12 de abril | 2015

O mundo é dos gays, dos héteros ou dos preconceitos?

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Do Conselho Editorial

Incrível como vem crescendo no país uma onda histérica de homofobia com um crescente de violência contra gays ou casais nesta condição, como nunca houve antes na nossa história.

Se formos ou somos alguma coisa no universo das crueldades, se temos algumas feridas que mancham nosso passado e respingam no presente ela se encontra exatamente nos pelourinhos, na ponta das chibatas, nos seios das negras que foram mutilados por maldades pelos senhores brancos, nos olhos arrancados do escravo com selvageria, nos corpos negros melados de açúcar postos ao sol escaldante para morrer vagarosamente na porta dos olheiros das formigas.

Se temos um passado cinza e escrito em vermelho ele está bem gravado no sangue que escorria da gente trazida da África para morrer pendurada em ferros derramando gota a gota de sua vida nos pisos de pedra das fazendas dos oligarcas cruéis do império.

Se afora estas grandes malvadezas tentássemos ir um pouco além esbarraríamos em braços e pernas amputadas de indiozinhos que os bravos bandeirantes ávidos pelas riquezas naturais jogavam para alimentar os cães que acompanhavam a caravana, enquanto os indiozinhos morriam devagar vendo as últimas imagens de sua aldeia queimada e dos índios com cabeças decepadas e barrigas com a tripa fora por todo canto da aldeia.

Ou toda “indiarada” amarrada pelo pescoço em uma única corda se arrastando pela mata afora às vezes arrastando cadáveres que sucumbiram à caminhada.

Há muito mais tristezas acumuladas por estes sertões desta brasa Brasil que ainda queima preconceitos e discriminações pelo que entende como diferente.

Canudos, da Guerra do fim do mundo, história recente de ódio e dor onde milhares foram mortos pelo exército brasileiro, tiveram ceifadas suas cabeças entre outras razões por não aceitarem a instalação da república.

Histórias de crueldade e perseguições é o que não falta nesta imensa nação, porém, em 2015 não se esperava que repentinamente, do fundo esquecido do poço de surpresas que são os seres humanos, pudesse brotar tanta radicalização em relação as opções sexuais.

A discussão em relação à opção de cada um é anterior à Grécia antiga e parecia, se não bem resolvida no cenário social brasileiro, pelo menos fora dos excessos e radicalismos praticados em países em que a orientação sexual costuma ser tabu e a repressão a regra.

Os brasileiros que, em grande parte, nunca aceitaram tranquila e serenamente a discussão e sempre se opuseram a discutir sobre o viés da convivência harmônica, nunca foram, como agora, tão intransigentes em relação à questão.

A pauta do crescimento da homofobia, sem as tradicionais generalizações, sem estudo científico que possa embasar teoricamente a discussão, parece coincidir com o crescimento das bancadas evangélicas na Câmara e no Senado e a quantidade enorme de leis visando a instalação de uma visão evangélica no cenário político, social e educacional do país.

Pode parecer preconceituosa e discriminatória esta posição, visto que há no segmento evangélico quem discorde, e não são poucos, da postura de retaliação sugerida com pretensão de que seja imposta, e até se posicionem publicamente contra a direção perigosa de algumas lideranças que conduzem para o divisionismo e a divisão da sociedade que pode culminar nas famosas guerras santas que invariavelmente acabam em inquisições.

Este coincidente crescimento que acaba indo de encontro ao pensamento mais conservador do catolicismo e encontra amparo e guarida nos adeptos da volta da ditadura tem feito vitimas e irão produzir muito antagonismo ainda.

Várias vertentes de diversos pensamentos convergentes aos extremos de direita que comungam das mesmas opiniões tem estimulado esta disputa horrorosa e esta queda de braço visando a implantação de uma nação que nunca mais existirá, no máximo, conseguirão um banho de sangue no país.

Difícil a semana em que um jovem ou uma jovem não são humilhados, espancados ou mortos por causa de suas opções sexuais e quando a notícia sai nos jornais, blogs ou faces é assustador o posicionamento de pessoas ligadas ao reacionarismo dos evangélicos, católicos e amantes da ditadura militar,chega a amedrontar a maneira como determinadas pessoas tratam a morte de outro por apenas divergir de seu posicionamento diante do mundo.

A sensação que se tem é que grande parte dos brasileiros se transformou em poço de ódio e insensibilidade, chega a não ser crível a felicidade, amargura e fel que determinadas pessoas destilam diante da dor e da crueldade cometida contra outrem.

O terrível é que muitas destas pessoas invocam Jesus ou Deus como se fora eles justiceiros que desejam eliminar do mapa pessoas que não aceitem posturas que elas interpretaram que são imposições bíblicas.

A continuar assim, se não houver um paradeiro em tudo, se não houver trabalho de conscientização, leis que intimidem, ou punam exemplarmente estes exageros daqui a pouco tempo os gays e lésbicas, seres humanos que devem ser respeitados como todos, entrarão infelizmente na lista de crueldade desta nação, cometida contra negros, contra índios, contra conselheiristas e ao que parece contra tudo que não represente o pensamento único em total desacordo com a característica do brasileiro que até a pouco vivia e convivia maravilhosamente com a beleza de sua diversidade que o radicalismo aliado ao fanatismo religioso parece pretender exterminar.

 

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