28 de fevereiro | 2016

Moradores demonstram indignação e revolta pela violência da polícia local

Compartilhe:
 

As cenas vivenciadas por moradores da Rua 5, no Jardim Santa Ifigênia, na zona norte de Olímpia, no início da noite de terça-feira, dia 23, envolvendo as prisões de duas pessoas acusadas de tráfico de entorpecentes no bairro, provocaram muita indignação e revolta em razão da violência que presenciaram, principalmente na detenção de Tiago Henrique de Araújo, vulgo Tiago Beiço, que foi pego por uma gravata, ou seja, com o policial pegando com um braço pelo pescoço e apertando ao ponto de causar receio de um enforcamento.

A reportagem desta Folha da Região conversou na manhã de sexta-feira, 26, com alguns moradores daquela rua que manifestaram suas opiniões, claro que sem mostrar os nomes porque eles sentem receio. No entanto, as gravações estão guardadas com a editoria do jornal.

GJL, uma mulher que presenciou pelo menos parte da ação, conta que Tiago Beiço estava correndo da polícia porque “teve uma denúncia que ele estava com uma bermuda laranja e que ele estava traficando na Rua 7”.

“Começaram apertar ele (no pescoço) e o pessoal pediu para parar de enforcar ele. Aí os policiais não pararam. E ele já estava rendido nessa hora e os policiais mandaram o pessoal tomar no c…, chamavam o pessoal de desgraçados e que o pessoal não tinha nada a ver com isso. Mas o pessoal pediu para parar porque ele (policial) estava enforcando demais e o Tiago Beiço já estava até babando com a língua pra fora”, acrescentou.

Ainda de acordo com ela, em seguida os policiais começaram a jogar gás de pimenta e bomba provavelmente de lacrimogênio: “se eu não me engano teve até tiros, eu escutei”.

 

 

Outra mulher, GMLC, diz que não chegou a ver se Tiago já estava algemado: “eu não cheguei a ver não porque ele estava de costas para mim, por isso que eu não vi. Mas eu o vi no chão e o policial montado nas costas dele”.

“Eu fiquei apavorada porque dentro da minha casa ficou cheio de fumaça, tinha três crianças que estavam aqui. Inclusive corremos todos para avenida. Passamos muito mal porque foi horrível e achei que os policiais agiram muito errados”, reforçou.

TRÊS BOMBAS

Segundo ela, foram jogadas três bombas e a fumaça chegou até a Avenida Constitucionalistas de 32: “eu acho uma situação muito ridícula, porque eles não tinham a necessidade de terem feito isso. Porque nós não tínhamos nada a ver com isso e ainda levamos”.

Para CGSE “isso é um descaso com a população, não é porque a gente mora aqui no Santa Ifigênia que todo mundo é bandido, então se eles querem prender, então prenda, mas ajam conforme a lei. Não precisa abusar da lei que eles tem, e nem desrespeitar a população, porque nem todo mundo que mora aqui é bandido”.

SPJ conta que todos estavam na rua porque já era o horário que as crianças saem da escola quando começou a correria: “a gente foi falar para eles que não precisava fazer aquilo com o moleque, porque tinha crianças olhando”.

“Eu acho desnecessário o que fizeram porque não tinha necessidade, não tinha população tumultuando, não tinha nada. Agora, o tenente Vilela, eu acho que ele agiu contra a população, não tinha necessidade de fazer aquilo ali. Ninguém ficou contra eles. A única coisa que a gente queria é que eles respeitassem as crianças que estavam ali soltando pipa e eles saíram quebrando as linhas das crianças. Eu acho que isso foi abuso de poder”.

Um homem, que vamos identificar de SCM, questiona: “Porque quando você vai a UPA dar entrada lá, a UPA sempre faz um boletim de ocorrência. Porque eles não fizeram o boletim de ocorrência contras os policias lá? Isso ninguém está vendo, se você chega lá na UPA com um machucado eles querem saber de tudo. Aí chegando lá falando que foi a polícia e ninguém faz nada”.

E acrescentou: “A gente ligou até para os Direitos Humanos, mas ninguém deu atenção. Quando você fala que é um policial todo mundo vira as costas. Por quê? Porque não tem ninguém por nós, nós moramos no Santa Ifigênia e é julgado pelo que nós somos, todo mundo aqui é bandido para eles”.

Violência policial vira mais uma polêmica no Facebook

A violência protagoni­za­da por policiais militares registrada no início da noite em uma das ruas do Jardim Santa Ifigênia, na zona norte de Olímpia, acabou virando mais uma grande polêmica em uma página de relacionamento pessoal do Facebook. Além de um vídeo mostrando parte do que aconteceu que até a tarde de sexta-feira, 26, havia sido compartilhado por 73 internautas, com 15 comentários e 65 curtidas.

No vídeo, enquanto um policial aplica uma gravata em Tiago Beiço – golpe com um braço em volta do pescoço – que estava sendo detido sob uma suspeita de envolvimento com o tráfico de entorpecentes no bairro se ouve uma voz feminina dizendo: “Não faz isso não, fio. O moleque está ficando roxo. Não precisa fazer isso daí”.

Em seguida, um dos policiais teria tentado retirar a câmera das mãos da mulher. Pode se ouvir uma voz masculina praticamente aos gritos e bastante rígida e a mulher avisando: “estou filmando. Eu estou grávida”.

Após a voz da mulher pode-se ouvir um barulho que parece ser uma pancada e a mulher avisando novamente, mas em tom mais alto: “ó, eu estou grávida”.

Após a explosão de uma bomba provavelmente de gás lacrimogêneo, aparece a mulher já gritando e avisando que há crianças na casa: “tem criança. Não pode fazer isso, não”.

Na maioria, os comentários contêm fortes xinga­mentos contra os policiais militares. Depois de também xingar, um internauta observou: “sabe que tem criança ou, se não um idoso que tem problema, e faz essa graça”. Outro acrescentou: “A ponto de machucar uma pessoa aí ou uma criança. Essa rua ai fica cheia de crianças”.

Em uma observação, outra pessoa postou: “Varias crianças passaram mal. Não respeitam ninguém esses policiais” e soltou um palavrão. Uma internauta reclamou: “maior abuso de poder, isso tem que acabar. Ca­dê os direitos humanos?”.


Clique abaixo de ouça as gravações dos entrevistados com nomes fictícios para evitar represálias.  

SR. M.

DONA DE CASA SC.

JS DONA DE CASA.

DONA LG QUE TEVE QUE SER ATENDIDA NA UPA.

FAXINEIRA J.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas