17 de abril | 2016

Violenta e sem comando Polícia Militar fez, infelizmente, o que estava previsto

Compartilhe:

Do Conselho Editorial

 Não adianta gritar que se está aqui a defender direitos dos manos, ou fazendo a defesa de bandidos, muito menos alegar que o combate a criminalidade exige às vezes o uso da força excessiva.

Adianta menos ainda invocar o passado ou ficha corrida do morto para endossar violência arbitrária, que passou a ser lugar comum na Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Nada disto pode convencer quem tem um mínimo de sensatez ou normalidade para encarar os fatos de frente, nada disto pode ser considerado rotineiro e comum, quando não era até bem pouco tempo.

Não há dúvidas de que há e está instalada no seio da Polícia Militar uma política de extremismo e de violência levada a efeito contra as classes menos favorecidas no Brasil inteiro.

Pobre, preto e puta sempre foram alvos da Polícia Militar desde sua fundação, faz parte de seu histórico de criação.

Em 1808 foi criada a Intendência-Geral de Polícia da Corte, com as tarefas de zelar pelo abastecimento da Capital (Rio de Janeiro) e de manutenção da ordem.

 Entre suas atribuições incluíam-se a investigação dos crimes e a captura dos criminosos, principalmente escravos fujões.

 O intendente-geral de polícia ocupava o cargo de desembargador e seus poderes eram bastante amplos.

Além da autoridade para prender, podia também julgar e punir aquelas pessoas acusadas de delitos menores.

Mais do que as funções de polícia judiciária, o intendente-geral era um juiz com funções de polícia, Costa (2004).

A história da Polícia brasileira é marcada por uma herança escravocrata, clientelista e autoritária, o que se pode observar por uma simples operação policial, nos tratamentos diferenciados de acordo com o estrato social ao qual pertence o “cidadão”, conforme verificou os estudos de Holloway (1997).

Uma das primeiras tarefas impostas ao aparelho policial foi o controle da população rural que migrou em massa para os principais centros urbanos. Novos instrumentos e mecanismos de controle social precisaram ser desenvolvidos.

Sob forte influência do direito positivo, o Código Penal foi reformado em 1890.

Uma vez que a ênfase deveria recair sobre o criminoso e não sobre o ato criminal, o novo código passou a dar maior importância às práticas comuns das ditas classes perigosas como vadiagem, prostituição, embriaguez e capoeira.

A idéia era permitir um melhor controle dos grupos perigosos, na medida em que seus hábitos passaram a ser considerados crime.

Porém alguns hábitos persistem, de acordo com a pesquisa realizada por Costa (2004), através da análise de duas Instituições Policiais: a Polícia do Rio de Janeiro e a Polícia de Nova York, onde o mencionado autor constata que muitas práticas policiais do tempo da ditadura brasileira ainda vivem na operacionalidade policial carioca e das demais corporações policiais do Brasil.

Pelo histórico apresentado é de se concluir que a Policia Militar continua a mesma do tempo do Império, fazendo papel de jagunço em pleno terceiro milênio, fazendo justiça com as próprias mãos e justificando a banalização da violência no aparelho de Estado e das mortes cruéis patrocinadas através do discurso da reação.

Os escravos e os bêbados e as prostitutas ao que tudo indica foram substituídos pela população de baixa renda que vive nas periferias da cidade com pouco acesso a Justiça e cujos direitos são desrespeitados todos os dias, todas as horas, desde sempre neste país.

Vale notar, que embora, historicamente tenha sido desta maneira cruel e aviltante ao longo do tempo, é preciso notar que na cidade de Olímpia até pouco tempo atrás não era desta maneira.

Havia abusos por parte das autoridades policiais, mas, havia muito mais acertos do que erros nas operações que envolviam a Polícia Militar, a instituição não inspirava medo e nem temor na população, impunha respeito e era respeitada.

Este jornal, quando este histórico de respeitabilidade a instituição e o crescente de violência aplicada nas operações policiais alertou que a situação não era boa e nem favorável ao bom convívio entre a sociedade local e a Polícia Militar.

Denunciou a possibilidade de falta de comando, ou mesmo de um comando muito errático que produzia mais violência e instabilidade social que combatia as mazelas que era seu dever de ofício combater.

Como prova do autoritarismo e comprovação da tese levantada pelo jornal de falta de comando eficaz no combate a violência e não produtor da mesma, sofreu retaliações por parte do comando provando que a intenção era intensificar e endossar bárbaras atitudes desconectadas de qualquer sentido de civilidade.

E foram várias situações em que ficou, flagrante, patente, visível que havia um desequilíbrio, uma irracionalidade na PM local e que culminaria em inevitável tragédia como culminou.

Talvez, o marco anunciador desta tragédia tenha se dado quando da intervenção exagerada no mesmo bairro com bombas de gás lacrimogêneo, balas de festim, uma verdadeira operação de guerra.

E o mesmo bairro tem sido alvo de freqüentes operações que primam pelo exagero, pelo despropósito, e a qualquer um deixava evidente que algo iria acontecer de mais grave e aconteceu.

Membros da Polícia que desde sua criação atuava contra escravos, pobres, prostitutas, bêbados e toda ordem de excluídos, através de suas armas levou à morte um carroceiro, que, segundo a PM resistiu á prisão como alegado em milhões de boletins de ocorrência em mortes idênticas acontecidas nas periferias, nos subúrbios.

Olímpia tem seu Amarildo e a Polícia Militar, a continuar com sua performance de notada agressividade e violência contra os mais pobres, construirá outras histórias tristes como esta, sempre na periferia, nunca nos bairros da elite.

Afinal, ela, polícia, não pode sujar a sua história com o sangue azul dos aristocratas.

Tragédia histórica tão tristemente escrita pelo sangue dos desvalidos, dos descamisados, dos despossuídos, dos que não contam com a defesa da mídia, dos que o Estado abandonou desde sempre e a impunidade faz crer que nada ocorrerá a seus agressores, como nunca desde o Império ocorreu.

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas