29 de abril | 2018
Hélio Lisse, de herói a vilão em um passe de mágica?
Do Conselho Editorial
A Câmara Municipal de Olímpia, sob o comando de Gustavo Pimenta, parece ter se transformado em uma imensa tina de lavadeiras onde a diversão principal é lavar roupas sujas nas sessões que deveriam ser legislativas.
O pior, ou o melhor, dependendo da opinião de quem assiste as sessões, ou se informa pelas redes sociais e o ânimo para fofocas ou coisas sérias, é que quem deveria, no caso, trazer a conciliação e a pacificação daquele espaço que deveria ser de discussões que ampliasse o marco civilizatório, parece estimulá-las.
Primeiro, foi o escândalo envolvendo o vereador Salata por conta do sumiço de um aparelho eletrônico que virou caso de polícia e se transformou em processo administrativo, CEI, para apurar a responsabilidade que irresponsavelmente não findou até agora.
No imaginário popular a sensação que fica, pelo escândalo e baixaria da época, é que o vereador Salata surrupiou o aparelho e agora estão abafando o final da investigação para que a verdade não venha à tona.
O vereador denunciante, Antonio Delomodarme, o presidente da Câmara Gustavo Pimenta e mesmo o vereador Salata, deveriam, por uma questão moral e ética, para que não pairasse dúvidas sobre a decência e moralidade dos três, vir a público dar explicações sobre que fim tomou a apuração do sumiço do celular pertencente ao Legislativo.
Niquinha, para provar que não estava blefando ou mentindo sobre o que denunciou; Salata, para não colocar esta mancha em sua biografia; e Pimenta, para demonstrar que pode haver um mínimo de seriedade nas coisas que comanda.
E não para por ai. O vereador Hélio Lisse é delegado aposentado, com brilhante folha de serviços prestados na profissão que deixou, se elegeu vereador e está sendo alvo de acusações e insinuações que ferem de morte seu passado de glórias, caso comprovadas.
A título de ilustração, a edição deste jornal de 25 de julho de 2011 estampava a manchete de que o Delegado Regional da Policia Civil de Minas Gerais, Hélio Lisse Junior, olimpiense, havia comandado na cidade de Fronteira a prisão de nove vereadores.
Os nove vereadores foram presos pela Polícia Civil acusados de desvio de dinheiro e uso irregular de verba indenizatória e a prisão foi, à época, notícia nacional.
Em outra ação que repercutiu regionalmente, o ex-delegado investigou o filho de um vereador da cidade de Fronteira por envolvimento em tráfico de drogas.
E muitas outras ações poderiam ser citadas levadas a efeito por este olimpiense que chegou a condição de Delegado Regional da Polícia Civil de Minas Gerais, sendo respeitado pelos seus companheiros de trabalho e tendo, até onde se sabe, o reconhecimento público por onde passou.
Aposentado, segundo suas palavras, decidiu dar um pouco de si a cidade em que nasceu, uma contribuição de sua experiência à política local.
No entanto, no decorrer de seu mandato foi envolvido em uma situação que confrontada com seu histórico chega a constranger para dizer o mínimo.
Foi acusado pelo vereador Antonio Delomodarme de ter assediado sexualmente sua assessora parlamentar, o que nega veementemente, e desde a acusação as insinuações sobre si e sua postura vêm em um crescendo vergonhoso e vulgar.
Embora não tenha se manifestado de forma grosseira ou vulgar no debate, se comportando com a civilidade e educação que o cargo exige, têm sido alvo de denúncias que, se comprovadas, destruirá sua imagem, ou em caso contrário, comprovará a irresponsabilidade e a leviandade como é conduzida a política no Brasil.
Em um jornal local, há algum tempo, em resposta a Niquinha, que havia alertado que tinha uma dinamite contra ele, defendeu-se afirmando que não tinha medo de dinamites, de ameaças e que sempre pautou sua vida pelo respeito, ética e moral.
Anunciou que havia processado o vereador Delomodarme e por um período reinou a paz dos cemitérios na polêmica instalada.
