01 de setembro | 2024
O Silêncio das Chamas: As lições ignoradas pelos incêndios que devastaram Olímpia
“É preciso que as autoridades assumam a responsabilidade de proteger a população e o meio ambiente de Olímpia, hoje abandonados por um governo que prioriza apenas o turismo, esquecendo que ele deve fazer parte da vida dos cidadãos”.
JOSÉ ANTÔNIO ARANTES
Os incêndios que atingiram Olímpia entre quinta-feira e sábado da semana passada deixaram um rastro de destruição e medo, expondo de forma contundente a fragilidade das políticas de prevenção e combate a queimadas em nossa região. Apesar da chuva que finalmente caiu na madrugada de domingo, o alívio foi tardio e insuficiente para apagar as marcas deixadas pelo fogo, tanto no ambiente quanto na vida dos cidadãos.
Durante esses três dias, a população de Olímpia viveu um verdadeiro sufoco. As altas temperaturas, que chegaram a picos de 37°C, e a baixa umidade do ar, que beirou níveis críticos, criaram condições perfeitas para a propagação rápida e incontrolável das chamas e, consequentemente, da fumaça, devastadora para a saúde humana.
Mesmo com a mobilização de bombeiros, brigadistas e agentes da Defesa Civil, o cenário era de impotência diante da força do fogo, que consumia canaviais, áreas rurais e até ameaçava residências.
A FALTA DE PREVENÇÃO E PLANEJAMENTO
Não é de hoje que Olímpia e outras cidades do noroeste paulista sofrem com incêndios florestais durante a estiagem. O problema é recorrente e, mesmo assim, as ações preventivas continuam tímidas e, muitas vezes, ineficazes.
Não basta apenas mobilizar forças de combate quando o incêndio já está em andamento. É necessário investir em políticas públicas de prevenção, que envolvam desde a conscientização da população até o manejo adequado da vegetação e o cuidado com o meio ambiente.
O decreto de emergência ambiental, assinado pela prefeitura na segunda-feira, dia 26, um dia antes do incêndio mais recente no bairro Limoeiro, é um reconhecimento tardio de uma situação que já estava fora de controle.
A sensação de muitos moradores é de que as autoridades agem de forma reativa, sem antecipar os problemas que surgem a cada novo período de estiagem. Onde estava a fiscalização preventiva? Onde estavam as campanhas de conscientização que deveriam ter sido intensificadas muito antes das primeiras labaredas?
O IMPACTO NA VIDA DA POPULAÇÃO
Para os moradores de Olímpia, o impacto dos incêndios vai muito além do que se pode calcular em hectares de terra queimados ou em prejuízos econômicos. A fumaça densa, que tomou conta do ar durante os dias de incêndio, tornou a respiração difícil e perigosa, especialmente para aqueles com problemas respiratórios. Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas sofreram com a má qualidade do ar, algo que poderia ter sido mitigado com ações mais eficazes.
Além disso, a população rural, que depende da terra para sobreviver, viu seu sustento ameaçado. Canaviais inteiros foram destruídos, causando prejuízos financeiros incalculáveis e deixando uma incerteza sobre o futuro das próximas safras. O fogo também não respeita limites de propriedades, avançando sobre pastagens, plantações e até áreas de preservação, comprometendo a biodiversidade e o equilíbrio ambiental da região.
CHUVA NÃO É SOLUÇÃO
A chuva que caiu na madrugada de domingo trouxe um alívio imediato, mas não pode ser vista como a solução para o problema. Depender de fenômenos naturais para apagar incêndios é uma estratégia arriscada e ineficaz. Precisamos de políticas que priorizem a prevenção, o monitoramento constante das condições climáticas e o preparo adequado das equipes de combate.
A experiência de outros países, que enfrentam desafios semelhantes, mostra que é possível reduzir significativamente os riscos de incêndios com planejamento adequado. Isso inclui desde a criação de aceiros em áreas de risco até o uso de tecnologias de monitoramento por satélite, que permitem identificar focos de incêndio em seus estágios iniciais. Além disso, é crucial educar a população sobre os riscos e as medidas preventivas, evitando que ações humanas, muitas vezes negligentes, sejam a causa de tantos danos.
A COBRANÇA POR MUDANÇAS
Como morador de Olímpia, não posso deixar de expressar minha frustração com a forma como essa situação foi gerida. A resposta das autoridades foi lenta, desorganizada e insuficiente. Não se trata apenas de apagar o fogo quando ele já tomou proporções descontroladas, mas de agir antes que o primeiro foco sequer tenha início.
É preciso que as autoridades assumam a responsabilidade de proteger a população e o meio ambiente de Olímpia, hoje abandonados por um governo que prioriza apenas o turismo, esquecendo que ele deve fazer parte da vida dos cidadãos.
A comunidade também precisa ser parte ativa nesse processo, cobrando ações mais eficazes e participando das campanhas de prevenção. Não podemos mais aceitar que o fogo se torne uma presença constante em nossas vidas durante os meses de estiagem. Não podemos mais esperar que a chuva, por si só, resolva problemas que têm raízes muito mais profundas.
A LIÇÃO QUE PRECISAMOS APRENDER
Se há algo a ser aprendido com os incêndios que devastaram Olímpia na última semana, é que a passividade não é uma opção. A cada ano que passa, as condições climáticas tendem a se agravar devido às mudanças climáticas, e os riscos de incêndios florestais seguirão aumentando se não agirmos com urgência. Este é o momento de aprender com os erros do passado e de investir em um futuro onde a prevenção seja a norma, e não a exceção.
O poder público precisa se comprometer com a implementação de políticas de longo prazo, que protejam tanto a população quanto o meio ambiente. Isso inclui desde investimentos em infraestrutura de combate a incêndios até a promoção de práticas agrícolas sustentáveis que reduzam a vulnerabilidade da terra ao fogo.
UM CHAMADO À AÇÃO
Concluindo, é preciso fazer um chamado à ação. Olímpia não pode mais ser refém das chamas. A chuva de domingo pode ter apagado o fogo, mas não apagou a necessidade de mudanças profundas na forma como lidamos com esse problema.
Olímpia, no futuro, precisa ser lembrada por suas belezas naturais e seu desenvolvimento, a satisfação de sua população e não pelos incêndios que a consumiram.
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