18 de novembro | 2018

Sem médicos cubanos o caos na Saúde se aprofunda

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Do Conselho Editorial

Quando da implantação do programa “Mais Médicos” no Brasil e a então aventada possibilidade de contratação de profissionais vindos de Cuba, foi um Deus nos acuda, principalmente com as discussões dos que se posiciona­vam contra a contratação.

Razoável, que um país com características conservadoras e agora compro­vadamente nazifascistói­des, em razão da escolha presidencial, se posicio­nasse contra a presença de profissionais da saúde oriundos de um país de concepção ditatorial socialista.

Embora Cuba seja referência na medicina mundial e firme contratos de pres­tação de serviços médicos com sessenta e seis países, a resistência se da­va muito mais por questões corporativistas que exatamente pelo conteúdo ideológico, que se pretendia atribuir às contratações.

Bom lembrar que antes de efetuar a contratação foram convocados médicos brasileiros que não preencheram as vagas, muitos por se posicionar­em contra o programa, alguns para boicotar e a maioria por não desejar trabalhar nas regiões mais remotas deste imenso país.

Convocados médicos de países da América Latina, que atenderam o chamado em número insuficiente para preencher as necessidades do projeto, ao final, foi levado a efeito o contrato com Cuba.

Jornais, rádios, televisões e internet trataram a questão como se fora o início de uma revolução comunista de dimensões gigantescas e o povo, iludido, naquela época, como agora, acreditou em quase tudo que se inventou.

Parte não diminuta da classe médica brasileira, que faz do sistema público de saúde porta de entrada de seus escândalos de corrupção, gritou, esper­neou, exagerou no discurso e o sistema, contrariando este espírito de corpo e continuidade de mazelas bem conhecidas do sistema policial investigatório e judiciário, foi implantado.

Na chegada, a recepção a alguns médicos cubanos foi simplesmente horrorosa, humilhante, demonstrativa do novo tipo brasileiro que surgia do lodo, vil, asqueroso, daninho a sociedade civilizada, carregado de preconceitos e ódios.

Os médicos se instalaram e aos poucos, com trabalho e profissionalismo foram superando as dificuldades iniciais e ganhando a simpatia da população.

Ao contrário de grande parte dos médicos brasileiros, cumpriam horários religiosamente, não usavam dedos de silicone para bater ponto, não cobravam por fora e não faziam do sistema público um antro de corrupção. Tratavam a população carente com educação, respeito e eram recep­cionados com carinho e amor pelos moradores em muitas cidades, que nunca tinham visto um médico atendendo por lá.

No entanto, o ódio instalado nas vísceras de alguns, entre eles, Jair Messias Bolsonaro,  em 2013, deputado federal que ainda pertencia ao partido do ex deputado Paulo Maluf, o PP – RJ, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da medida provisória (MP) editada pela ex-presidente Dilma Rousseff  (PT) que criara o programa Mais Médicos.

À época, o hoje presidente Bolsonaro, chegou a pedir que fosse concedida uma liminar para suspender a medida provisória. 

Estes ranços, aliados à demagogia, populismo, falta de bom senso e caráter ditatorial fez com que o candidato a presidente, como é de seu costume, abusasse dos exageros retóricos para condenar a presença dos médicos cubanos em solo brasileiro.

O discurso de ódio e preconceito chegou a volume tão alto e ganhou tal intensidade que não restou a Bolsonaro e a Cuba, senão duas alternativas: o eleito teria de romper o contrato para, em tese, agradar seu eleitorado, ou Cuba teria que romper o contrato para evitar mais desgaste aos seus profissionais e a reputação que goza a medicina naquele país.

Antes que ocorresse um incidente diplomático em razão das inúmeras declarações irresponsáveis do futuro presidente em relação ao tema, Cuba se antecipou e rompeu o contrato.

Ocorre que os médicos cubanos já tinham sido abraçados pela população, sem contar o grande número deles trabalhando no país, com certeza, será o primeiro dos grandes desafios do futuro governo para garantir o início de sua governabilidade, o que não será fácil solucionar, pois com certeza, antes como agora, não existem no País, médicos que queiram fazer o que os cubanos fizeram.

A situação, assim como outras, no campo diplomático, criadas sem a devida cautela, jogo de cintura e conhecimento e respeito às regras do jogo diplomático, estão postas a discussão e serão cobradas, como já se alardeia no exterior.

Resta saber se Bolsona­ro e seu vice realmente tem anteparo, sustentação, para rebater e resolver as divergências desnecessárias que criaram pra si e para setores da sociedade, antes mesmo de assumirem.

O agronegócio, o meio ambiente, o empresariado e a indústria da cultura já se preocupam com os resultados que advirão de posicionamentos que afastam o Brasil de países com quem manteve férteis e lucrativas negociações.

Internamente, mesmo tendo a aceitação dos extratos mais baixos da sociedade, classe média e parte do empresariado, é preciso notar que o número de descontentes com sua eleição é bem maior o do que foi sua votação e que a falta de atendimento médico na rede pública, possivelmente, ampliará em muito sua rejeição já no início do mandato.

Imagina-se que não deve ter sido tão irresponsável ao ponto de provocar um rompimento desnecessário sem ter uma solução imediata para o problema. Pois, se não tiver, terá problemas sérios a serem enfrentados no início da gestão.

A desculpa do trabalho escravo pode convencer tolos e toscos por um período, mas não se mantém ao longo do tempo em razão da quantidade de médicos cubanos que irão embora felizes como chegaram e não se seduzirão pelo salário integral brasileiro e, com certeza voltarão ao seu país de origem.

A razão é simples, são funcionários de Estado, em seu país têm direito à saúde e educação de graça, além de entenderem, em sua maioria, que cumprem papel de solidariedade mundial e estão convictos de que suas formações foram patrocinadas no total pelo povo cubano, assim como seu trabalho no exterior tem por função patrocinar e ajudar os estudos de outros naturais de seu país.

Em um país carregado de corruptos e de sem noção de nacionalismo e solidariedade, este desapego ao dinheiro e apego a humanidade não é compreendido pela maioria imbecilizada, utilitarista e massa de manobra de um sistema antropofágico, cruel, desumano e falido.

O que já se vê em Olímpia, na saúde pública, pode dar um panorama do que será o país e o atendimento médico no futuro.

Imagine esta cidade vivendo o caos na saúde pública, que está vivendo com cinco médicos que trabalham o dobro que os brasileiros a menos e aí imagine uma cidade que não tem nenhum e ficará sem ninguém, como será e continue imaginando que serão mais de oito mil médicos a menos no país.

Que Bolsonaro tenha pensado bem no que fez e consiga solucionar esta questão.

Uma coisa é pensar que vai governar uma grande nação como os Estados Unidos roncando grosso e ameaçando. Outra coisa é continuar sendo um país de terceiro mundo, uma republi­queta de bananas miserável e falida sem o poderio bélico e financeiro dos Estados Unidos.

 

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