22 de outubro | 2017
Temer, Aécio e o país que se afunda na lama
Do Conselho Editorial
Para muitos brasileiros até outro dia o senador Aécio Neves era o referencial da honestidade e do combate a corrupção.
Participava de passeatas, fazia discursos inflamados da tribuna do Senado e caçava ladrões do erário e corruptos por todo lado como se fosse fixação ou delírio.
Começou sua sanha anticorrupção após ter perdido a eleição e anunciado que não daria trégua ao governo eleito até que o mesmo fosse deposto, e foi.
Acenava com o simplismo de que com apenas o combate efetivo a corrupção e algumas medidas imediatistas e populistas a nação tomaria novos rumos e retomaria o crescimento.
Seu partido, o PSDB, que frequentemente fica em cima do muro, entrou de corpo e alma nesta aventura, se empenhou até que impediu a presidenta eleita e passou a servir o novo governo tendo nomeado alguns de seus quadros no comando de ministérios.
Por outro lado, muitos dos eleitores e lideranças que endossaram a candidatura de Aécio candidamente passaram a acreditar que a tese “aecista” de que a mudança do governante e o combate a corrupção bastariam para colocar o país de novo nos trilhos.
E, caso, todos fossem sérios e incorruptíveis como alardeavam, se o milagre da retomada do crescimento não acontecesse de pronto, aconteceria lentamente.
Posto Temer na cadeira e com a caneta nas mãos, após a destituição da detentora anterior do cargo por manobras contábeis conhecidas como pedaladas fiscais, uma das primeiras ações do governo foi exatamente legalizar as tais pedaladas.
Este fato por si só já deveria ter chamado a atenção dos bens intencionados de que o impeachment não passava de um golpe, um engodo visando entre outras coisas abafar os escândalos e extinguir as investigações.
A nomeação dos ministros do governo instalado foi para além de vergonhoso para quem publicamente afirmava que combatia a corrupção, tudo as claras e com o aval do partido tucano e de Aécio que indicaram ministros para participar do que passará a história como o governo mais corrupto da história da República.
De início, um dos promotores do golpe, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos deputados a época dos fatos, que esperava se safar com o golpe foi preso por ser tido como o chefe da maior quadrilha política de todos os tempos, e preso permanece até hoje.
Vários ministros foram denunciados, viraram réus, ex ministros, assessores, deputados senadores e ex também amargaram e amargam prisão neste governo onde parece que a maioria é comprometida com o charco da corrupção.
O presidente da República, pela primeira vez na história brasileira foi duas vezes denunciado por, em tese, ter participado de falcatruas e atos de corrupção.
Não foi impedido de governar na primeira denúncia, por ter engraxado com cargos e emendas parlamentares a maioria dos deputados que se posicionaram contra a autorizar a continuidade das investigações.
Agora, na segunda denúncia a ser apreciada vêm cooptando deputados com a mesma argumentação das emendas parlamentares e da oferta de cargos que por si só é de uma imoralidade sem fim.
No bojo de toda esta história, entra o combatente da corrupção Aécio Neves, que pego em gravação pra lá de escandalosa teve teoricamente seu mandato de senador suspenso e agora, vergonhosamente, após Temer ter liberado mais emendas parlamentares e cargos, de acordo com os bastidores, conseguiu impedir que a permissão para ser investigado pelo STF obtivesse maioria de votos no Senado.
Continua senador e presidente do partido do muro, o indefinido PSDB, até quando não se sabe.
Junta-se Aécio o ex combatente da corrupção a Temer, o homem cuja ponte se transformou em pinguela, naquilo que se poderia chamar, se houvesse, sem generalizar, na vergonha nacional, como a provar que de combatente a corrupção nada tinham.
Se tinham ou tiveram alguma coisa em comum algum dia talvez seja o fato de serem adeptos da corrupção e conseguirem vender a ideia de seriedade.
Como a mentira tem perna curta ambos pagam o preço do que semearam e o povo que na sua maioria não tem memória vai assistindo a prisão dos que combatiam a corrupção e tendo a sensação de que quanto mais se prende mais se tem para prender, talvez, esta a razão para estancar as investigações, temor de que falte cadeias.
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