26 de dezembro | 2016
O Natal e essa energia que teima em contagiar: pelo amor ou pelo desejo?
EM ÉPOCA DE …
… convivência com nossos mitos e, principalmente, de sobreviver às guloseimas e à magia mística de uma data que não dá pra distinguir se mantenedora da fé, ou se escrava do novo deus que reina soberano em nossos tempos, impondo gostos, e suas próprias verdades absolutas: o tal do deus Mercado.
MAS NÃO …
… era só na antiguidade, antes do surgimento dos filósofos, por volta dos século VII Ac., que o ser humano se subvertia ao mito, ao místico, àquilo que não é palpável, àquilo que não tem como passar pelo crivo da razão. Atualmente, também convivemos com esta dualidade muito arraigada em nossos costumes. É preciso dominar a massa robotizada para que seja cada vez mais robô trabalhador e consumidor, ou seja, mero escravo trabalhando pela mera sobrevivência, sem arte, sem gozo, apenas para poder comprar, comprar e comprar, como se isso fosse a verdadeira felicidade, sem saber que é justamente esta falsa ideia que sustenta a própria miséria humana.
MAS, …
… não tem como fugir da metafísica do poder. O ser humano que não tem capacidade, alimento cultural para refletir criticamente, parece ser facilmente dominado pela mística alienante.
TENTEMOS, …
… conjuntamente em conjunto, “é nóis”, (como diz o Tonelzinho) enxergar, por exemplo, esta magia que envolve as crianças nesta época de natal. Criou-se a figura de Santa Claus, ou o tal do Papai Noel, para fazer com que o comércio e a indústria vendam mais do que em qualquer época do ano, com a falsa ideia de celebrar o nascimento de um ser humano que, se realmente existiu, é apresentado pela história como um sujeito que refletia e, como pensador, abominava o consumismo, defendia a simplicidade, o amor ao próximo, o pensar social e não apenas o mimo material.
MAS FIZERAM …
… da comemoração de seu nascimento um momento de muitos afetos, afagos e declarações de amor, um momento místico, de muita magia e troca de energia, mas regado à bebida, ao consumo exagerado e à troca de presentes cada vez mais caros e em quantidade diversificada para poder sustentar toda uma estrutura que promove a desigualdade e a própria desumanização da vida.
SOU RÉU, …
… confesso. Principalmente da energia sem ranços, sem vício, sem maldade emanada das crianças. Nunca recebi um abraço tão afetuoso, tão amoroso, tão reconfortante, como o que obtenho quando coloco aquela roupa vermelha para entregar os presentes “consumistas” para o amor mais louco e arrebatador que já experimentei em toda a minha vida: o da minha amada Nicole.
DA ÚLTIMA VEZ …
… até abusei, pois usei a fantasia de Papai Noel para distribuir seus presentes no dia do seu aniversário.
FOI UM ABRAÇO …
… tão forte, tão apertado, que parecia que, naquele momento, havia me transformado no ser mais forte do mundo, mais feliz, mais inteligente, mais tudo. Era tanta energia emanando daqueles bracinhos pequenos, finos, mas que pareciam soltar faíscas, verdadeiros raios de luz ou seja lá o que for.
ONDE ESTARIA …
… a razão neste momento? Como explicar esta emoção? Esta energia sendo passada de um para o outro. De um serzinho tão pequeno para um gigante totalmente corrompido por traumas, frustrações, complexos, hábitos, costumes, preconceitos entre muitos outros.
SIMPLESMENTE …
… seria motivado pela criação de um mito para que as crianças fiquem obedientes durante um ano para poder receber a recompensa: os presentes trazidos pelo Papai Noel? E que até os adultos acabam sendo fisgados?
DE UMA FORMA …
… ou de outra, ou nas duas possibilidades, cria-se um mito. E o misticismo numa população contaminada pela estrutura do pensamento religioso (que, da mesma forma que a criança tem que se comportar o ano inteiro para receber o presente, tem que viver casta e obedientemente para poder herdar o paraíso, lá sim, é o lugar para ser feliz), acaba se transformando numa virtualidade realística e o humano, humano demais, entra em estado motivacional, deixando a emoção à flor da pele.
AÍ, ATÉ BEIJO …
… de novela faz chorar. Qualquer coisa é motivo para abraços, beijos, declarações de amizade, de amor, de promessas, etc.
