28 de março | 2021

Ética nas Redes Sociais

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“(…) estar antenado em redes sociais é
aquele velho comportamento de fofoqueiro
que bem recentemente repudiávamos”.     

Rafael dos Santos Borges

Ainda estamos transtornados pela violência sofrida pelo editor e proprietário do jornal Folha da Região e sua família em um atentado contra a liberdade de imprensa. Em um tempo que vivemos um luto por tantos conterrâneos a violência é ainda pior, mas, como esperançosos que somos, buscamos aqui um diálogo para a comunidade sobre o bom uso da tecnologia da informação e comunicação.

Todos os dias acordamos angustiados com o aumento da agressividade e ignorância propagada nos meios de comunicação em rede, agora no momento de pandemia, em que a solução depende de um senso coletivo, nossa comunidade sofre pela falta de sentimento comum, egoísmo e desvirtuamento da realidade (a devoção aos políticos distantes nos cegou sobre os problemas reais).

O escritor italiano Umberto Eco era um pessimista em relação a internet e as redes sociais, postulou em 2015 que elas teriam “dado voz a uma legião de imbecis”, já o escritor francês Pierre Levy é desde 1997 um otimista, apontava nelas a melhoria do acesso e padrão cultural. Nem tão pessimista, mas sem ser otimista o espanhol Manuel Castells em 2018 considerou que estamos com um problema de comunicação, as novas tecnologias e as novas gerações se comunicam e pensam de uma maneira que é confusa para os mais velhos, por diferenças de geração e diferenças de formas de comunicação.

As redes sociais não expressam a realidade, nelas se expressam a hiperalidade, há um exagero nesse tipo comunicação para vender, manter a atenção, conquistar seguidores. Por isso, é importante saber ler as redes sociais, uma nova expressão linguística, artística. Quando foi inventado o cinema as pessoas também se confundiam entre a realidade e o cinema, da mesma forma houve ascensão de ideias e regimes totalitários.

Nas redes socais os emotions, os memes (imitação mimética), as fakenews, as piadas, as montagens nos convencem por emoção, nos capturam nessa emoção.  Ainda que seja mentira o que postamos, propagamos e nós defendemos, assim a nossa inteligência e suposta neutralidade revestida de humor é capturada. Até sabemos que é mentira, mas ela mantém a nossa convicção (dogma), pois muitos dos nossos valores foram baseados em mitos, que diante de uma contradição, lança um outro mistério e nunca nos responde com verdade e coerência, preferimos a fé cega. Logo, entre o mentiroso e o enganado que espalha mentiras pelo faceboock, whatsapp cria-se uma cumplicidade e até devoção – nasce um mito, morre a razão.

As redes sociais e aplicativos gratuitos têm como renda a venda de espaço para a publicidade e a venda de meta dados, que são dados gerais sobre o comportamento até de aspectos íntimos de uma população em geral. Não se vende dados pessoais legalmente, mas vendem legalmente, por exemplo, que aquele indivíduo compõe um grupo que tem propensão a acreditar em notícias falsas, como cura milagrosas, perda de peso sem esforço e cruzam dados que mostram que gosta de ver violência, pornografia, receitas e se constrói conjuntos, juntado a outros conjuntos que vendem para empresas fazerem campanha mais específicas, inclusive de cunho político. Assim, você é apartado nas redes virtuais a conviver e trocar informações com pessoas mais ou menos iguais a você, sendo que aos poucos seu comportamento é conduzido para alguma extremidade, você se torna um produto e um consumidor bem previsível e manipulável. Busque saber, ou lembrar de teoria dos conjuntos que você aprendeu nas aulas de matemática, ao navegar nas redes, suas informações geram dados, tais dados com de outras pessoas geram vários conjuntos e você fica previsível por essa combinação de conjuntos.  

Como nos proteger dessa trama tão enganosa? Primeiro admitir que há um problema, romper com a própria ignorância, depois, buscar escapar da trama das redes sociais, reflita se é necessário mesmo ficar em determinados grupos, não é intolerância deixar de participar de discussões que não contribuem. Ler jornais que tem um CNPJ vinculado, de uma empresa, um instituto sólido e reconhecido. Por mais que eu não goste do Rede Globo, da Record, da Folha da Região, do Valter Caruce, do Leonardo Concon, do Cléber Luís, do Arantes e da Bruna, eles existem enquanto pessoas e instituições e deles eu posso reclamar inclusive judicialmente. Busque, na realidade, ter diálogos com pessoas que pensam de maneira divergente da sua, mas não em grupos de whatsapp e facebook, pois nesses lugares além das suas informações serem capturadas, os debates são de aniquilamento do oponente e não da construção de um consenso, após um dissenso. Saiba que há interesses na fala de todos, mas busque compreender a demanda de quem fala para além dos interesses e posicionamentos. Por fim, busque construir empatia nos diálogos e tenha filtros objetivos na sua atenção, lembre-se que estar antenado em redes sociais é aquele velho comportamento de fofoqueiro que bem recentemente repudiávamos.

Prof. Dr. Rafael dos Santos Borges – Professor de Ética, Sociedade e Tec­nologia, Lógica Formal, Organizações e Métodos, Sociologia, História na Fatec Rio Preto, Faculdade Eduvale de Olím­pia e Colégio Objetivo.


 

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