23 de fevereiro | 2014

CDHU faz entrega de casas com defeitos e problemas estruturais

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Assim como ocorreu tempos atrás com os mutuários do Jardim Village Morada Verde, na zona leste de Olímpia, obra construída com recursos do Governo Federal, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que é vinculada ao governo do Estado de São Paulo, entregou casas com defeitos e problemas estruturais a 109 novos mutuários do Jardim Augusto Zangirolami, conhecido popularmente por CDHU III, na zona norte da cidade.

Entre os problemas estruturais há vazamento de esgoto, aterro irregular em muros, entrada de energia elétrica irregular, fiação interna inadequada, esquadrias de alumínio de qualidade duvidosa, falhas nos encanamentos e defeitos no acabamento. Sem contar que não receberam os imóveis com hidrômetros e o aquecedor solar, equipamento bastante decantado pelo prefeito Eugênio José Zuliani.

A dona de casa Marlene Apa­recida Landi, que mora há quatro meses no bairro, ou seja, desde que inaugurou, encontrou a casa cheia de problemas estruturais: “A janela e o vitro não fecham e com essa situação que estamos passando não podemos sair de casa porque as pessoas estão invadindo e roubando tanto de dia quanto de noite”.

As casas foram entregues com canos estourados e vazamentos. Esse foi um dos problemas encontrados pela dona de casa Marlene Aparecida Landi. No caso dela teve de pagar um pedreiro para arrumar e tirar o vazamento de água. “Todos tiveram que desembolsar um pouco de dinheiro para ter uma casa para morar com mais dignidade”.

FIAÇÃO INADEQUADA

A balconista Vanessa Aparecida Rodrigues do Amaral reclama da fiação interna da casa: “A fiação é muito fina. Está dando choque no chuveiro. É perigoso dar um curto-circuito. Se ficar muito tempo no chuveiro ou ligar alguma coisa ao mesmo tempo desliga a rede elétrica”.

Vanessa conta que já teve de trocar três chuveiros somente no mês de fevereiro: “Queima um chuveiro atrás do outro. Se você colocar um “T” (adaptador de tomadas) e colocar duas tomadas, a tomada não aguenta e derrete”. “Meu postinho (entrada de energia) está irregular. Falaram que ia trocar, mas não trocaram”, acrescenta.

Além disso tudo, não foi cumprida a promessa de instalação de um aquecedor solar nas casas da última remessa construída no bairro. “Falaram que ia colocar aquecedor solar e não colocaram até agora. A gente está esperando uma resposta”.

O aquecedor solar, embora conste no contrato das casas, ainda não foi instalado. “Só está no documento”. “Eu queria que eles tivessem um pouquinho de consideração para os pobres. Foi uma alegria conseguir a casa que nós temos e sair do aluguel”, avisa.

Os problemas com a energia elétrica foram vivencia­dos também pela dona de casa Priscila Perpétua Rocha: “Quando pegamos a chave ficamos um mês sem energia elétrica. Sem iluminação na rua”.

Não havia energia no bairro e nem as ligações para o interior das casas. No caso da rua, principalmente, tiveram de ameaçar chamar a TV Tem para que a CPFL fizesse a ligação.

Priscila também teve problemas de vazamento de água no banheiro. Tentaram arrumar em quatro oportunidades, mas não deu certo: “Está lá o vazamento. Tive de chamar um encanador para ver o que está acontecendo”.

Segundo ela, a última conta de água chegou a R$ 80 e não tem quintal para lavar porque não tem nada concretado. Já a aposentada Amazília Ramos afirma que não pode ligar o chuveiro que leva choque e que o tanque está solto.

Famílias não deixam as casas sozinhas por falta de segurança

Aliada a problemas estruturais das casas, a falta de segurança pública, ou seja, de policiamento preventivo também é uma das preocupações dos moradores da parte nova do Jardim Augusto Zangirolami, conhecido popularmente por CDHU III, na zona norte de Olímpia. Por isso, as famílias não deixam as casas sozinhas temendo o que podem não encontrar quando retornam.

