08 de setembro | 2019

O jornalismo e a mera opinião a serviço da politicagem

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“Não basta apenas sentir, pois os sentidos enganam. Não basta apenas imaginar, pois toda imagem um dia foi fruto dos sentidos. Não basta apenas acreditar, pois quem crê não precisa saber. Não basta julgar apenas pelas aparências, pois estas nem sempre representam o conteúdo. É preciso sempre ir um pouco além. É preciso ter paciência e vontade de buscar o entendimento através do detalhamento do fato e a sua comparação com outros fatos; do confrontamento do resultado com outros resultados. É preciso refletir para ser o máximo possível fiel com a própria realidade, pois a verdade não existe já que nada existe, tudo sempre está a existir e deixar de existir, virar passado. O agora já passou”.
Mestre Baba Zen Aranes.

O MUNDO, …

… em tempos de tecnologia, vive uma situação complexa quanto às narrativas, as construções de linguagem, que servem para retratar a sua realidade?

ATUALMENTE, …

… principalmente no terceiro mundo, onde se inclui este imenso país, habitado por analfabetos, chamado Brasil, as verdades absolutas que eram passadas pela religião, pelos costumes, pela tradição e confrontadas pela ciência, deram lugar, com as facilidades de manifestação proporcionadas pela tecnologia, ao “personal judge”, ou seja, ao juiz pessoal em tradução literal.

TODOS, …

… individualmente, viraram portadores de suas próprias verdades absolutas e julgam o semelhante muito mais pelos sentidos do que pela razão.

O MERO …

… entendimento baseado na imaginação, sem o crivo da experimentação científica, ou sequer a pesquisa mera e simples hoje proporcionada pelos mecanismos de busca da internet, transformaram os seres em juízes implacáveis que além de condenarem ou absolverem de acordo com seus impulsos, ou a mera percepção, ainda aplicam as próprias penas, prejudicando relacionamentos familiares e até a própria vida daqueles que colocam no seus bancos dos réus.

COM A IMBECILIZAÇÃO …

… proporcionada por um sistema educacional que não consegue criar cidadãos aptos à reflexão crítica, que busquem respostas para os temas em questão, nos vários campos do conhecimento e comparem com os de outros que se preocuparam em achar respostas para as mesmas perguntas ou semelhantes, surge toda uma geração de “achis­tas”, de seres propensos à acatar e defender ideologias baseadas na subjugação através de modismos e da ideia de que felicidade é o atendimento da maioria dos desejos via consumo.

SÃO MILHÕES …

… de zumbis, que saem às ruas com os dentes afiados em busca de seus algozes, aqueles que não participam do seu grupo, da sua tribo, os que não vivem dentro de caixinhas parecidas com as suas. E ao invés do sangue de seus antagonistas, buscam o prazer pelo ódio que leva a destruição do outro e de si mesmo.

COMO ANIMAIS…

… que vivem reagindo pelo instinto, os zumbis quase humanos, passam suas vidas para atender os desejos – o instinto pensado – lutando pela mera sobrevivência num pequeno mundo onde a guerra é constante, onde sentimentos como solidariedade e amor ao próximo viraram coisas do passado; hoje a luta é para continuar vivo num sistema escravi­zante em que se tornam meros números enganados por uma liberdade que não existe.

NEM A DE …

… ir e vir, tão propagada e que tem até remédio jurídico para garanti-la, o tal do Habeas Corpus. Ou você acha que a grande maioria tem condições de visitar a Disney quando bem entender? A grande maioria dos olimpienses não tem condições nem de ir ao Shopping em Rio Preto passar vontade (desejo de consumo) olhando as vitrinas das lojas ou vendo os outros se deli­cian­do nas guloseimas das praças de alimentação.

