário do golpe nos universitários, que propriamente promover a festa da cidadania, razão pela qual, a possibilidade de se pensar em promover uma festa de arromba na saúde pública e culminar com hospitais sem médicos, leitos, remédios ou atendimentos passa a ser o cotidiano das cidades.
 

Os estudantes, seguindo o relato, se angustiam, choram descabelam, procuram soluções, alternativas para o problema, e ao final à sua criativa maneira, às vezes, encontram uma porta de saída para o problema que em nunca substituirá o programado, e noutras, sobra apenas a decepção da ausência da comemoração.
 

Transportada estas emoções para a seara da saúde, no entanto, a situação toma contornos de tragédia grega, pois a doença, de acordo com o observador, não tem data marcada para concluir seu curso, e como os acidentes podem ocorrer em qualquer momento do trajeto do cidadão na estrada longa da vida, esta se encurtará, ou poderá ser finda, se não houver quem recepcione com qualidade profissionalizada e atendimento médico de primeira.
 

Ao contrário das festas estudantis universitárias de conclusão de curso, não há como improvisar, ou buscar paliativos que diminuam o mal estar causado; o curso da vida tem seus fluxos e suas exigências para dar prosseguimento e não é esta fantástica aventura como um festejo que pode haver ou não haver: a vida só tem que haver.
 

E se falta, na hora principal, a acolhida de um hospital que abrigue profissionais competentes, equipamentos que funcionem de maneira adequada e medicamentos certos e exigidos, dependendo de cada caso, a reação não será idêntica a da festa a que faltou bufett, discurso, comida, vinho e som.
 

Na festa, estudantes sentam à beira da calçada e soluçam entristecidos pela perda de um momento que nunca mais será recuperado; pela interrupção do desfecho de uma história que comporia suas biografias; e restará dentro de cada um uma dolorida tristeza pelo que poderia ter sido e não foi.
 

No caso da saúde, restará muito mais para todo sempre: sobra aquilo que se pode tratar como a vestimenta inversa da festa, o negro luto e a dor; se choram estudantes pela perda do que não foi, na saúde chorarão familiares pelo que jamais voltará a ser.
 

Se resta aos estudantes, vez ou outras sombrias melancolias pelo trauma sofrido por uma festa que não aconteceu, sobrará aos parentes do que se foi por falta de tratamento adequado na saúde uma dor mais negra que a asa da graúna, que sobrevoará, dias e dias e noites e noites, a insônia daqueles que não esquecem a perda dos que foram deserdados pelo poder público na hora em que gritavam pela vida no corredor da morte de algum hospital, com cara e identidade de abandono, sem condição alguma de salvar a si mesmo, quanto mais um ser humano.
 

Não há razões mais precisas que estas extraídas das metáforas de um estudante que se sentiu lesado, e que se angustia e que se comove até hoje com o acontecimento que não se deu, e relata do fundo de sua alma esta experiência, traçando um paralelo e tentando explicitar aquilo para o qual nunca haverá explicação, quando ao final de sua explanação se pergunta sobre o tamanho da dor que sentiria vendo alguém amado morrer sem socorro por conta de uma saúde pública comandada por irresponsáveis mercantilistas, que se locupletam e querem enriquecer a custa da dor alheia e o Estado geralmente representado na figura de fanfarrões desonestos e corruptos, cujo perfil histórico em um país civilizado os conduziriam à prisão de segurança máxima.
 

E quando houver seriedade, honestidade no ator social, se houver um dia, de acordo com a metáfora do ex estudante enganado, tanto quanto o povo brasileiro, se aprenderá por fim, por consciência, e noção de civismo, que cuidar da saúde não é roubar universitários.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas