19 de fevereiro | 2023

No país dos sertanejos a cuíca vai roncar até quando?

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“O samba, maracatu e o trevo, marcha, axé, em muitos lugares cederam espaços ao sertanejo e outras intervenções musicais que não tem identificação alguma com o carnaval”.

 

Do Conselho Editorial

Este ano o Carnaval, oficialmente, acontece nos dias 20 e 21 de fevereiro, segunda e terça-feira, respectivamente. Os dias anteriores são dias de folia.

A data muda todos os anos, já que não é definida por meio de um calendário.

Com base nestas informações, chega-se a conclusão óbvia de que a Quarta-Feira de Cinzas ocorrerá no dia 22 de fevereiro.

A data, para que ocorra o carnaval, é calculada de acordo com a comemoração da Páscoa que, neste ano, será celebrada no dia 9 de abril.

Para os que têm preguiça de fazer contas, mas gostariam de saber, a quarta-feira de Cinzas acontece 46 dias antes da Páscoa.

Outra informação que alguns desconhecem: o Carnaval não é feriado nacional no Brasil e, sim, ponto facultativo. Exceção para alguns Estados e cidades que definiram em seu calendário como feriado.

Muitos faltam ao trabalho, mas a liberação dos dias de trabalho depende da boa vontade e da disposição carnavalesca de cada empresário.

Ao contrário do que muitos pensam, o carnaval não é uma festa genuinamente brasileira. Foi trazida pelos colonizadores portugueses entre os séculos XVI e XVII, manifestando-se inicialmente por meio do entrudo, uma brincadeira popular.

À medida que o tempo foi passando, o Carnaval foi adquirindo outras formas de se manifestar, como o baile de máscaras.

O surgimento das sociedades carnavalescas contribuiu para a popularização da festa entre as camadas pobres.

A partir do século XX, a popularização da festa contribuiu para o surgimento do samba, estilo musical muito influenciado pela cultura africana, e do desfile das escolas de samba, evento que acabou sendo oficializado com apoio governamental.

Nesse período, o Carnaval assumiu a sua posição de maior festa popular do Brasil.

Importante notar que o início do carnaval, que foi o entrudo, era uma brincadeira muito popular em Portugal e foi muito popular até o século XIX, desapareceu em meados do século XX em razão da repressão que se estabeleceu contra essa brincadeira. O entrudo não era algo muito saudável, pois se manifestava através de zombarias públicas.

A forma mais conhecida era o jogo das molhadelas, realizado alguns dias antes da Quaresma e que consistia em uma brincadeira de molhar ou sujar as pessoas que passavam pela rua.

As brincadeiras eram realizadas publicamente, mas também poderia ser realizado de maneira privada e o jogo das molhadelas consistia em produzir recipientes que eram preenchidos de determinado líquido.

O líquido poderia ser aromatizado, mas também poderia ser malcheiroso e, neste caso, o recipiente era preenchido com água suja de farinha ou café, por exemplo, e até mesmo urina ou fezes misturada a outros líquidos.

No século XIX ocorreu uma campanha intensa contra o entrudo.

Como resultado da passagem da monarquia para a república, da atuação mais consistente do Estado em ações de gentrificação (expulsão das camadas populares dos centros das cidades) e da repressão as manifestações populares, a prática perdeu forças no começo do século XX.

Para variar, a imprensa foi uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento da campanha contra o entrudo no Brasil.

Enquanto o entrudo era reprimido nas ruas, a elite do Império criava os bailes de carnaval em clubes e teatros.

No entrudo não havia músicas, ao contrário dos bailes da capital imperial, onde eram tocadas, principalmente, as polcas.

Percebeu o leitor que já rasgou muitas folhinhas dos calendários que o carnaval foi se transformando até chegar este momento em que acontece de tudo um pouco na festa da carne.

E acontece de tal maneira que nem o mais Diabo dos Diabos, o que criou o entrudo e seus potes de urina e fezes pra jogar no povo consegue entender.

A polca pouca gente sabe o que é, os sambas enredos a cada dia vão perdendo espaço nas escolas de samba e já não causam furor nas torcidas e nem ganham o primeiro lugar nas paradas de sucesso.

Foi um rio que passou por esta vida e não se pode afirmar que o coração se deixou levar.

O samba, maracatu e o trevo, marcha, axé, em muitos lugares cederam espaços ao sertanejo e outras intervenções musicais que não tem identificação alguma com o carnaval.

A continuar desta maneira, com este mau gosto musical reinando e se impondo com suas cafonices, em breve espaço de tempo poucos saberão o que é uma cuíca e como roncava em beleza e ritmo, da mesma maneira que poucos sabem o que é a polca e isto pode ser muito para a construção da ignorância e pouco ou nada para a preservação da Cultura.

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