17 de novembro | 2013

Violência banalizada

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Ivo de Souza

“Por quem dobram” tristes “os sinos”? Eles dobram por Joaquim, por Isabella e por milhares de infantes que são imolados pela fúria insana, irracional, de adultos doentes, contra os quais as crianças não podem lutar. E são mortas. Pais, possivelmente psicopatas ou drogados, os que deveriam zelar por Joaquins e Isabellas, são os que lhes roubam a rosa da vida na mais tenra idade – atirando-os do alto de um apartamento de condomínio de classe média alta, lançando-os já sem vida nas águas escuras de um rio, como frágeis animaizinhos indefesos. Para on­de vamos? Infelizmente, nem sabemos, exatamente, quem somos. O que fazemos sobre essa melancólica face da Terra. E as crianças se tornam presas fáceis dos desenganos, dos erros das loucuras de adultos perdidos dentro de si mesmos, de seus próprios e escuros labirintos. Ou seria pura maldade, sem piedade alguma, sem misericórdia? Machuca-nos a possibilidade de que seja “só” isso. E, ainda que seja mais que isso, seremos machucados. E por que as crianças? Certamente porque são inocentes, frágeis e vulneráveis à ira da besta, porque são indefesas. Ou será porque Deus esteja delas precisando lá em cima?, ou seja, Deus estaria precisando, com urgência, de seus anjos. E chama Joaquins e Isabellas talvez porque esse mundo não os mereça: porque  tanta beleza, tanta ternura, tanta inteligência e tanta iluminação em um mundo tão cruel? Os homens, por natureza, possuem a mal­dade, que lhes é i­ne­rente. São cruéis. Mas possuem, também, a bon­da­de, a generosidade, o bem. Que lado queremos cultivar? Que semente estamos lançando na terra? Para onde queremos ir?

A violência, infelizmente, está banalizada. Faz parte do cotidiano de milhões de pessoas, como se fora algo natural. Não é! É bar­bárie, é insensatez, é insanidade. Já não se cultiva o amor fraternal, o respeito, a paz, a misericórdia. Onde anda a compaixão? O homem moderno, fruto de um mundo feito de desamor e de desen­contros, no qual  o dinheiro prevalece sobre todos e sobre tudo, não é menos vítima que os pequenos que aniquila (isso, porém, não justifica os crimes que comete). Sobrecarregado, cansado, correndo não se sabe muito bem para onde, falta-lhe Deus e a capacidade de chorar e perdoar. Falta-lhe tempo para ser feliz. Por toda a humanidade e por nós mesmos: os sinos dobram, doídos, por todos nós, Joaquim. Por todos nós. Inape­la­velmente.

 

Ioachim

“meu filho tem nome de santo”

 

Eu vi, menino,

nos teus olhos grandes

o brilho e a força da vida

 

Vi no teu sorriso aberto

a alegria e a inocência

de viver

 

Eras forte

(e belo como os anjos!)

 

Eras frágil e vulnerável (como as crianças)

aos perigos

da vida!

“viver é muito perigoso”, Joaquim

 

Eras anjo

Eras esperança

Eras apenas criança

Sonhos e nada mais

 

Ora por nós, pequenino,

Ora por todos os feridos

que não te conheceram

e ainda assim souberam

te amar

 

Ora por nós, bela criança,

e descansa na paz de Deus!

 

Agora, meu pequenino

tu serás, ó menino!

eternamente

anjo nos céus!

 

Ivo de Souza é professor universitário.

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