02 de maio | 2020

Morre o homem e nem sua obra permanece viva por muito tempo

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“A vida corre a uma velocidade incontrolável. E a gente sabe que está vivendo pelas imagens que registra através dos sentidos. Imagens em movimento que vão rapidamente ficando no passado e sendo enterradas pelo presente que já foi futuro e rapidamente também deixou de existir”.

Mestre Baba Zen Aranes.   

QUANDO A GENTE …

… está na adolescência – pelo pouco que lembro da minha – o tempo parece que nunca vai passar. Queremos crescer rápido, ser grandes, ser adultos, buscar o desconhecido, viver a vida. Mas quando se cruza a barreira de algumas décadas de existência, a situação se inverte.

PERCEBEMOS …

… que o tempo não para. Nos embrenhamos numa roda viva sem fim, lutando pela mera sobrevivência e sendo enganados com a perspectiva de que seremos agraciados com os momentos de prazer que nos promete a nossa ideologia moral, e quando percebemos já chegou a hora da partida e aí nos tornamos, às vezes, parte da história, ou, então, mera fotografia que vai ficando dis­tor­cida, envelhecida, amarelada, com o dia após dia, até desaparecer da memória daqueles com quem convivemos, amamos e achávamos que éramos amados.

POR REFLEXÃO, …

… a narrativa que fica é a de que o que acaba ficando em nossas mentes é um mero flash daqueles que conseguiram desenvolver suas virtudes, suas artes e conseguiram construir uma história que teria que ficar marcada por longo tempo. Pois até estes também acabam sendo esquecidos e fazendo parte de compêndios virtuais, registros históricos (antigamente livros).

ESTE TAL DE TEMPO …

… que nem Santo Agostinho conseguiu decifrar ao certo, é destruidor da vida e, o que é pior, não deixa restar nem um pequeno filme, uma presença mar­cante daqueles que se vão, mesmo os mais notáveis. O tal do passado, passado que é, deixa de existir nos átimos de segundos do tempo presente e passa a precisar ser lembrado, rememorado; como no computador, passa a ser apenas um dado a mais para ser pesquisado no Google dos nossos cérebros.

QUANTO MAIOR …

… for o número ou a importância dos feitos, das virtudes desenvolvidas, mais elevado será o sentimento de perda, e com ele, a necessidade de que alguma coisa seja feita para que, justamente, este ser e seus atos nobres, sejam lembrados mais facilmente; rememorados mais rapidamente, sem ter que dizer “Ok! Google!” para que sejam acionados os mecanismos de busca de nosso cérebro.

MAS, UM DIA …

… estes feitos também podem perder o significado. Outros podem ser colocados no seu lugar. Aí entra a discussão sobre quem é mais notável. E, claro, os mais antigos que sequer compõem os dados imediatos de nossa imaginação, por questão de tempora­lidade, perdem a importância para os que surgem e estão mais reavivados em nossas consciências.

EM NOSSA CIDADE …

… é fácil verificar este fenômeno. Quem sabe quem foi Waldemar Lopes Ferraz e porque ganhou o nome de uma das principais avenidas da cidade? Quem foi Custódio Ribeiro de Carvalho que hoje empresta seu nome a UBSF do distrito de Ribeiro dos Santos? Quem foi David de Oliveira que também dá o nome a uma das principais vias do município? Isso só pra citar alguns exemplos.

SE FIZERMOS UMA …

… busca no “Google” de nossos cérebros, poucos serão aqueles que terão suas obras como resultado, ou o porque de sua notabilidade em uma sociedade conservadora e que viveu por longas décadas sob o jugo de verdadeiros coronéis.

SE A PESQUISA FOR …

… na internet mesmo, o que surge como resposta não são as suas obras, mas apenas o que passaram a ser. A denominação de ruas ou locais públicos, ou até nomes de clínicas e postos de gasolina, por exemplo.

MAS AI JÁ NÃO …

… é a imagem do ser que já se foi que vem à nossa mente, nem qual foi a sua obra que, em tese, motivou a utilização de seu nome. E ninguém fica rememorando ou pes­quisando para saber. Entra em cena apenas a fotografia daquilo que passou a representar; nos casos citados, uma avenida, uma rua, um postinho de Saúde. Não é a imagem do ser, nem amarelada pelo tempo, ou desfocada pela falta de memória.

E É SIMPLES, …

… a constatação sociológica. Quantos por cento da população sabe quem foram os “homenageados”? Eis a questão. Até na mente dos parentes e dos mais chegados o que resta são imagens distor­cidas e en­velhecidas. Eis o que somos, não importa o que vivemos.

CLARO, …

… toda esta reflexão se dá pelo falecimento de um amigo muito querido, um irmão que se foi e as discussões acaloradas que estão se dando na redes sociais sobre homenageá-lo com o nome da Rua Síria.

O VEREADOR …

… Antônio Delo­mo­darme, o Niquinha, foi quem propôs a homenagem ao médico Nilton Roberto Martines para que este empreste o seu nome à Rua Síria.

EM SUA PÁGINA, …

… no Facebook, foram milhares de comentários, a maioria a favor; mas também tiveram os que são contrários. Alguns sugeriram o nome dele para a Santa Casa de Olímpia. Outros para ruas e hospitais que surgirem. Mas, como sempre, também vários posicionamentos dos membros do gabinete do ódio, detonando tudo o que não favorece o seu chefe, o mimado 01, não importando a família que sofre a perda, nem se vai arranhar a imagem ainda presente de um dos maiores e melhores cirurgiões do Estado de São Paulo e que dedicou sua vida a salvar a de olimpienses e de moradores da microrregião.

SINCERAMENTE, …

… após a reflexão sobre o tema, esse colunista não consegue elaborar uma opinião, muito menos um julgamento sobre o assunto. Mas acaba surgindo mais um questionamento: que homenagem é esta que apenas agrega o nome da pessoa a alguma coisa, mas não consegue nem fazer com que seja relem­brada a sua obra e nem mesmo que se reavive a sua imagem nas mentes das pessoas?

AS HOMENAGENS …

… teriam que ser feitas em vida. Mas, ele morreu sem ver seus sonhos atuais que era o setor de emergência funcionar, inclusive com neurocirurgião e cirurgião cardiovascular e um tomógrafo funcionando dentro da Santa Casa local, onde viveu a maior parte de sua vida e lutou incansavelmente pela sua sobrevivência.

José Salamargo … estarrecido com a própria constatação de que a vida realmente é uma pequena participação neste mundo, fadada ao esquecimento. Morreu e tudo vai ser enterrado junto, até as lembranças. Descanse em paz meu irmão.


 

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