23 de dezembro | 2024
Uma reflexão sobre o problema da chuva
Os alagamentos e os danos causados pela tempestade expõem a necessidade de um planejamento urbano mais eficiente em Olímpia.
José Antônio Arantes – Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que não sou especialista na área. Aliás, há muito que o município precisaria ter um plano real e eficiente para resolver seus problemas quando há grande precipitação de chuvas.
No último sábado, no entanto, ocorreu uma verdadeira tempestade, quase um dilúvio, já que choveu simplesmente 135 milímetros num espaço de tempo de pouco menos de duas horas. É água que não acaba mais.
Mas quando se fala em problema de enchente, todo mundo pensa no riacho Olhos D´Água, que é praticamente o nosso grande receptor de toda a água que cai na cidade, por ser a região mais baixa de toda a área onde a cidade está assentada. Depois dele, no sentido Rio Preto, está o córrego do Matadouro e, no sentido Barretos, o córrego dos Pretos.
Mas existem outros que foram canalizados e tiveram imóveis construídos em cima de suas canalizações, que, no sentido transversal a esses, também recebem chuva e a direcionam em grande quantidade para o riacho central, com tubulações subdimensionadas ou vazão insuficiente, formando verdadeiras correntezas até chegar no riacho central.
No entanto, por onde passam, provocam problemas com a água saindo de suas canalizações ou leitos e gerando estragos variados, principalmente na região de baixada próximo ao riacho. Um exemplo gritante é a região do São Benedito (próximo ao Sindicato dos Bancários) e o próprio córrego que atravessa o estacionamento do Thermas.
Todos eles, no entanto, de uma forma ou de outra, deságuam no Olhos D’Água ou diretamente no rio Cachoeirinha, que passa próximo de Olímpia (como o próprio riacho central). Traduzindo, praticamente 80% de toda a água que cai da chuva e vira enxurrada deságua, de uma forma ou de outra, no Olhos D’Água.
Explicado isso, faz-se necessário refletir sobre o próprio riacho central, que já foi objeto de estudos e tem até uma represa de contenção com uma pequena barragem, após a São José e a Cohab III, indo para Álvora, chamada represa do Recco, considerada área de risco desde 2010 pelo coronel Luiz Massao Kita, que à época era chefe da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil do Estado.
Ocorre que, com toda a projeção dos governantes de 2010 para cá, e a realização de obras e mais obras, o que se fez parece não ter levado em consideração todos os aspectos que influenciam no resultado final, que sempre prejudica aqueles que estão instalados na região ribeirinha.
Desta vez, a chuva foi geral, e o próprio ribeirão Olhos D’Água (que, segundo o historiador e pensador José Sant’anna, não era ribeirão, mas sim um riacho) já estava sobrecarregado pela quantidade de água que recebeu desde a sua nascente, em uma mina no sítio Olhos D’Água, município de Severínia.
Ora, recebendo 135 mm de enxurradas vindas das regiões altas dos dois lados, cujas novas bocas de lobo e sistemas de canalização já provaram não suportar a carga, em ocasiões em que o riacho não transbordou, mas pistas que margeiam a Aurora Forti Neves se transformaram em verdadeiros ribeirões adjacentes que se uniram, formando um verdadeiro mar destruidor na avenida.
Isso provocou estragos em residências, quedas de árvores, carros submersos, ou seja, consequências ruins para todos os lados.
Mas a pior consequência, pela extensão e importância, ocorreu na mola propulsora da economia local, o Parque Aquático Thermas dos Laranjais, que teve, principalmente, seu estacionamento inundado.
Isso ocorreu não só pelo lado do Olhos D’Água, totalmente combalido e incompetente para levar suas águas ao Cachoeirinha, mas também porque a canalização da grande obra de engenharia que é o trevão na Assis Chateaubriand provou que não suporta tanto volume e também represou.
Nem chegar em paz até o rio o Olhos D’Água conseguiu desta vez.
O Thermas, assim como o São Benedito, também recebeu grande carga d’água vinda do riacho que corta seu estacionamento, trazendo as enxurradas oriundas de sua extensão, que corta as Cohab IV e Santa Ifigênia e chega ao Thermas com intensidade destruidora.
Atacado dos dois lados, desta vez o parque acabou sofrendo as consequências não só de estragos em alguns pontos de seu interior, como a piscina de ondas, que ficou inundada, mas principalmente com os danos nos veículos de seus visitantes, atingidos pela força avassaladora das águas.
Embora tenha vivido talvez seu pior momento de revolta da natureza, o parque, que precisou ser fechado para limpeza e reparos, nas mãos de Jorge Noronha e Débora Vicente, com a execução incansável da maioria esmagadora dos colaboradores que trabalharam toda a noite de sábado para domingo e o próprio domingo, numa prova de união que realmente forma a família Thermas dos Laranjais, terá condições de reabrir rapidamente. Tanto que já está anunciando para esta segunda-feira, apenas um dia após o flagelo, sua reabertura com 80% de suas atrações em funcionamento.
Mas, agora, ficou provado que um grande estudo terá que ser feito, levando-se em conta todos os pontos aqui apontados e outros que não puderam ser enxergados, para corrigir de uma vez por todas esse problema que persiste há décadas e vem, agora, se agravando em razão da sanha destruidora do bicho homem para com a natureza.
O bicho homem, além de gostar de atacar os que não pensam como ele, também tem o chamado pensamento amplo, ou a capacidade de reflexão e entendimento próximo do real, e, com ela, a condição de projetar o futuro para que situações como essa não voltem a ocorrer novamente.
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