Fora, como se sabe, os bate-bocas de corredor e as polêmicas sem muito sentido rolava a vida na pior representação legislativa que Olímpia já conheceu em todos os tempos, até que nesta semana a tribuna voltou a cuspir fogo; e é preciso aqui, anuir que da maioria na Câmara parece se salvar um ou outro e os eternamente calados, porque não é normal que se conviva produzindo tanto lixo moral e ético sem se incomodar profundamente.
Se a maioria fosse premiada com bom senso e noção do ridículo saberia que o espetáculo patético e decadente que oferecem à cidade é por demais vergonhoso, vulgar, medíocre e insignificante para quem deveria criar leis para a sociedade respeitar e fiscalizar a aplicação do dinheiro público.
Não pode sair nada respeitável de um espaço onde o ser humano e sua dignidade não são minimamente levados em consideração, onde dossiês são fabricados para destruir reputações.
Esta semana, nas redes sociais, o vereador Antonio Delomodarme, o Niquinha, postou a seguinte mensagem:
“Tem um ex-delegado que é um falso moralista e vereador aqui na Câmara falando que acontece coisa aqui que até Deus duvida. Concordo plenamente, porque até assédio do Gatão já teve aqui em cima de funcionária. É melhor parar de me insultar se não eu aperto o outro botão da dinamite.”
Realmente, acontecem coisas na Câmara que até Deus duvida; uma delas, por exemplo, é a insinuação de que há uma dinamite que pode explodir a qualquer momento. O ex-delegado deve muito bem saber a figura que o Código Penal atribui a este tipo de fala e se não fizer nada, quem cala consente.
Outra coisa que até Deus duvida, é uma denúncia de assédio sexual estar sendo explorada ou levada a efeito por quem não é parte legitima para discuti-la, a menos que o assediado tenha sido o vereador.
Nada obsta que o mesmo venha a público levar uma denúncia contra ilegalidade ou injustiça cometida por alguém contra outrem que não pode se defender, porém o que se observa da questão é muito mais exploração de um pretenso fato para intimidar e constranger o outro do que propriamente busca por justiça.
A cidade já está de saco cheio desta briga maluca e sem noção alguma que nada traz de objetivo ou producente para o crescimento e progresso almejado.
Pelo contrário, pode se estar convivendo com alguém que se desviou do caminho do bem e se enveredou pelas tortuosidades da vida, ou, destruindo uma carreira e um passado brilhante e passando a convicção à maioria de que política é um fétido latão de lixo onde o honesto e o sério, ao entrar, vai se emporcalhar de todas as formas.
Isto não é de maneira alguma bom para a cidadania e para o exercício do dever cívico.
Não se pretende aqui culpabilizar e muito menos inocentar o ex-delegado, nem endeusar ou demonizar quem o acusa; no entanto, nada, em momento algum, depõe contra o ex-delegado em relação a forma como se manifesta publicamente, enquanto o lado contrário tem demonstrado ira, cólera, ódio e manipulação de pretensas informações que depõe contra a figura construída ao longo dos anos por seu adversário na contenda.
O certo seria, se dinamite houver, que a mesma, em nome da moralidade pública, fosse de vez explodida, ou que o presidente omisso, Gustavo Pimenta, houvesse desde o início aberto um processo administrativo para apurar o que ocorreu naquela casa com uma funcionária contratada sob a responsabilidade de sua presidência e não ser tolerante e permissivo com denúncia tão grave como assédio sexual, como se ali fosse um prostíbulo de terceira categoria, onde todos os bêbados e rufiões podem fazer e desfazer sem que ninguém se incomode.
Não é natural que fatos desta gravidade venham a público da tribuna da Câmara e seu presidente, de forma conivente, faça de conta ou finja que nada está acontecendo e não busque apurar, tratando a questão como se não houvesse ocorrido em um espaço público sustentado pelo dinheiro do povo e que deveria zelar pela legalidade das ações ali ocorridas.
Se aquilo que se chama Câmara fosse de fato uma casa de leis, seu presidente deveria saber que assédio sexual é ilícito penal punível, cuja punição foi estabelecida por legisladores, que é o que deveria ter por ali. E não pretensos destruidores de biografia que transformam heróis em vilões em um passe de mágica.
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