17 de julho | 2022

Os discursos de ódio e seus resultados

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“A sensação é que se pretende a tragédia do Capitólio ampliada
por
aqui, razão pela qual se torce e se esforça para que
o caos se instale
para se ter uma desculpa para
transformar o
que está terrível
em algo insuportável”.

 

Do Conselho Editorial

Não é novidade para ninguém que após a posse do presidente Jair Messias Bolsonaro tem havido um crescente da violência política no país.

Há que se registrar que sua campanha eleitoral e mesmo sua passagem pelo legislativo sempre privilegiaram discursos que em tese estimulam o preconceito e a violência.

Não há como negar que dia sim e dia não Bolsonaro repete falas carregadas de um extremismo que não se via e não se viu em nenhum mandatário deste país.

Pra se ter uma pequena ideia do que produziram os discursos de Bolsonaro no crescimento da violência contra seus alvos costumeiros, o Brasil teve recorde de casos de violência contra jornalistas em 2021, segundo o relatório “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas. A pesquisa aponta que foram 430 episódios, 2 a mais do que os 428 casos registrados em 2020.

Este jornal está incluído nesta triste estatística, tendo sido incendiado pelo bombeiro incendiário Claudio Baia, criminoso confesso da atitude que quase ceifou a vida do jornalista e de sua família.

Enquanto o governo Bolsonaro conseguiu escapar de uma possível acusação de genocídio indígena por parte da CPI da Covid, dados de um relatório publicado em 28 de outubro de 2020, apontavam que assassinatos de indígenas tiveram um aumento de 61% no primeiro ano da pandemia.

O relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, dados de 2020, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), também apontou que nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro houve aumento de 137% nas invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio em terras indígenas.

A maioria das mulheres brasileiras (86%) percebe um aumento na violência cometida contra pessoas do sexo feminino durante o último ano.

A conclusão é da pesquisa de opinião “Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher — 2021”, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência.

Um mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias, que se dedica a pesquisar o neonazismo no Brasil desde 2002, mostra que existem pelo menos 530 núcleos extremistas, um universo que pode chegar a 10 mil pessoas.

Isso representa um crescimento de 270,6% de janeiro de 2019 a maio de 2021.

Evidente que o estimulo fornecido pelo presidente da república e pelos que estão próximos dele são matérias primordiais para se discutir as razões pela qual a violência vem neste crescendo após sua ascensão ao poder e qual seria sua responsabilidade neste recrudescimento.

Esta violência tem se espraiado pela seara política gerando o que os minimalistas enxergam como polarização, quando na realidade se trata de extremismo fundamentalista de um lado do debate que não aceita que outra corrente possa chegar ao poder.

Em razão deste fundamentalismo tosco e bárbaro, o guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros no último sábado (9), enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT em Foz do Iguaçu.

A festa trazia como decoração uma homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva e ao Partido dos Trabalhadores, já que o aniversariante além de filiado ao partido foi candidato a vice-prefeito na cidade.

Segundo a delegada Camila Cecconello, o atirador ingeria bebidas alcoólicas quando ficou sabendo da festa em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um churrasco do futebol com amigos.

De acordo com a delegada, ele então decidiu ir ao local, onde se envolveu em uma discussão por divergências políticas.

Conforme a investigação, um dos amigos do policial penal que monitorava a festa por aplicativo do celular, mostrou que havia uma festa temática em homenagem ao PT.

Levando-se em conta estas investigações preliminares e todo o contexto em que se encontram as relações políticas no país, este incidente vem como alerta de que pela primeira vez em toda sua história, poderá acontecer uma eleição marcada pela violência e por banhos de sangue.

Os discursos do presidente e da ala militar que o apoia, fundidos a setores das policias civil e militar, estadual e federal, têm elevado a fervura ao invés de contemporizar.

A sensação é que se pretende a tragédia do Capitólio ampliada por aqui, razão pela qual se torce e se esforça para que o caos se instale para se ter uma desculpa para transformar o que está terrível em algo insuportável.

Só resta aguardar para assistir os próximos capítulos desta tragédia anunciada.

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