20 de julho | 2014

Só há inocentes nas prisões

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Do Conselho Editorial

Não há como precisar, ou pode haver, quem pela primeira vez falou que só há inocentes nas prisões.

Esta máxima remete à idéia de que ninguém, mesmo pego em flagrante, assume uma ação criminosa, um ilícito, uma delinquência.

Todos negam, e muitas vezes quando se trata de casos onde notadamente a culpabilidade está praticamente demonstrada, o defensor aconselha que o réu faça uso do direito constitucional de ficar calado, de só falar em juízo.

Em suma, não há culpados enquanto não houver trânsito em julgado de um sentença condenatória em juízo, e depois disto, mesmo que a decisão seja desfavorável a quem cometeu o ilícito, o personagem mesmo atrás das grades, maioria das vezes, incorpora em si o discurso da inocência, e cumpre a sentença negando a ação até o último instante.

Bom notar que se fala aqui da regra e não das exceções, os que escandalizam o mundo com suas confissões às vezes até carregadas de exageros, são minorias no universo criminoso e muitas vezes buscam notoriedade através das ilicitudes que praticam.

Assemelhadas a estas minorias, vem crescendo claras manifestações de cinismo de uma bandidagem que anda a solta pelo universo político e que ao contrário daqueles a que se convencionou chamar de bandidos comuns, e que negam seus crimes sob juramento, esta nova categoria, não só revela publicamente os ilícitos cometidos como se orgulham deles.

É de pasmar a quantidade de quadrilheiros, mafiosos, bandidos e ladrões do erário que postam nas redes públicas verdadeiros acintes, verdadeiras provocações ao bom senso, quando alguma decisão por parte da justiça possa lhes parecer favorável .

E vendem a idéia de que a justiça e sua venda não consegue enxergar sequer o seu nariz, quanto mais os maus feitos que esta gentalha, este bando de ratos travestidos de autoridades cometem.

Principalmente por que no seio da Justiça um enorme ninho de ratos procria e prolifera inúmeros adeptos da politicalha barata que defende a corrupção como questão cultural e não como mal a ser combatido pelas mais severas das leis.

Enquanto a “miudalha” discute pena de morte para bandidos de alta periculosidade e diminuição da maioridade para menores infratores, os maiores criminosos desta nação estão confortavelmente vendendo a idéia de que servem à nação fantasiados de políticos, promotores, juízes, governadores, prefeitos, deputados, senadores, vereadores, delegados, policiais.

E soltos impunemente auxiliam a si e a seus bandos, máfias, roubando o direito a Saúde, Educação, Transporte, Lazer, emprego de um país que poderia ser muito mais e só não é por discutir a perfumaria e esquecer o principal.

Enquanto isto, os que estão presos, ou com a prisão decretada, ou esperam em liberdade o julgamento, negam com toda a convicção do mundo o crime que praticaram.

Os que navegam no universo político cinicamente assumem a atitude criminosa, expõem em palácios de piso de mármore, apartamentos luxuosos, carros zero quilômetros, piscinas, compra de imóveis, empresas, laranjas que esnobam e falam mais que a língua a vergonhosa e criminosa ganância que produz um país de terceiro mundo com custo de primeiro mundo.

E na cadeia só há inocentes, diz o imaginário popular, e se fossem dar com os costados a cadeia a classe política ao invés de se ufanar de seus mal feitos publicamente, começaria se comportar como o bandido que nega o que fez de errado.

É vergonhoso que criminosos se envergonhem de suas ações e ladrões do dinheiro público se orgulhem publicamente por serem blindados pela odiosa desmoralização das instituições que deveriam zelar pela justiça, mas que ao invés disto fazem coro a idéia surreal de que por pior que seja a ação, desde que próximo do poder, o ladrão do dinheiro público não será em tese punido.

 

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