Para a balconista Vanessa Aparecida Rodrigues do Amaral outro problema é a insegurança que predomina no bairro. Ninguém pode deixar a casa sozinha. “Um sai e outro fica. Tem que ficar um em casa e outro sair ou então pedir ao vizinho para tomar conta”.

“Falta segurança nas janelas. Não tem segurança nenhuma. Inclusive, a casa da vizinha foi arrancada a grade, entraram e roubaram notebook, tablete, play station do filho dela”, acrescentou.

A reclamação também é da dona de casa Priscila Perpétua Rocha: “Eu já liguei na delegacia pedindo uma ronda policial. Chega 10 horas da noite aqui você não tem sossego. De dia é a mesma coisa. Você vai sair pra trabalhar e não tem sossego. Sai com o coração na mão de saber a hora de voltar para casa e ver sua casa arrombada”.

“Aqui tudo foi esquecido. Já que o engenheiro se preocupa de fazer um puxadinho, porque não se preocupou de por iluminação e fazer uma praça aqui embaixo. Está um matagal. Porque ele não se preocupou com isso”, acrescenta.
 

Ela reclama também da falta de uma ronda de prevenção: “Devia fazer uma ronda policial. Faz quatro meses que estamos aqui e não vi um policial passando”.

Quem também reclama desse problema é a dona de casa Ormezinda de Souza Silva: “Segurança nenhuma. É roubo todo dia. De noite a gente não dorme por causa do barulho na rua. Não vê policiamento na rua e a gente está pagando guarda para ter um pouco mais de segurança. A gente sai de casa e volta sem saber se vai achar a casa inteira”.

Ainda sobre a falta de segurança em relação à mata que há ao lado do bairro, ela acrescenta: “É muito feio à noite. Você só vê a molecada usando droga. É muito complicado porque não tem iluminação”.

De acordo com a dona de casa Marlene Aparecida Landi os ladrões ficam a vontade no bairro: “Eles investigam de dia pra poder agir à noite. Acho que nosso sonho foi realizado, só que as casas não têm segurança nenhuma. Tem que colocar um pedaço de madeira para segurar a janela”.

Marlene Aparecida Landi conta que “não tem segurança. Um vizinho cuida do outro porque aqui está demais mesmo. Estamos aqui isolados. Precisamos tirar dinheiro da garganta para pagar guarda para fazer ronda. Mas enquanto ele está de um lado o ladrão já está roubando do outro. Então, queríamos um pouco mais de dignidade e não estamos vendo isso”.

A falta de um muro é um dos problemas apresentados pela aposentada Amazília Ramos, que mora de esquina e ao lado da tal mata: “Nós não temos segurança nenhuma. Não tem condições de viver aqui”.

Fiscal não dá trégua e multa construção de “puxadinhos”

Mesmo com  todos os problemas relatados os moradores das 109 novas casas do Jardim Augusto Zangirolami, conhecido popularmente por CDHU III, na zona norte da cidade, reclamam mesmo é do sufoco que estão passando por causa de uma ação de fiscalização da Prefeitura Municipal de Olímpia.

Pelas reclamações o que se entende é que pelo menos um fiscal, não se sabe se da Secretaria Municipal de Obras e Serviços ou se da Secretaria Municipal de Finanças, que segundo consta é a responsável pelo setor, não dá trégua e tem multado muitos moradores.

De acordo com o que os moradores informam esse fiscal tem notificado e multado logo no início, a construção de qualquer puxa­dinho, cujo serviço não esteja autorizado, ou seja, sem que apresentem um planta realizada por um engenheiro e já registrada na Prefeitura.

Ao falar de puxadinhos, a dona de casa Marlene Aparecida Landi lembra que no dia da assinatura do contrato um engenheiro da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) autorizou a construção dos mesmos, desde que não mexessem na parte estrutural da casa para não perderem o seguro.

Também segundo ela, no dia da entrega das chaves o prefeito Eugênio José Zuliani discursou e confirmou a autorização. Ocorre que ela ganhou um puxadinho e agora está enfrentando problemas: “Nós fizemos e para nossa grande surpresa esse sonho se tornou um pesadelo. Foi uma bomba na nossa cabeça”.

