08 de maio | 2022

Vírus da imbecilidade pode ser pior que o da Covid

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“Desde a Grécia antiga, onde poucos eram os cidadãos e,
como hoje, a maioria era escrava, que se prega a educação reflexiva
como única forma de se transformar os bípedes que falam em
seres humanos.  De lá para cá, mudou apenas o cenário,
90% destes seres não sabem nem o que significa
a palavra reflexão”.

Mestre Baba Zen Aranes

NÃO FIQUE …

… bravo (a), nem nervoso (a) só de ler o título da coluna de hoje. Antes leia o que está escrito e, ao depois, pode xingar à vontade. Este colunista tem o couro duro e está armado do antídoto contra qualquer maledicência. Tirou o ódio do coração e entrou fundo na prática para ver se consegue praticar o principal ensinamento do filósofo Jesus que é o amor incondicional, de forma geral.

ISTO PORQUE …

… de forma específica, o maior exemplo da existência dele é o que é sentido principalmente pelas mães que dão a vida pelos seus filhos. No entanto, o que Jesus queria era que se amasse o próximo de forma incondicional, não apenas os filhos, não só os mais próximos, mas todos e todas, uns aos outros, indistintamente.

CONFESSO …

… que, além dele, foram poucos os que conseguiram ficar próximos do estágio que Ele chegou. Estou engatinhando e, antes de deixar este mundo, quero me aproximar o máximo possível. E já cheguei a um ponto importante: consegui extirpar o ódio do coração. Não convivo mais com aquela sensação de vazio, de dor que sentia no peito quando era colocado em xeque, quando partia para enfrentamento de outrem. Pelo menos nos últimos anos.

 

“Há muitos sabichões por aí. Diplomados
no senso comum e doutorados no “Zap”,
muitos concidadãos discordam da verdade clara,
negam conceitos pacíficos, apelam para a agressão,
para a mitomania, para a crença em tudo que possa
confirmar seus achismos, suas ilusões,
suas miopias. O que fazer?”.
Washington Paracatu

 

O COMEÇO …

… de tudo, fica a dica, pode ser tentar praticar o que diz aquela célebre palavra que foi tão acalentada nesta pandemia: empatia.

MAS, …

… voltando ao tema, que pode despertar em você, justamente o efeito contrário, vou tentar resumir três textos que tive o prazer de digerir nos últimos dias.

O PRIMEIRO …

… foi o do sociólogo italiano Domenico de Masi, que diz ter constatado o rebaixamento da inteligência coletiva brasileira, que foi publicado recentemente na página da internet www.viladeutopia.com.br.

ELE COMEÇA …

… afirmando com todas as letras que houve uma redução da inteligência coletiva do Brasil, durante os últimos anos, principalmente durante a pandemia e culpa o presidente Bolsonaro por ter se comportado como uma criança, de um jeito maluco, conseguindo impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. E diz: “Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido”.

E ARGUMENTA …

.. que é fácil entender por quê. “Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades”.

DOMENICO …

… complementa que “Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo. Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido”.

“É MUITA REGRESSÃO …

… e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade. É muita luta para não emburrecer”, diz ele.

O REMÉDIO …

…  prescrito pelo sociólogo é manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar.

DOMÊNICO CONCLUI …

… que a cultura competitiva, que estabelece, com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entre nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.

OUTRA LEITURA …

… que é interessante destacar, foi um artigo do Professor de Língua Portuguesa e Redação, Washington Paracatu, publicado no Diário da Região do último dia 02 de maio, com o título “Dissonância cognitiva ameaça a todos nós”.

O PROFESSOR …

… se remete à frase de Galileu Galilei para iniciar seu artigo: “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar”. Com essas palavras, Galileu Galilei, perseguido pela Inquisição e condenado a desdizer o heliocentrismo (sol no centro do universo) hoje comprovado pela ciência, explica uma característica conhecida da raça humana: a habilidade irritante e perigosa que alguns demonstram para discordar da ciência, da razão, da ética e da justiça mesmo sem dominar o tema e sem procurar tal domínio”.

E PERGUNTA: …
… “A fonte dessas pessoas? Vozes da cabeça, fanatismo ideológico, ignorância desejada e dissonância cognitiva. O que fazer quando o interlocutor, mesmo errado, abraça uma verdade infame e a defende com agressividade por ser incapaz de refutar fatos e argumentos?”

PARA APROFUNDAR …

… a discussão, Porecatu, cita um estudo de professores americanos e chega à conclusão que “É triste pensar na contradição: pessoas com pouco conhecimento sobre um assunto (chamadas pelo filósofo Umberto Eco de imbecis) se sentem mais confiantes em defender um ponto de vista. “Seria a vitória da ignorância, a morte da erudição – a cultura acumulada?”, pergunta.

