19 de maio | 2024
O homem como lobo do próprio homem
“Vivemos em um tempo em que a busca desenfreada por bens materiais e status social e o domínio do Deus Mercado escraviza a todos, ditando as regras que levam ao consumismo, suplantando valores fundamentais como empatia, respeito ao próximo e solidariedade, criando uma sociedade onde todos lutam contra todos”.
José Antônio Arantes
O aumento alarmante dos casos de violência entre crianças e adolescentes nas escolas, evidenciado pelo recente incidente de um “mata-leão” aplicado por um aluno em outro dentro de um ônibus escolar e que quase teve consequências drásticas, coloca toda a sociedade diante de uma crise que não pode mais ser ignorada.
Este não é um problema novo, mas a sua visibilidade aumentou exponencialmente com a proliferação do capitalismo selvagem que destrói a empatia e o amor ao próximo e, principalmente, da internet e suas redes sociais. A sociedade precisa reconhecer a gravidade dessa situação e tomar medidas urgentes para combatê-la.
Em primeiro lugar, é essencial reconhecer que a violência nas escolas é um reflexo direto da violência que permeia a sociedade como um todo. Vivemos em um tempo em que a busca desenfreada por bens materiais e status social e o domínio do Deus Mercado escraviza a todos, ditando as regras que levam ao consumismo, suplantando valores fundamentais como empatia, respeito ao próximo e solidariedade, criando uma sociedade onde todos lutam contra todos. As crianças, ainda em formação, absorvem e reproduzem o que veem ao seu redor. Portanto, a responsabilidade pela mudança começa em casa e se estende a todas as esferas da sociedade.
MAIS AMOR, APOIO E DIÁLOGO
Os pais e responsáveis têm um papel crucial nesse processo. É necessário que eles estejam mais presentes na vida de seus filhos, oferecendo amor, apoio e diálogo. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos como substitutos da presença parental é uma prática prejudicial.
Crianças e adolescentes precisam de limites claros e de orientação sobre o que é aceitável e o que não é. Devem aprender desde cedo a lidar com conflitos de maneira pacífica e a desenvolver habilidades sociais que lhes permitam conviver harmoniosamente com os outros.
As escolas, por sua vez, precisam adotar políticas mais eficazes contra a violência. Programas de prevenção e resolução de conflitos devem ser implementados de maneira sistemática e a própria discussão direta com os alunos sobre os problemas atuais através de técnicas comportamentais.
PARCERIA, ESCOLA E FAMÍLIA
Outra necessidade premente no setor é a formação continuada de professores e funcionários para identificar e lidar com comportamentos agressivos. Além disso, é crucial que haja uma parceria constante entre escola e família para monitorar e orientar os alunos de forma conjunta.
A educação deve ir além da simples transmissão de conhecimento. Ela precisa focar na formação integral do ser humano, promovendo valores éticos e cidadãos. As escolas devem ser espaços seguros e acolhedores, onde os estudantes se sintam respeitados e valorizados. Para isso, o currículo escolar precisa incluir temas como cidadania, direitos humanos e convivência pacífica.
PODER PÚBLICO TEM QUE INVESTIR EM EDUCAÇÃO, SAÚDE MENTAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL
O poder público também tem um papel importante a desempenhar. Políticas públicas voltadas para a proteção e o desenvolvimento das crianças e adolescentes devem ser prioritárias. Investimentos em educação, saúde mental e assistência social são fundamentais para criar uma rede de apoio eficiente. É necessário que as autoridades tratem a violência escolar como uma questão de segurança pública e implementem medidas preventivas e corretivas com rigor.
Os meios de comunicação, por sua vez, têm a responsabilidade de tratar o tema com a seriedade que ele merece. A cobertura jornalística deve ir além da simples exposição de casos de violência, buscando aprofundar as causas e apontar caminhos para a solução.
Em resumo, a violência nas escolas é um problema complexo que exige uma abordagem mais detalhada e que aborde os vários aspectos que compõem o problema. Todos – pais, educadores, autoridades e sociedade em geral – têm uma responsabilidade compartilhada.
ESFORÇO CONJUNTO E COORDENADO
É preciso que trabalhem juntos para criar um ambiente onde as crianças e adolescentes possam se desenvolver de forma plena e segura, aprendendo a refletir sobre quem são e quem podem ser. Somente com um esforço conjunto e coordenado esse quadro alarmante poderá ser revertido para garantir um futuro melhor para as próximas gerações.
Eis a questão que é decisiva. Ou a grande maioria dá uma pausa para refletir sobre o seu próprio futuro e o dos seus e trata o problema com a importância que ele detém, ou se decreta, em conjunto com a própria destruição da natureza, um futuro distópico, com a sociedade deixando de ser sociedade do Deus Mercado e voltando ao estado de natureza, onde o homem, sem medo de leis coercitivas, efetiva seus instintos, voltando a ser lobo do próprio homem.
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