17 de abril | 2023

“Pintadas” é protagonizada por três jovens indígenas

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Trama traz à tona reflexões sobre preservação da natureza e violência contra a mulher 

“Histórias Impossíveis” conecta aspirações de jovens a lutas dos povos originários em “Falas da Terra”, no episódio “Pintadas” / Manoella Mello-RG

“Pintadas” é protagonizada por atrizes indígenas. Ellie Makuxi, Isabela Santana e Dandara Queiroz interpretam Laura, Michele e Josy, respectivamente / Manoella Mello-RG

De origens distintas e com visões de mundo diferentes, Luara (Ellie Makuxi) está de volta à sua terra com a melhor amiga da faculdade, Michele (Isabela Santana), depois de passar anos fora, estudando. O retorno visa apoiar a parente rapper, Josy (Dandara Queiroz), com seu trabalho na música. Mas, ao chegar ao local da gravação as jovens se deparam com a degradação da natureza / Manoella Mello-RG

A novela “Terra e Paixão” terá no núcleo “Guató”, a representação dos povos originários. Os artistas indígenas Mapu Huni Kui e Daniel Munduruku interpretaram Raoni e o cacique Jurecê, respectivamente / João Miguel Jr-RG

A novela “Terra e Paixão” terá no núcleo “Guató”, a representação dos povos originários. Os artistas indígenas Mapu Huni Kui e Daniel Munduruku interpretaram Raoni e o cacique Jurecê, respectivamente / João Miguel Jr-RG

E tem programa bom para ver nesta segunda, logo após o “BBB 23”, na telinha da Globo. Na semana do “Dia dos Povos Indígenas”, a emissora apresenta em “Falas da Terra” de “Histórias Impossíveis”, o episódio “Pintadas”, protagonizado por três jovens indígenas.

Composta por tramas ficcionais de suspense criadas a partir de medos femininos, a antologia “Histórias Impossíveis” é apresentada no projeto “Falas”. Criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, com direção artística de Luisa Lima, a obra se destaca pela diversidade tanto na frente das câmeras quanto nos bastidores. Em “Pintadas”, as autoras e Luísa convidaram roteiristas, consultoras sensíveis aos temas tratados nos episódios. Juntam-se ao olhar cuidadoso de Luísa as diretoras Thereza de Medicis e Graciela Guarani, que estreiam assinando a direção de um projeto na TV. Já na sala de roteiro, somam-se às autoras as roteiristas Thais Fujinaga, Hela Santana e Renata Tupinambá, além de Graciela Guarani, para que os elementos e linguagem da cultura indígena (em especial a do povo Guarani-Kaiowá, que dá base para a história), estivessem devidamente representados.

O projeto convida o público ao diálogo sobre tópicos atuais e importantes para a sociedade através da linguagem do mistério e da fantasia, com enredos que possibilitam múltiplas interpretações e provocam a reflexão. Em “Pintadas”, ao longo do episódio, memórias ligadas à violência no passado das protagonistas trazem essa questão à tona. “Este episódio traz um ponto, ainda que sutil em sua abordagem, mas muito pertinente em se discutir. Falar de violências contra a mulher já é algo que a sociedade vem discutindo exaustivamente e com razão, porém, esta discussão foge ou se cala quando os corpos que sofrem estas violências não são corpos brancos. O corpo da mulher indígena vem sendo violado historicamente, por uma herança colonial”, reflete Graciela Guarani.

Preservação do meio ambiente, violência contra a mulher e ancestralidade são algumas das temáticas presentes na narrativa de “Pintadas”. Luara (Ellie Makuxi), Josy (Dandara Queiroz) e Michele (Isabela Santana) se encontram no Mato Grosso do Sul para gravação de um videoclipe de rap na floresta e, quando se veem diante de uma natureza destruída, são impactadas por uma série de acontecimentos fantásticos que as levarão a um mergulho na ancestralidade de seus povos.

De origens distintas e com visões de mundo diferentes, Luara está de volta à sua terra com a melhor amiga da faculdade, Michele, depois de passar anos fora, estudando. O retorno visa apoiar a parente rapper, Josy, com seu trabalho na música. Mas, ao chegar ao local da gravação, que remete à memória afetiva de Josy e Luara, as jovens se deparam com a degradação da natureza. Frente a um cenário destruído, elas precisam encontrar uma nova solução para a filmagem, mas, no caminho, acabam por enfrentar desafios que as levam a encontros e desencontros com seus próprios medos, identidades e histórias.

O elenco é um diferencial do episódio: estreantes, as jovens atrizes indígenas têm raízes nos povos originários Makuxi, em Roraima (Ellie Makuxi), Mato Grosso do Sul (Dandara Queiroz) e Pataxó do Sul da Bahia (Isabela Santana). As três passaram por um processo de seleção e preparação, conectando suas emoções às das personagens.

“Os povos indígenas existem, e a gente tem voz. Eu espero que o nosso episódio traga essa amplitude. A gente existe e resiste. E eu me sinto muito feliz por poder ser referência para outras meninas e representar o meu povo, que os meus traços também estejam presentes na televisão e várias garotinhas possam me assistir”, comemora Ellie Makuxi.
Dandara Queiroz, que há três anos mora em São Paulo, fala do momento oportuno para que a história seja exibida: “Acho muito importante levar essa pauta. Além da curiosidade que vai te prender para ver, são novas perspectivas, linguagem, que têm a ver com a inovação. Me senti como quando a gente senta em volta da fogueira e escuta o cacique contar as histórias, os contos, estamos escutando e aprendendo, desenvolvendo nosso autoconhecimento e tendo acesso a uma sabedoria grande.

“A gente tem mais de 300 povos no Brasil, mais de 250 línguas, e cada indivíduo dentro do povo possui uma história e uma personalidade diferente. Tudo isso compõe essa etnogênese da identidade. É uma oportunidade de mostrar que somos humanos: temos sonhos, amamos, choramos, dançamos, criamos, rimos. Avalio esse momento como uma oportunidade de transformar as nossas narrativas e de causar transformação”, completa Isabela Santana.

“Nossas três protagonistas têm praticamente a mesma idade, se uniram em torno de um propósito comum e, no entanto, veem a vida sob uma perspectiva própria. Elas refletem sobre as violências do mundo e sobre as suas próprias dores. Aqui, o fantástico não é vetor do medo, mas de cura”, pontua a roteirista Thais Fujinaga.

Novela “Terra e Paixão” terá núcleo dos povos originários

Walcyr Carrasco, em “Terra e Paixão”, quer valorizar os povos originários no núcleo da etnia Guató. Durante a trama, a trajetória de Aline (Barbara Reis) e de outros personagens irão se cruzar com a desse povo indígena. Segundo o autor, os indígenas trarão a memória de seu povo, suas histórias, suas lendas, seus cultos e a conexão com outros povos abrigados na floresta, que também perderam suas terras e, muitas vezes, sua identidade. Os atores indígenas Daniel Munduruku, Mapu Huni Kui, Suyane Moreira e Rafaela Cocal fazem parte do elenco da novela que substituirá “Travessia”, a partir de maio.

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