18 de novembro | 2012

A festa do peão e a Santa Casa

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Do Conselho Editorial
Houve na semana passada a distribuição de panfletos convocando a população para discutir a situação da Santa Casa na Praça da Matriz no dia 10 de novembro, às 10 horas.

 

O manifesto na integra abordava os seguintes temas: Você sabia que a Santa Casa de Olímpia pode fechar? Esse ano você teve 27% de reajuste no seu salário? Os vereadores tiveram! Você paga ônibus para estudar fora? Muitas cidades vizinhas não!
 

Ao final conclamava a população: Tem como ficar sem fazer nada? Então se junte a nós … esclarecia a data e local deste possível ajuntamento, explicitado no início do texto.
 

Não havia exatidão no texto que convocava as pessoas, não se sabia exatamente qual seria a discussão que seria levada a efeito na Praça da Matriz, diante de outras intervenções que sugeria uma politização dos temas.
 

Porém, os organizadores do evento puxaram de gancho central da discussão a questão polêmica que envolve a Santa Casa de Misericórdia que economicamente respira por aparelhos.
 

Mesmo que incompreensível e desnecessária as outras demandas pelo conteúdo político que as envolve, caso do aumento do salário dos vereadores e falta de transporte para alunos universitários que estudam fora, levando-se em consideração o momento e o calor com que se está discutindo o único hospital que resta na cidade, era de se esperar um envolvimento da sociedade na manifestação.
 

Quem foi a praça pode perceber o alheamento com que os munícipes tratam destas questões que são sérias e que contribuem diretamente na falta de qualidade de vida, que deveria ser a preocupação do gestor público.
 

Não se pode dizer que tenha sido um fracasso a manifestação, muito menos que tenha sido bem sucedida, pode se atribuir a ela o desnudamento do quanto os membros da sociedade local estão distanciados da tentativa de busca de soluções para os problemas graves que os afligem.
 

O número pequeno de participantes talvez esteja, considerando-se algumas ausências provocadas por compromissos no horário que não permitiram que alguns cidadãos participativos estivessem lá, dentro daquilo que a cidade de Olímpia vivencia no tocante a ideia de participação comunitária, de civismo, de contribuição nas discussões que visem buscar alternativas e soluções.
 

Nesta e noutras manifestações ficou demonstrado o distanciamento, a alienação em relação à busca de harmonia e equilíbrio social que há por aqui; parece que cada um só discute sobre o próprio umbigo quando o mesmo for ameaçado.
 

Sim, quando algum parente não tem atendimento apropriado na Santa Casa e na UPA, o que passou a ser caso comum, o cidadão indignado trata a questão particular como se houvera só seus parentes no universo, o que também é muito comum por aqui.
 

Busca as emissoras de rádio, o jornal, e desabafa sua tragédia pessoal como se todo mundo fosse obrigado a compartilhar sua dor como se fora participe, integrante dela.
 

Chia anonimamente pelos blogs da vida, ameaça chamar a televisão, e mostra o caos da saúde pública local da forma como ele exatamente é, sem tirar nem por, quando tem médico, não tem remédio e ambulância, quanto tem ambulância falta médico e remédio.
 

Na hora de ir para as ruas e mostrar a face indignada contra as mazelas e desmandos que a falta de administração competente faz na sua vida, pensa no emprego, na retaliação, na perseguição, e em tantas outras desculpas, e se omite, deixando de fazer pressão, deixando de demonstrar que não são apenas uns gatos pingados que estão descontentes com as situações elencadas pelo movimento.
 

Quando se trata de festas, de rodeio, no entanto, todos estão lá com sua teatral e carnavalesca roupinha de peão, que demonstra o ridículo ponto a que pode chegar o ser humano: se fantasia daquilo que não é e não consegue tirar a máscara para ser o que deveria.
 

E a festa lota, nada contra, apenas espelha o vazio em que se encontra a humanidade, e contra este vazio não há muito que se fazer a não ser se manifestar para que o governo dê instrução de qualidade, educação de ponta, para que os cidadãos tenham exigências mais qualificadas.
 

Que a população possa entender que ao mesmo tempo em que prestigiam eventos festivos, embora pobres no conteúdo, como as festas de peão, em contrapartida cobrem do poder público direitos da mesma maneira que este poder público cobra deveres que são impostos a cada cidadão e que todos são obrigados a cumprir.
 

Direitos que estão explícitos na Constituição que reza que Saúde é direito do cidadão e dever do Estado, e que aqui onde o povo se ausenta do debate público e opta pela arena não está sendo cumprido.
 

Diante da constatação da indiferença popular, o que dita as regras, despreocupadamente dá ao povo, levando-se em conta a ausência no manifesto e a presença na festa, aquilo que parece que a maioria mais gosta, pão e circo.

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