02 de março | 2015

Geninho Ostentação, pop star de carro novo?

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Você só pensa em grana.
Meu amor!
Você só quer saber.
Quanto custou a minha roupa
Custou a minha roupa…

Você só quer saber.

Quando que eu vou
Trocar meu carro novo. Por um novo carro novo
Um novo carro novo.

Meu amor!…

Você rasga os poemas.

Que eu te dou
Mas nunca vi você.

Rasgar dinheiro
Você vai me jurar. Eterno amor
Se eu comprar um dia.

O mundo inteiro…

Zeca Balero

Willian Zanolli

É minha gente, a Bíblia diz lá em um determinado trecho, que eu lembrava mas não sabia de cor, do tempo que eu era goleiro no time de peladas no Brejinho e que copiei da internet.

E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão.

Então, calmamente, como só pode acontecer a um budista convertido recentemente ao cristianismo de resultados, com as quatro patas na canoa da teologia da prosperidade, retirei a trave do olho, despi a fantasia do gol maravilha e enfrentei os meus demônios.

Inveja pura do Geninho, confesso, e tudo tem a ver com a memória emotiva, a que nos leva para fatos do passado, a que está insepulta no inconsciente e de vez em quando brota que nem tiririca em hortinha de fundo de quintal de casa de pessoas desprovidas de economias e que uma salsa e cebolinha, um coen­tro, faz falta na hora de temperar a vida.

Sim, por que se começamos biblicamente não nos afastemos das metáforas cristãs para chegar onde nos conduz bondosa e generosamente o texto.

Falávamos, ato falho, mas não vou voltar lá atrás para corrigir, escrevíamos, de forma metafórica que sentíamos no fundo de nossas almas uma certa inveja de Geninho.

Agora explicitare­mos as razões deste condenável sentimento que se encontra entre os sete pecados capitais, que são atitudes humanas contrárias as leis divinas, definidas pela Igreja Católica durante o papado de Gregório Magno.

A maioria sabe ou pensa que sabe o que é inveja, da mesma forma que algumas correntes, com as quais me permito alinhar, imaginam que inveja é querer ter algo igual só por que nosso próximo, que pode estar distante, tem.

É o famoso olho de foca, olho gordo, relativo a cobiça.

Agora vamos a inveja do Genial, lembro-me bem que ele tinha, se não me engano uma empresa de cobranças, era presidente da UEUO vivia num perrengue danado; Durrulinha Líder dava um duro danado de segunda-feira nas correrias pra cobrir o que havia ficado descoberto, grandes amigos que eram.

Andava de carro velho, que nem eu, e ai mora a inveja, pegava que nem eu, de vez em quando, gasolina na garrafa pet, de coca litro, devia falar como eu, para o frentista.

– Só um litro que é pra colocar no carburador pra ver se aquela joça pega, é que eu não tenho mangueira pra tirar gasolina do tanque.

E gente fala assim sério e o frentista seriamente finge que acredita, pega os únicos cinco reais que a gente tem, devolve o troco, e como passa o mesmo perrengue e conhece decor e salteado a história fica numa vontade danada de falar.

– Ei Zanolinha, vai ter de pedir mais trinta centavos emprestado para inteirar o da cachaça, ou vai tomar a Cristal a seco.

Não falo por solidariedade, compaixão, a dor extensa que é ralar pelo pão nosso de cada dia e no final pagar mico para o sufoco.

Geninho, moço de classe média, deve ter passado por isto, como tanta gente, e ai me penitencio com a minha inveja, administrou maravilhosamente bem seu patrimônio, um exemplo para grandes economistas, agora exibe, ostenta.

E eu no meu fusca velho, sem um amigo para enfrentar as filas na segunda, sem crédito, e como respondeu um amigo quando perguntado se o carro dele tinha documento para transitar, andar por ai respondeu:

– Ele não precisa de documento para andar, precisa de gasolina.  

O meu está documentado na bacia das almas, a gasolina foge dele como o diabo foge da cruz.

Geninho superou esta fase, repousa seu corpo que já foi bem mais atlético, em confortáveis poltronas tão caras quanto as que comprava quando presidente da Câmara, é iluminado no gabinete de prefeito, segundo a lenda urbana, por uma bateria de luzes que custou a insignificante  quantia de quarenta mil reais.

E, segundo informes, já já circulará pelas ruas esburacadas de Olímpia com um super “Bat­móvel”, que segundo as boas línguas custou uma bagatela acima de cem mil reais.

Ai que inveja, preciso dominar este sentimento, ele não é bom pra mim, a prosperidade atingiu em cheio e mudou a vida do Genial e dos que o cercam, ao que tudo indica de forma muito significativa, e isto faz com que cidadãos criativos alimentem sentimentos reprováveis diante dos textos bíblicos.

Agora é esperar o Geninho passar pela rua de carro zero bala e abanar a mão pra gente, depois do ano que vem, ele vai descer e pedir voto pro candidato dele, já que voltará a ser o Mister Simpatia do ano eleitoral, fenômeno que atinge os políticos de quatro em quatro anos.

Fora isto é ostentação e comportamento de pop star, baseado na leitura equivocada do texto.

Não deis o que é sagrado aos cães, nem jogueis aos porcos vossas pérolas, para que não as pisoteiem e voltando-se, vos façam em pedaços.

Um dia, mesmo que seja tarde, o povo despertará para a exclamação.

Hipócritas! Porventura, cada um de vós não desamarra no sábado, o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para servir-lhe água.

Numa destas, pode ser que encontre Eugênio no seu novo carro novo e compreenda que as necessidades do povo são esquecidas e a ostentação e o luxo desnecessário são lembrados sempre.

E se lembrarão como me lembrei agora, o quanto sou feliz com o meu fusca velho, e quanto deveria ser Eugênio quando não ostentava e quanto poderia ser agora, se tivesse olhar e alma para compreender que a felicidade do outro pode ser a felicidade da gente, que a maior riqueza não é ter bens é viver bem, não é viver no luxo e para o luxo, pode ser também nascer em uma estrebaria e morrer em uma cruz para nos salvar.    

Perseverança na Oração.


Quando eu nasci.

Um anjo só baixou
Falou que eu seria.

Um executivo
E desde então eu vivo.

Com meu banjo
Executando os rocks.

Do meu livro
Pisando em falso.

Com meus panos quentes
Enquanto você ri.

No seu conforto
Enquanto você.

Me fala entre dentes
Poeta bom, meu bem!

Poeta morto!…
Zeca Balero


Willian A. Zanolli é artista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanolli.blogspot.com e ouvido de segunda, quarta e quinta-feira, das 11.30 as 13.00 hs no jornal Cidade em Destaque na Rádio Cidade FM 98.7 Mhz. E, aos domingos, das 10.00 as 12.00 hs no programa Sarau da Cidade.

 

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