QUE LIBERDADE …

… é essa que precisa de dinheiro para ser exercida e só quem tem consegue exercitá-la? E o que é pior, num lugar em que apenas cinco famílias detêm metade das riquezas produzidas pelo país; onde apenas 10% de todas as riquezas são distribuídas para 90% de população, enquanto os outros 10% ficam com os 90% restantes.

MAIS CRUEL AINDA …

… é entender que a tendência é a de a situação se agravar ainda mais, na medida em que o futuro tecnológico cobrará das populações capacidades que elas não têm para se firmar num cenário ca­da vez mais escra­vi­zan­te governado pelos detentores de um capital que transformou empresas em meros bancos de investimento. O mundo é dos “rentistas”.

BOM, MAS QUAL …

… era mesmo o assunto? Ah! A questão era sobre jornalismo e mera opinião.

GENTE, …

… nunca na história deste país, presenciei tamanho festival de imbecilidade jornalística como ao assistir o programa Roda Vida com o jornalista Glenn Greenwald, criador do site The Intercept que no Brasil tem divulgado as conversas dos procuradores e do juiz Sérgio Moro pelo Telegran no escândalo que ficou conhecido como “Vazajato”.

O PROGRAMA …

… que se destacou por ser de entrevistas com pessoas que estejam se notabilizando em alguma área, geralmente, com perguntas formuladas por representantes de cada área, desta vez, ficou parecido com um tribunal de inquisição.

CLARO …

… tudo isso tem a ver com o que refletimos no início deste texto e também, quem sabe, por interesses politiqueiros mil.

MAS, NO CASO …

… específico, Glenn foi chamado ao programa para falar da verdadeira bomba atômica que lhe foi passada sabe-se lá se por um ou mais hackers, por membros da própria polícia federal ou do Ministério Público Federal, ou até por espiões norte-americanos que já grampearam até o telefone da antiga presidente Dilma Rousseff.

GLENN, …

… em junho de 2013, através do jornal britânico The Guardian, foi um dos jornalistas que, em parceria com Edward Snowden, levaram a público a existência dos programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional (NSA). A reportagem sobre o programa de espionagem da NSA ganhou o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014 e, entre vários outros prêmios, no Brasil, foi agraciado com o Prêmio Esso de Reportagem, por artigos publicados no jornal O Globo acerca do sistema de vigilância virtual dos Estados Unidos em território nacional.

O NORMAL …

… seria que as perguntas fossem diversas e de cunho jornalístico, pois a esmagadora maioria dos componentes da bancada de entrevistadores era composta por ditos operadores do jornalismo.

NO ENTANTO, …

… parecia que o jornalista americano estava num tribunal de inquisição e que era um criminoso.

POR DEZENAS …

… de vezes, com sua calma imensurável, teve que explicar a seus inquisi­do­res que divulgar material de interesse social, mesmo que obtido de forma criminosa por outrem, não é crime quando divulgado por jornalista. Praticou o crime quem “hackeou” ou obteve a informação e não o jornalista que a divulgou. Este tem garantia do artigo 5º da Constituição que fala do sigilo da fonte.

AO FINAL …

… do programa, uma despreparada ou mal intencionada teve a coragem de dizer que se isto era possível então era só substituir os jornalistas das redações por “hackers” que estava tudo certo.

GLENN …

… não se alterou e com toda calma voltou a dizer que se o jornalista hackear alguma coisa estaria cometendo crime, mas se publicasse informações de interesse público que tivessem sido repassadas por outros, mesmo que fruto de “hackeamento” criminoso isto não seria crime, mas obrigação do ofício de jornalista..

A GRANDE LIÇÃO …

… que fica é a de que existem “profissionais” e profissionais. Mas a grande tristeza é se constatar que as faculdades estão despejando no mercado pseudoprofissionais totalmente despreparados em todas as áreas, mas na comunicação, principalmente, estão surgindo os especialistas em confundir “achismo” com jornalismo.

José Salamargo – neste momento “achando” que achar, seria mais um achado do “achismo” dos tempos modernos.

 

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