PARECE QUE …
… o mundo fica envolto em uma energia mágica, determinante de pensamentos positivos que acabam por diminuir o número de brigas, desavenças e até de crimes.
PARA MUITOS …
… a explicação não mística, mas da razão, é a de que somos energia. E, se somos, podemos transmiti-la uns para os outros. E se em apenas dois dias, no Brasil, por exemplo, nossos 200 milhões de habitantes ficarem todo o grande espaço de 48 horas antenados em energias de amor, de desejar o bem para o outro, de alteridade pura (no sentido antropológico da palavra)?
SIMPLESMENTE …
… juntaríamos uma quantidade de energia tão grande, talvez suficiente pra iluminar outros tantos milhões de seres, ou simplesmente um ao outro, a alteridade energética. A troca que leva ao êxtase, a momentos em que a alegria pode se confundir e ir de um sorriso às lagrimas em questão de segundos, sem que isto possa significar tristeza, mas simplesmente emoção pura, no seu estado mais elevado.
A EXPLICAÇÃO …
… dada pela razão embora se confunda com a mística, é mais palpável, mais crível. No caso vai muito além do apenas acreditar, mas chega ao ponto em que as sinapses transbordam, inundam nosso cérebro, esparramando esta energia, causando êxtase.
DAÍ SURGE …
… o externar de sentimentos, sensações de desejo que tudo de bom aconteça para os mais próximos, às vezes até para os não próximos.
AÍ, NO …
… entanto, que surge a grande dúvida filosófica. Enquanto estamos apenas no choque entre o positivo e o negativo que causa faíscas do bem e não do mal, parece que vai tudo bem, mas não. Começa então a grande discussão: o que é o bem ou o bom? O que é o mau ou o mal? Eis a questão!
A GENTE …
… aprende desde criança que o bom e o mau ou o bem e o mal são convenções impostas pela nossa tradição, pelos nossos costumes. Por isso que o que é certo e errado aqui, pode não ser em outros países, em outras regiões do planeta. Diferenças existem até dentro do próprio Brasil. Vários costumes, várias regras existentes no Rio Grande do Sul são diferentes das do Rio Grande do Norte, por exemplo.
SEM APROFUNDAR, …
… isto quer dizer que o que é certo em nossa região pode não ser certo em outras regiões, mas não significa que não tenha que ser o certo pra gente. Para carimbar, para que possamos referendar a tese, teríamos que refletir criticamente sobre ela. Quem faz isso? Poucos. A grande maioria simplesmente aceita e passa a julgar o próximo de acordo com estes certos e errados.
ENTÃO, …
… quando desejamos tudo de bom nesta época do ano, desejamos aquilo que puseram na nossa cabeça que é o certo, como coisas materiais, ou seja, poder comprar, comprar, comprar e comprar. E… para isso, trabalhar, trabalhar e trabalhar. Quando a história prova e comprova que quem sempre trabalhou na história da humanidade foram os escravos, que viviam pela mera sobrevivência. Hoje é diferente?
ENTÃO …
… desejamos que todos tenham condições de ter um bom trabalho para poder ganhar, ganhar e ganhar e gastar, gastar e gastar. Mas será que é isso que o momento traduz? Que a troca de energia, de sinergia, de união seria apenas isso. Ou seja, isso é a Felicidade? Onde fica o amor incondicional, o se conhecer para conhecer, o evoluir como ser?
TRADUZINDO, …
… nossos sentimentos nestas 48 horas são de fraternidade, de alteridade, de amor ao próximo, de amor incondicional, mas a razão, deturpada pela falta de conhecimento e pelos preconceitos impostos pela educação, nos leva ao Eros, ao desejo. E o desejo é falta. Desejo o que não tenho. E quando consigo não desejo mais. Tenho que desejar outra coisa. Consumo, consumo, consumo.
José Salamargo, confessando que a ideia inicial era criticar a falta de energia elétrica, a situação caótica em que se encontra esta cidade, cuja concessionária não consegue suprir as necessidades de distribuição principalmente em ocasiões em que a cidade recebe grande fluxo de turistas… mas a outra energia foi mais forte que dominou o texto. Feliz Natal! Que a energia gerada por este ser para quem a meta é física alcance a todos, não só nestas 48 horas, mas nos próximos 360 e tantos dias que começam a partir do próximo final de semana …
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