17 de fevereiro | 2015

Ou… quanto custa a sua opinião?

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Willian Zanolli
Neste ritual do qual se compõe a vida, todo feito de estradas que levam e trazem toda gente que vai formando exércitos de resistência e solidariedade às traições compostas de verdades e mentiras, deve parecer natural, mesmo que não seja, que alguém humanamente formatado para mudar sua visão de realidade, se esqueça pelos caminhos, se deixe contaminar pelos deslumbramentos, prefira outra direção que aponte horizontes diversos daqueles com que imaginava, ou se iludia pensando que sonhava.

Vamos continuar por não ser daqueles cujas costas se arrepiam por conta do sopro do vento frio das necessidades materiais e mundanas batendo portas e janelas à nossa volta.

Nem nos interessa tostar o lombo nos braseiros da vaidade que queima de forma intensa a alma dos carbonários, que extinguem suas últimas chamas no abandono das almas mortas de sonhos.

É preciso notar sempre e cada vez mais que este é um tempo em que as pessoas clamam pelo que muitas vezes não querem. Período de desesperanças, de incredulidade, de desamor, de ódio temperado com ranços e preconceitos, onde a luta pelo justo parece utópica e distante pelos muitos que o suborno e a tentação do dinheiro fácil conseguem fascinar.

Parece não haver nada demais em que alguém cínica e despudoradamente se venda como se esta fosse a regra, como se este fosse o traço mar­cante do sistema civi­li­za­tório.

E não há mesmo, é muito antiga a ideia dos mercenários, os que recebem para lutar em prol de si mesmo e não de uma sociedade, de um Estado, os que não tem vínculos nacionalistas com nada, os que não tem bandeiras nem apegos a terra.

Esta visão apenas se ampliou nos tempos modernos, depois da industrialização e da alienação que impôs o ter, muitas vezes mais valorizado que o ser.

Nada de novo em tudo isto, o homem apenas incorpora menos ética e menos moral em uma sociedade que sucumbe em cor­rupção e drogas.

A leviandade e a falta de respeito por si mesmo criou esta sociedade que ai está dominada por máfias, por gangsteres onde a vida vale o tanto que valia o saco de sal que compunha o soldo do soldado que ia a guerra na Grécia e na Roma decadente, ou no Vietnã, tanto ou pouco menos que algumas patacas que os monarcas pagavam aos que recrutavam entre a bandidagem para defender seus territórios.

Crer que a lei e o direito solucionam este estado de coisas é pura inocência.

O que lei e direito fazem é apenas garantir que nem todos terão direito ao produto do roubo, senão a ninguém seria garantida nenhuma propriedade, que, diga-se de passagem, em algum tempo e espaço foi grilada de alguém. 

Ou relembrando Kant, que entendia que a norma se enraizava na própria natureza da razão, ao aceitar o roubo e consequentemente o enriquecimento ilícito, elevando a máxima (pessoal) ao nível universal, haverá uma contradição, se todos podem roubar, não há como manter a posse do que foi furtado. Então, ninguém será dono de nada.

Talvez por isto a manutenção pelo Estado do monopólio das ilicitudes nas mãos das castas privilegiadas que distribuem migalhas aos sórdidos que não se libertaram das amarras impostas pelas necessidades individuais.

E é no universo desta discussão que em tempos passados se comprava a força de trabalho por míseros centavos e hoje se compra até a opinião, o pensamento, que pode se mostrar diverso, inconstante, maleável, mutável e até contrário do que já fora um dia.

Coisas dos vis e do vil metal que vai se ampliando significativamente em uma sociedade em que o mito do combate à corrupção consegue convencer a maioria corrupta que é carregado de boas intenções o discurso mutante dos venais que fingem acreditar até em si mesmo, que conhecem tão bem.

Willian A. Zanolli é artista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanolli.blogspot.com e ouvido de segunda, quarta e quinta-feira na Rádio Cidade FM 98.7 Mhz.

 
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