24 de março | 2013

Asfalto novo, cheio de buracos?

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Willian A. Zanolli

 Ando pelas ruas da cidade, a pé ou de fusca, os dois, com problemas, o pé e o fusca.

O pé, abalado, juntamente com a perninha e o braço do lado direito, por uma paralisia infantil lá pelos idos dos anos cinquenta e o fusca, paralisado, às vezes, por razões outras, também relacionadas pelos mesmos motivos, que iremos detalhar com calma.

O primeiro deles é vicio de origem, e um, deste que escreve, ao encontrar dificuldades ao se movimentar pelas ruas da cidade, se encontra exatamente no RAN ( registro antigo de nascimento) e as dificuldades de locomoção se relacionam com o tempo que este envelhecido cidadão teve para se banhar nas águas do rio Cachoei­rinha.

E o rio Cachoeirinha só entrou no texto para demonstrar a antiguidade do escritor já que o exercício esquecido da natação ou não mais permitido pelo atrofiamento dos músculos causado pela ociosidade, contam a seu favor a poluição do rio citado, que ocorreu há muitos anos atrás.

Poderia fosse o caso, citar lam­baris, piaus, traíras, tilápias, tiradas do Ólhos Dágua na varinha de bambu, quando ainda não cha­mavam o rio de Bosteiro.

Velho, o companheiro e o patrimônio histórico, não tomba este camarada e o fusquinha, que já merecia estar, se estivesse, como o dono, melhor conservado e mais bonitinho, no Museu do Automóvel.

Não estando no museu, e não estando tombado o histórico e jurássico dono, seguem ambos a rotina amarga que a vida lhes impõe, de viajante e viajor, de condutor e conduzido, pelos caminhos e descaminhos que são colocados no trajeto rotineiro e maçante da vida de um proletário.

Resta informar, que o fusca padece como o proprietário, de ter amarelecidos documentos que comprovam sua antiguidade e desatualizada existência, muito embora não mostre cansaço, rugas, pé de galinhas, ausência de cabelos, catarata, demonstrando o fato de outras maneiras tão visíveis quanto os que aparentemente mostram o dono des­preparado para combates físicos mais agressivos.

Nota-se pela lataria, sua pele, o estrago provocado pelos dias chuvosos e ensolarados, o motor, pulmão que tosse como o do dono, de forma combalida, também demonstra cansaço, pelo excesso de serenos e orgias.

E por ai vai o desmonte da máquina e do humano que a conduz, que vez em quando felizes com a cachorrinha Gabi no colo da Mônica, na janela, desfilam com solenidade juvenil pelas ruas esbu­racadas de Olímpia como se a vida que se renova a todo instante, fosse sempre, como é, até o dia que deixar de ser.

Para não cairmos, primeiramente, em caninos preconceitos, informamos, que a cadela Ginger, participa da família, contrária a personalidade da Gabi, que vai na janela, pensando que está em uma Land Rover, avessa a aparições públicas, Ginger se esparrama no não muito confortável banco de trás do fusca, e dali ri da miséria enriquecida da minha família Buscapé.

Segundo, necessário informar, que este pic-nic automotivo só se dá quando há os famosos “déiz” reais para a gasolina.

O fusca é generoso mas, como o dono, gosta de beber.

Preenchidos estes requisitos, depois que o Renato Recco, mecânico dos bons, confere uma bobina, troca uma peça e outra, vamos nós em festa pro mercado, radiante que nem criança que ganhou sorvete Pituquinha, fabricado pelo Olmos, e a felicidade só não é maior em razão de …

Tem sempre uma adversativa, um estraga festa, não há “hemor­roida” que aguente a quantidade de buracos que há no asfalto Genial, não há.

Tinha um buraco no assoalho do fusca do lado do motorista, fui no funileiro e mandei soldar uma lata com medo de uma hora meu “roscofe” zero bala desparafusar do final da coluna ao passar por um buraco destes que a catarata não deixa ver e ir parar em Saigon.

Haja buraco, e o pior é que nos impressos de campanha do prefeito genial reeleito está escrito que foram recapeados milhares de quilômetros de rua na cidade, inclusive a que eu resido e adjacências foram.

Só que muitas já estão intransitáveis, o que amplia o mito do serviço mal feito que vem sendo alvo de críticas desta administração, onde as obras já são inauguradas, fora algumas exceções, com cara de antigas.

E o asfalto promovido na cidade neste governo que muitos chamam de casca de ovo, se inclui nesta condição.

Ninguém merece, muito buraco, tudo bem que é período chuvoso, mas nada justifica o que eu, minha perninha prejudicada, meu fusca baleado, estamos passando para ir de um lugar a outro levando os cachorrinhos a tiracolo.

E não fosse o amor a eles eu diria que eu e meu fusca estamos velhos, é verdade, mas falar que tem asfalto novo em algumas ruas é “auauzada néé”.

Ou fizeram mal feito, ou fizeram meia boca, se tivessem feito como foram feitos eu e o fusca que me leva, teria resistido ao tempo e as intempéries como resistem o sinesifero e seu bólido.

Willian A. Zanolli é artista plástico e jornalista e achava que o buraco era mais embaixo, agora com tanto buraco, passou a não saber exatamente o que acha desta questão tão problemática onde buraco e dengue parecem coisas insolúveis.

 

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