24 de maio | 2015

O PSDB e a volta da Richadura no Paraná

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Willian Zanolli

Este artigo, como tantos outros, poderia ter outro título, ou nem ter, fosse o caso, entre eles, “Professores pra vocês, meus olhos em prantos”, ou,”O dia que afogaram a Educação em lágrimas e sangue”.

Poderia ser romântico, histórico, filosófico, político, técnico ou de humor, mas esta tentativa de escrever e ser lido, e pode ser tudo isto e muito menos ou mais, por que nem começou a ser.

Dirigido pela emoção, pelo carinho gigantesco que tem pelo professor toda alma reconhecida e agradecida, vou deixar me levar até o âmago dos acontecimentos para retratar com o máximo de clareza, se isto for possível, o sentimento que se esconde envergonhado nas minhas profundezas pelas imagens de maltrato, dor e humilhação a quem nos ensina com tanta dedicação, carinho, amorosidade, que o melhor caminho para se trilhar na busca incessante da tal felicidade é exatamente o que não foi percorrido por aquela gente agressiva, maldosa e covarde que desfechava violência contra seres tão pacíficos, cuja única arma que dispõe é a lancinante, cortante palavra, por isto, talvez incomodem.

Não sei e nem lembro quem da elite que têm vindo às ruas pedir coisas absurdas e surreais, falou em artigo facilmente contestável que a situação política havia criado uma luta de classes no Brasil que estava em razão disto dividido entre pobres e ricos, elite branca e negros, explorados e exploradores, coisa que não havia antes no Brasil, segundo este profundo estudioso de coisa alguma.

Na semana das violências cometidas contra os professores no estado do Paraná esta teoria e tantas outras se confirmaram nas balas de borrachas e nos cassetetes que caíram sobre o lombo do professorado em Curitiba.

Ficou confirmado o que sempre esteve evidente, e de que lado está cada um dos que defendem direitos e deveres, e como fazem à defesa de seus interesses.

Não seria necessário explicar ao ilustre acompanhante desta leitura que há uma luta de classes, que há o aparelhamento do Estado e de que lado estas coisas ocorrem dentro da realidade, e fora das construções virtuais das salas de imprensa.

Tudo muito evidente, muito transparente, toda vez que o povo vai às ruas para defesa de seus direitos o estado fascista e aparelhado faz uso da força física e da extrema violência da Polícia Militar para inibir os manifestantes.

Contrário a isto, quando os manifestantes vão as ruas defender os interesses da elite branca, do patronato, ou dos privatizadores lesa pátria, as catracas do Metrô são abertas, ônibus são colocados a disposição da manifestação, policiais militares tiram selfies com manifestantes burgueses, e pasmem, muda-se o horário do jogo de futebol e os jornais e televisão atrelados ao estado aparelhado convocam para as manifestações, rompendo com a falsa idéia de imparcialidade e isenção.

É preciso falar de toda forma de corrupção e da que está entranhada no sistema de comunicação, jornalistas venais que vergonhosamente fazem e escrevem discursos emocionados e contundentes a favor da valorização do ensino ou contra a corrupção instalada no sistema e por dinheiro defendem gente desonesta, atacam manifestações democráticas, defendem a violência absurda e desnecessária de uma Polícia Militar com duas faces, uma que serve cinicamente ao capital e posa para selfie quando se trata de pedidos de impeachment e outra que inibe com gás lacrimogêneo e cassetete o tão sofrido professorado.

Angustiante as imagens que rodaram o mundo, sangrando, feridos os que dedicam sua vida a nos tirar da escuridão da falta de entendimento, humilhados por quem mais deveria respeitá-los por ser a Educação a responsável pela ampliação do nível de compreensão a que se pode conduzir um estado democrático social de direitos.

Desprezados por que alguns homens públicos sabem, reconhecem que sua estada no poder perdurará até o dia em que os cidadãos instruídos de forma adequada tenham compreensão do câncer que significa a presença de algumas figuras públicas no poder e através do voto repudiem sua noção estreita de mundo.

É preciso valorizar o professor, eis ai uma frase milhares de vezes ouvida em campanhas eleitorais e que a prática demonstra que não ocorre.

A valorização que trata o político decorre principalmente do baixo salário que é oferecido aos professores da rede pública em vários estados brasileiros, o que deveria ser corrigido sem nenhuma sombra de dúvidas, porém o próprio discurso evidencia um distanciamento da Educação, já que geralmente não aponta caminhos para a busca de soluções para a falta de qualidade do nosso ensino que não é culpa apenas e tão somente dos baixos salários ofertados.

Fica evidente nos discursos de campanha que a busca frenética é pelo voto cooptado pela promessa de melhoria salarial, e não pela melhoria do ensino público, quando a categoria vai as ruas reivindicar salários e melhorias no ensino público, não conseguem nem uma coisa e nem outra, recebe é cacetada no lombo.

O salário por que representa folha de pagamento, geralmente inchada com altos salários de secretários e comissionados, e melhoria no ensino público corresponde a dar informações às pessoas de forma a preterirem políticos demagogos, fisiológicos que prometem o que não têm a intenção de cumprir, pois mudando as pessoas possivelmente mudará o equilíbrio de forças.

Pode estar ai uma das muitas razões pela qual o mundo ficou chocado com a extrema violência com que foram tratados os professores do Estado do Paraná pelo governador Beto Richa, eleito pelo PSDB para governar aquele estado.

Sentimos pelos professores, pelo ensino como um todo, pois fica evidente que a postura do PSDB é de destruição do ensino público de qualidade e de não valorização do profissional dedicado ao ensino, a postura do governo do Estado de São Paulo tem identidade com o que há de pior no tocante a destruição e sucateamento do ensino público.

Ficamos tristes pelo que vimos, pela tragédia, pelo horror que foi o tratamento dispensado ao professorado, cenas que como bem retratou a mídia nacional e internacional não tinham sido vividas no Brasil nem no período mais tenebroso da ditadura militar.

Ocorre que os militares atuavam nos bastidores, nos porões, nos escuros, nas penumbras.

Tudo indica que o cinismo e a convicção da impunidade trouxeram a violência dos ditadores desavergonhadamente, em Curitiba, às ruas e à luz do dia.

Infelizmente o que não deveria ser contra ser humano algum foi contra os que por dever de oficio tem que lutar contra toda forma de opressão e a favor da liberdade sempre, mesmo contra as bombas de gás e os cassetetes da volta da Richadura no Paraná.

Willian A. Za­no­lli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no w­ww.­willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de segunda, quar­ta e quin­ta-feira, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque na Rádio Cidade FM 98.7 Mhz. E, aos do­min­­gos, das 10h00 às 12h­00 no programa Sarau da Ci­dade.

 

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