07 de junho | 2015

Ò nós de descanso, aqui nesta solidão sozinho

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Willian Zanolli

Tinha escrito um artigo chic, aqui nesta solidão sozinho, quando dei o tar de selecionar tudo, deu um crepe que nem sei bem o que foi, que não entendo pissiroca nenhuma desta joça chamada computador, e perdi tudo.

Como nunca consigo lembrar nem o que eu comi hoje de manhã, como vou fazer para refazer este artigo?

Melhor é como o viajante, ir seguindo em frente que a vida às vezes dói mais que dente.

Mômôzinha, a motoquinha que acelera nos meus ouvidos de madrugada com sua se­resta maravilhosa de motor de cento e vinte cinco cilin­dradas e durante o dia me ensina como se escreve um artigo com relativa facilidade, do lado, só passando a técnica enquanto viajo na maionese.

Gaby, a cadelinha poodle, só tirando de sacanagem o diálogo entre adúlteros que se desentendem.

Espera a mãe adotiva dar um tempo, dá uma pisca­dinha e sugere em franca linguagem canina pra escrever sobre a utilidade das pulgas e a inutilidade dos políticos.

Há que se repensar este planeta, penso eu na minha solidão sozinho.

E não é que esta cachorrinha decidiu se preocupar com questões políticas como se não bastasse eu neste espaço de convivência pacífica e ordeira que chamam de lar.

E, curioso, pergunto em perfeita linguagem canina, que conheço de outros carnavais, qual seria na opinião da minha sábia cadelinha a utilidade do saltitante inseto e de alguns inúteis políticos de hoje em dia?.

Como só pode acontecer a uma douta e culta cachorra que dorme sobre livros, coçou a orelha que a otite incomoda e em linguajar inicialmente prolixo passou a desvelar a identificação entre pulgas e políticos.

Ambos, segundo sua interpretação de mundo vivem de sugar sangue, uma encostada ao lombo dos cães e outro pendurado a teta gorda do poder público, uma rouba a saúde animal, o outro de forma animal rouba a saúde das finanças públicas.

A pulga leva vantagem em relação aos políticos, pois para viver e sobreviver vive dando seus pulos, se desviando de pêlos e unhadas, garras e dentadas, se escondendo nos lugares mais inimagináveis, e pra sugar um pouco de sangue tem que furar couro grosso enquanto o político, ao contrário, parasita, vive imóvel, rouba o sangue de muita gente, drena recursos públicos para o seu bolso sem grandes saltos e sobressaltos e o couro da população de tão sofrida é fino, fácil de levar no bico.

A pulga anda no lombo da cachorrada sarnenta aos sacolejos, vez em quando tem um rolar no esqueleto podre do sapo, na carniça, uma sarna de brinde.

O político porco não, anda no assento de couro de suíno, boi ou jacaré, do carro último ano, último tipo, comprado com dinheiro público.

Leva a família na escola, no dentista, na praia, nota fiscal fria pra justificar a despesa, e acha tudo legal, tudo moral, tudo decente.

Eta cachorrinha informada esta Gabi, está sabendo mais que eu de política e safadeza, e pensar que eu falava tão pouco com ela, flagrei rasgando um livro do Marx, pensei que fosse alienada, mas nada, me surpreende a cada latido, palavra.

E foi se arrastando nas explicações com uma coerência que me deixou abismado. Político, na opinião dela, salvo algumas raras exceções, só não devem ser chamados de cachorros porque cachorro tem brio e vergonha na cara e não faria certas canalhices que os políticos fazem, afinal, nascer cão não é pra qualquer um não.

E tem razão esta cachorrinha nas coisas loucas que ela me fala, eu e muita gente não trocaria um cachorro por um político.

Ela invade meus pensamentos e me lembra que nem pra latir eles prestam, é gente ruim sem pelagem, sem pedigree, uivar pra lua é coisa de cachorro grande, coisa de poesia que eles não vão ter nunca, haja humanidade neste simples gesto, não é coisa que parasitas compreendam.

