30 de dezembro | 2012

Vamos falar de Capivaras ou de ratos?

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Willian A. Zanolli
 

De que serve a bondade se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados aqueles para os quais eles são bons? De que serve a liberdade, se os livres têm que viver entre os não-livres?
 

De que serve a razão, se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam? Em vez de serem apenas bons, esforcem-se para criar um estado de coisas que torne possível a bondade. Ou melhor: que a torne supérflua!
 

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se para criar um estado de coisas que liberte a todos. E também o amor à liberdade. Torne supérfluo!
 

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo, um mau negócio. Bertold Brecht
 

Meu amigo, filósofo, voltado ao “Lenonismo” mesclado com o “Seixismo socrático”, tem afirmado e reafirmado ao longo de sua longa vida, que doravante será menos doce, ou, com menos doce, como diria um Dia a Betes, que o homem só pode se encontrar dentro de si mesmo.
 

Nesta lavagem cerebral mergulhei no meu etnocentrismo, na minha relativização cultural, na minha visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.
 

Assim sendo, por que assim talvez seja, ou possa vir a ser em função da nossa metamorfose ambulante, nada mais natural que sendo a Ilha de Paschoa o humilde centro do universo, posso tudo, mesmo que não tenha poder nenhum para transformar o mundo ao meu redor, e se tivesse vontade, diria como Macunaíma. Ai que pregui…
 

Antes, porém, que me deu vontade, não, deixarei para o final, para as considerações, meu guia orientou que não é a hora ainda. Quem sabe não faz na hora, espera o acontecer.
 

Gostei desta releitura da canção, e iremos remando assim neste rebojo, nestas águas mansas deste rio que chamam vida, até que nossa embarcação deságue em algum oceano de paixões.
Poético, só que sinto que minha vontade não é esta, tenho algo em mim, acho que é apenas o recomendado início do mergulho às minhas entranhas, possivelmente esta visão drumondiana é por que o terceiro olho localizou o coração, hora que chegar no estômago, vai voar caca, vai.

 

A viagem interna, como poderia ter dito Antonin Artaud, se não o fez, perdeu oportunidade inigualável, faz com que olhemos nossas entranhas, e não há nada mais estranho que o que está oculto, o que não vê a luz do sol, o que vive sobre as sombras.
 

Fui filosófico agora, devo ter visto o cérebro, a razão, não riam, que razão todo mundo tem, mesmo que enlouquecida, sem utilidade, de pouca serventia, mas razão é como determinadas coisas que parecem tão inúteis a alguns e tão úteis a outros, e não se coloque neste balaio barraca de camping para quem não gosta de acampar.
 

Falo da essência, não de coisas materiais, daquilo que torna o homem melhor, ou muito imprestável para alguns, que nós somos o olhar que temos para com os outros e o olhar que os outros têm em nós.
 

Natural, que alguns nos enxergue de forma muito vesga, zarolha, cega, diante daquilo que atribui de qualidades a nós mesmos, sempre lapidadas como brilhantes raros.
 

Outros colocam lupas, binóculo da marinha para dar uma ampliadinha nos nossos defeitos, que se fundidos um ao outro, daria no máximo a muralha da China, com a ampliadinha…, deixa pra lá.
 

Faltaram aqueles que pensam que nos olham com o olhar mais real possível, e estão se coçando mais que meu cachorro quando pega muitas pulgas, louco pra abrir na mesa todos os azes que escondem e que pensam que sabem sobre nós.
 

Para estes somos um chuchuzinho temperado sem sal algum, nenhuma porção de carne moída, de terceira que seja, sem sabor, servido na bandeja do hospital, zero a esquerda ao quíntuplo.
 

Pode ser que estejam certos, ou pode ser que certos estejam os outros, ou nós mesmos, que neste caso, se apresenta como eu, que se não estou por cima da carne seca, pelo menos de vez em quando a manteiga do meu pão não cai pro lado chão. Já está bom?
 

Está!, Não!!!, queremos muito mais, exigimos muito mais, e a bem da verdade, e neste ponto, pelo sabor de fígado depois da pinga do bar do meu amigo Djalma, aquela com carquejo, sabor amargo, percebo que não quero desejo, exijo.
 

E este país que me abriga está a me dever isto, melhor, está devendo isto a muita gente.
 

Este país em que nasci, em que fui criado, para o qual dei os dias da minha juventude, fui às ruas, lutei contra a ditadura e continuo lutando, posso não estar mais sendo preso e torturado por isto, mas continuo como tantos outros que insistem em ser libertos na sua forma de pensar e não aceitam conviver com a miséria, a ter que combater a maldição da corrupção que não dá tréguas.
 

Cheguei ao estômago, pelo cheiro de fezes, cheguei lá, e agora vai voar titica, se o filósofo “rauzista” falou que é pra mergulhar fundo em nós mesmo para se encontrar, ou morro afogado ou saio outro pelo reto, mais retilíneo impossível.
 

E ai vai se justificar a frase “vocês pensam que eu sou pouca merda, muita merda é o que sou” e serei mais, muito mais até o último suspiro.
 

Então, este país, onde fui expelido deve a muitos que acreditaram nele uma mudança real e radical, não consigo mais observar tanta gente desonesta, tanta gente salafrária, corrupta, fora das cadeias, dentro de carrões de luxo, comprando fazendas, apartamentos, lanchas, aviões, com dinheiro público.
 

Não aquento mais ver gente falida pelo país inteiro ficar milionária depois de eleito, enquanto o povo sofre na fila do SUS.
 

Não tenho mais paciência para tolerar um país tão pobre em tudo, tão rico em corruptos, em bandidos da pior espécie transformando a máquina pública em capitanias hereditárias, parece que os degredados, os saqueadores que a coroa portuguesa mandou para o exílio em terras brasileiras não param de multiplicar.
 

Gente, pelo amor de seus filhinhos, pelo amor de qualquer coisa, não consigo entender como este país funciona com tanto ladrão tomando conta das finanças públicas, não consigo, este para mim é o verdadeiro milagre brasileiro.
 

De um lado falta de dinheiro para melhorar os serviços públicos do outro uma quantidade de ratos a roer cédulas que chega a doer de tanto dó que dá do sofrido povo brasileiro.
 

Até o voto que os coloca lá na maioria das vezes é comprado com o dinheiro que eles roubam, é o fim da picada.
 

Por falar em fim, estou vendo uma saidinha, apertadinha, muito apertadinha, zero bala, sem uso, vou colocar um talvez aqui.
 

Acho que cheguei no fim da viagem.
 

Não sei se me encontrei, mas estou mais leve, não sei se foi o desabafo, não sei se foi o fato de ter visitado minhas entranhas e constatado que há peças que podem estar intactas, sem uso, muito embora haverá quem duvide disto, como a dúvida é prima irmã da certeza.
 

Feliz Ano Novo para vocês.

William A. Zanolli é artista plástico e jornalista. O bar do Djalma é na Bartolomeu Ittavo, entre os freqüentadores ilustres estão o Paulistinha, Jesus Hortêncio, Marcos Neves, Dr. Wilson, e eu, vez em quando.

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