CAUSANDO REVOLTA

Em seguida ela explicou o motivo da desesperança: chegou uma notificação com prazo de um mês para pagar R$ 600 ao engenheiro e, depois, chegou a multa ainda maior: “Não temos de onde tirar e nesses dias veio a multa de R$ 1.500,11 para pagar até o mês que vem. Queria saber o que significa. Foi feito para os pobres ou para os ricos. A revolta nossa é essa”.

A questão levou a balconista Vanessa Aparecida Rodrigues do Amaral a desistir de fazer o seu puxadinho: “Até agora, é só multa. Eu ia fazer uma área de serviço para lavar roupa porque estou toda queimada e tenho problema de pele, mas não posso fazer porque não posso pagar o engenheiro”.

Essa é também a reclamação da dona de casa Priscila Perpétua Rocha: não poder fazer ao menos um puxadinho sem ter uma autorização de um engenheiro. Mas conta que não era essa a informação oficial quando foi assinar o contrato. “O prefeito falou que podia fazer”, acrescenta.

Segundo a dona de casa Ormezinda de Souza Silva, ela teve de arrumar um engenheiro e pagar R$ 600 para poder fazer um cômodo no fundo e cobrir a frente: “Um dinheiro que a gente não esperava que ia ter que gastar porque antes você aumentava a casa, ai a Prefeitura vinha, media e colocava no imposto (IPTU). Agora, tem que pagar engenheiro”.

A situação, segundo ela “é muito difícil e ruim porque tem muitos que não têm como arrumar um engenheiro. Antes a Prefeitura tinha um e agora não tem. É complicado”.

A fiscalização e, consequente cobrança da Prefeitura fez a aposentada Amazília Ramos desistir de ter ao menos uma cobertura para lavar roupa embaixo porque não pode construir um puxadinho. “Porque muitos já foram multados aí”, finaliza.

Prestações já tiveram aumento de até 37%

Não bastassem os problemas estruturais que restaram nas 109 casas entregues no Jardim Augus­to Zangirolami, conhecido popularmente CDHU III, na zona norte de Olímpia, os moradores estão enfrentando dificuldades com os valores das prestações que têm de pagar mensalmente. Em quatro meses os valores que pagam já aumentaram até 37%.

Esse é o caso da dona de casa Marlene Aparecida Landi. Na casa mora ela e o marido, ele aposentado por invalidez e muito doente. Ela também com problemas de saúde aguardando sair sua aposentadoria por invalidez. O casal vive com apenas R$ 722 por mês que recebe o marido.

O caso de Marlene Aparecida Landi foi o maior reajuste encontrado pela reportagem que esteve no local na manhã desta sexta-feira, dia 21. Desde que entrou na casa em novembro, o valor da prestação subiu de R$ 108 para R$ 148, o equivalente a 37%.

A balconista Vanessa Aparecida Rodrigues do Amaral, também se assusta com o que vê: “A prestação da casa eles falaram que ia subir R$ 2 a R$ 3 anualmente e não foi isso”. No entanto, segundo informou, em dezembro ela pagou R$ 492,29 e janeiro R$ 505,00.

Entretanto, ainda não sabe o valor que pagará em fevereiro porque ainda não recebeu o boleto porque, segundo ela, o Correio não atende no local. “Ele falou que não tem funcionários para passar entregando as cartas aqui”.

A dona de casa Priscila Perpétua Rocha também reclama do aumento da prestação. Ela diz que começou pagando R$ 134 e já chegou a R$ 160: “Aumentou R$ 30 e pelo que eu saiba ia ser só R$ 134”. Disse à reportagem que já manteve contato com a CDHU, mas não obtém resposta.

Outra dona de casa que questiona o valor é Ormezinda de Souza Silva, cuja prestação subiu de R$ 195 para R$ 220: “Eles falaram que ia subir conforme subisse o salário. Isso é o que foi falado”.

Mas a prestação da aposentada Amazília Ramos que reside numa casa apenas com a companhia de um neto, também teve o valor reajustado num curto período de tempo. No caso dela a prestação subiu de R$ 121 para R$ 150.

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