25 de novembro | 2012

O pulsar da imaginação no leito de vida e de morte

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PARA NÃO …
… dizer que não falei das flores, olhei o orvalho que caia inundando aquelas pequenas folhas de gramíneas do jardim criado no interior do pequeno cérebro “elefantecefálico”. Como lágrimas que se juntam e escorrem pela face, aquele líquido que muitos dizem ser insípido, mas que muitas vezes é sorvido como se fosse néctar dos deuses, escorria entre os pequenos ramos que, olhados através de uma lupa, pareciam formar pequenos riachos, ganhando movimento, ganhando vida, vida que necessita ser vivida e não pode ser interrompida pelo bel prazer.

SAINDO DE …
… todos os cantos e entrando nesta terra em que todos são santos, alguns verdadeiros Deuses num Olimpo afeminado que tornou-se a terra em que este ser nasceu, onde tudo é festa, tudo é alegria e a própria morte sempre é esquecida, passados apenas alguns dias.

ONDE O POVO …
… parece que vive dopado, pois mesmo pisoteado pelos touros, não consegue nem espinotear, entra na arena, sai cambaleando e sorrindo como se tudo se resumisse àqueles momentos em que a vida se transforma no próprio circo.

É A ALIENAÇÃO …
… cada vez mais castrante. De um lado o próprio mercado que não para de criar moda para ser consumida, ser desejada, e fazer com que cada um viva sempre mais tempo buscando ter, esquecendo-se do ser.

AÍ SURGEM …
… crianças desassistidas, sem princípios, sem moral, sem juízo, aprendendo apenas que a vida é ter, ter e ter, para consumir, consumir e consumir, sem precisar saber, conhecer, questionar, sem buscar enxergar nada além do que é mostrado pela novela, pelos livros comerciais e por ideias inócuas, sempre valorizando apenas o consumir, o poder de ter, jamais a felicidade de saber o que é a própria felicidade através do se conhecer para enxergar o próprio mundo.
 

SENTADO …
… na cama do nosso único hospital, sem ter forças nem vontade de raciocinar, querendo apenas ficar longe da razão, mas sem possibilidade alguma de extravasar a emoção, a mente teima em vagar pelas cercanias do próprio mundo, carregado de imagens que machucam, de mortes que dilaceram os princípios baseados no amor, na pureza do belo, no pulsar do coração.

COMO QUE …
… dentro de uma grande tumba, sentindo as energias de tantos e tantos seres que já se desprenderam, que aqui deixaram seu último suspiro, a mente começa a ficar confusa. A tal da razão fica insana. Não dá para ter o comando da situação.

A IMAGINAÇÃO …
… começa a flutuar, a se libertar das amarras da consciência e sai a vaguear. Como se a mente se desprendesse do corpo, imagens começam a surgir, como se fossem vistas do alto, num pequeno sobrevoar.

SERES QUE …
… se foram, seres que ainda irão, mas todos cheios de bondade aparente, com a maioria carregada de pulsões de egoísmo, como se todos fossem únicos a sobreviver, lutando apenas para ter a própria vida, sem se importar com o outro, não percebendo que ao ser um só, apenas um, a solidão torna-se insuportável e o humano deixa de ser e passa apenas a sobreviver.

ENTRE GRITOS, …
… de dor física, outros de dor por não ter conseguido aproveitar estes sopros de vida que se esvaem rapidamente, por terem passado todo o tempo sem saber nem o que ser, são vários os semblantes que surgem, alguns marcados pelo sofrimento, outros pela rispidez de uma vida inteira interpretada como se fosse um personagem construído em tempos de guerra, outros pelo arrependimento de ter apenas se aproveitado dos demais, mas, todos, caminhando numa mesma direção, uma mesma rua de poucos quarteirões.
 

UNS …
… a passos largos, outros mais vagarosamente, mas todos num mesmo sentido, sem curvas, apenas oscilações de terreno. Confundindo-se dia e noite, dimensões diferentes e a rua com nome de pais árabe acaba por representar o caminhar rumo a morte.

SÃO MILHARES …
… nascidos em seus leitos e aproximadamente outros tantos que nestes mesmo leitos desfaleceram e tiveram que caminhar toda a extensão da citada rua para conhecer onde a própria carne foi ou irá ser devorada até se transformar em mera poeira mais ou menos densa que todas as outras.

QUANDO …
… neste leito se ganhou a vida, infinitas eram as possibilidades de ser, de fazer, de transformar, de melhorar, de modificar, de crescer, de conhecer, de criar, de amar, de ser feliz.

JA NESTE …
… mesmo leito, quanto se aguarda o exalar o último suspiro, embora outras dimensões possam existir, ou o demiurgo seja a própria inteligência, já não existe mais chances de nada, resta apenas rememorar o que foi ou deixou de ser feito. Resta apenas o navegar pelas águas turvas do que foi a própria vida.

NESTE MOMENTO, …
… entretanto, quebram-se todas as amarras, a visão, talvez o principal sentido, porém o mais enganoso quando se tenta enxergar o mundo, passa a visualizar tudo sem mágoas, sem rancor, sem barreiras, sem fronteiras, todos são irmãos, todos são perdoados, mas nem sempre se conseguirá obter o próprio perdão. Salve Jorge!

José Salamargo … ainda confuso, chocado com a finitude da própria vida, começando a enxergar quão importante é cada momento. Um minuto atrás, não volta mais. Torna-se lembrança que nem sempre será totalmente verdadeira, já que foi experimentada através dos corrompidos sentidos que realmente tornam mais difícil se encontrar o próprio sentido de se viver.

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