E RESPONDE: …

… que de acordo com a teoria da dissonância cognitiva de Leon Festinger, os indivíduos passam por experiências conflitantes ao decidir entre alternativas discrepantes, diferentes, escolhendo a opção mais prazerosa e recompensadora. “Por exemplo, mesmo sabendo que o uso indevido de recursos naturais prejudica o ambiente, no fim do dia, as pessoas se comportam de uma forma incoerente. Até possuem atitudes positivas em relação ao meio ambiente, mas não conseguem agir na defesa das políticas ambientais. Comem muito, gastam demais, acreditam em mentirosos. A ilusão é doce e atraente”.

O PROFESSOR …

… afirma e pergunta: “Vivemos tempos difíceis para a razão, para o ensino, para o jornalismo. Tempos difíceis para medicina, ciências jurídicas, história, geografia. Até para o artesanato, para o plantio de cebolinha, para o cultivo de orquídeas. Há muitos sabichões por aí. Diplomados no senso comum e doutorados no “Zap”, muitos concidadãos discordam da verdade clara, negam conceitos pacíficos, apelam para a agressão, para a mitomania, para a crença em tudo que possa confirmar seus achismos, suas ilusões, suas miopias. O que fazer?”

MAS, QUANDO …

… este colunista já estava contente por encontrar pessoas que também refletem sobre os mesmos temas que ele, começa a ler o artigo “Todo o conhecimento do mundo”, do também professor e colunista da Folha, Rodrigo Zeidan, que já começa tascando uma visão um pouco mais positivista:

“Viver em 2022 é difícil sob muitos aspectos, ainda mais com um governo negacionista no poder, mas nada vai mudar o fato de que nunca foi tão fácil aprender. Enquanto alguém tiver curiosidade intelectual, a vida sempre vai valer a pena”, afirmou.

E complementou: “Os livros de ficção científica mentiram para nós. Não temos carros que voam nem podemos ir para Marte passear em um fim de semana. Mas temos algo muito melhor: temos todo o conhecimento do mundo na palma das nossas mãos, para usarmos como quiser. Vivemos na era da abundância da informação”.

Zeiden argumenta: “Estudos históricos sobre clássicos gregos? Está na internet. Poesia africana da década de 1950? Também. Vídeos com análises de cada grande artista de quadrinhos dos últimos cem anos? Séries sobre bebês japoneses que vão fazer compras sozinhos? Há uma explosão de informação que deveria nos deixar extasiados por poder aprender sobre tudo que quisermos, no nível de detalhe que desejarmos. E fica melhor. Podemos consumir conteúdos escritos, narrados, dramatizados e até criados automaticamente por inteligências artificiais”.

“ANTES, …
… dominar um assunto, mesmo que sem profundidade de um pesquisador, requeria um esforço monstruoso em tempo e dinheiro. Hoje, para qualquer nível de aprofundamento que se queira, há infinitas opções. Paradoxalmente, o problema é filtrar o excesso de informações, já que o que não falta são sites e vídeos com produções canhestras”, explica Zeidan.

E COMPLEMENTA: …

… “Poucos encaram um domingo à tarde como uma chance prazerosa de entrar em um turbilhão de informações sobre algum assunto específico. Não, muita gente prefere ir para a internet entrar em tretas sem sentido ou consumindo informações cheias de viés da confirmação”.

O COLUNISTA DA FOLHA …

… conclui: “Meu objetivo com esse artigo não é gerar culpa. Nem ansiedade. Também não é dar lições de moral. É só um convite. Temos, a alguns cliques de distância, praticamente todo o conhecimento explícito gerado pela humanidade. Paro por aqui, pois é hora de ouvir sobre Vijayanagara, os últimos imperadores do sul da Índia. Vamos?”.

José Salamargo, extasiado por ter sido lembrado que existe vida dentro da própria internet, fora das redes sociais e dos zaps (lavadores cerebrais). E muita vida inteligente. Mas, por outro lado, lamenta e expressa que seu desejo era que o sociólogo Domenico de Masi estivesse totalmente errado e o professor Porecatu não tivesse sido obrigado a citar a classificação de Imbecil para a maioria da população feita por Humberto Eco. Que bom se todos usassem o cérebro da forma apontada pelo Rodrigo Zeidan em seu artigo na Folha de São Paulo. Parodiando a frase massificada pelo nosso frei padre filósofo Lucas Lisi: Paz e Bem.

 

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