E pulga? Onde vai ficando nesta coisa. Minha querida Gabi não falou pelo menos até agora com a clareza que a coisa exige.

E ela filosófica prática, adepta da maiêutica socrática, diz que pulga, embora como político e muitas pragas idênticas, podem ser eliminadas com mais facilidade.

No banho um monte já correm para o ralo, outro tanto a água quente cuida de eliminar, o shampoo Xan Dog mata outro tanto, se sobra uma ou outra o anti pulgas manda para o inferno ou o céu dos cães, outras como os políticos corruptos que se proliferam com facilidade voltarão e serão milhões a infestar o bicho como infestam o legislativo e o executivo, causando danos a saúde dos animais como os animais políticos causam danos a saúde física e moral da sociedade.

Já com o político não é assim, não é fácil eliminar político corrupto, basta ver o quanto proliferam na sociedade, o estrago que fazem, não desinfetam facilmente, não largam o osso, e mordem com garra a grana pública.

Nossa, esta cachorrinha saiu-se melhor que a encomenda, apenas não falou ainda da utilidade das pul­gui­nhas e da inutilidade dos políticos, nada que uma pressão não faça saltar de sua canina e ferina língua.

A pulga, segundo ela, se colocada em uma frigideira morna com uma música de fundo até aprende a dançar, anima o circo, o político não há frigideira por mais quente que esteja que faça com que sua bunda abandone a cômoda e confortável situação de ex­pro­priador dos cofres públicos para fazer alguma coisa que demonstre alguma utilidade.

A pulga dança para que o povo se distraia nos circos, o que não pode ser muito humano e correto, nem legal, com o político quem dança sem nenhum prazer é o povo, sem música, em um circo de horrores onde a palhaçada é mundo cão, como dizem dos programas policiais de TV.

Cadelinha esperta esta, sacou de mundo, de sociedade e de Brasil muito mais que eu em anos de luta e labuta pelos corredores mar­ginais da política brasileira.

Caso volte, esta semana da esbórnia a que se entregou meu gato Bylli Briguento, sendo ele noctívago, boêmio, errante, vagabundo, vaga­mundo, de miar para estrelas em noites insones, ébrio dos amores fugídios e errantes, voltando vivo do freche, conversaremos de política e sociedade.

Se sabe tanto de ca­cho­rradas políticas esta dama peludinha, poodle de camas e sofás, saberá de gatunagens muitas este errante noturno, gato vivido e esfolado nas mandriagens deste mundão, e se o conheço bem as desfiará para nós.

Caso o incerto, o tenha levado como Madame Satã na falha de alguma pernada, um golpe nos cornos, algum  fio de alguma navalha, uma carne moída envenenada, coisas de destinos incertos que terminam seus dias e glórias antes de ver todas as luas e viver todas as histórias, nos resta outra opção.

Falaremos às maritacas que povoam de leros e lorotas os altos da jaboticabeira.

Pelo barulho que fazem, pelas andanças por fios de postes nas ruas, forros, quintais, antenas, terão muita fofoca, muito fuxico para contar.

Afinal, os animais irracionais que falam, vêem silenciosamente todas as falhas dos animais irracionais que falham.

Por isto que na outra encar­nação, se houver e se eu voltar, cachorro quero ser.

Muito embora muita gente pense que eu sou.

Fico maravilhado do quanto que qualquer cachorro, pulga, gato, maritaca vale mais que muitos seres humanos, e se for político então, será difícil achar um que valha mais que uma pulga.

 

Willian A. Za­no­lli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no w­ww.­willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de segunda, quar­ta e quin­ta-feira, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque na Rádio Cidade FM 98.7 Mhz. E, aos do­min­­gos, das 10h00 às 12h­00 no programa Sarau da Ci­dade.

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