21 de abril | 2013

Estão preparados pra voltar a “comê” cabo de reio?

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Willian A. Zanolli

 Sou saudosista como todo mundo, o homem só tem de seu o dia de ontem, a única coisa que não se pode tirar do homem é seu passado, é sua história.

Só falei estas filosofias de irmão da estrada, estas frases decorativas de  pára-choques de caminhão, por que embora não seja passadista, estava pensando nos meus amigos que ascenderam economicamente de forma astronômica nos últimos tempos.

Lembrei de quando tinha minha Brasília verde que depois de uma esbórnia pelas madrugadas olimpienses, depois de um ralabucho no Lafeche, dava uma pause nas lanchonetes da avenida para abastecer a carcaça com um lanche e uma coca-cola amiga para rebater a falta de açúcar no organismo.

Depois de mais umas duas ou três geladas no esqueleto e as mordidas nas alfaces, presunto, queijo, e outras delícias que contribuíram para nossa fofura, vez em quando encostava um amigo quase Hermano que no final da noite, mesmo sem considerar que naquela época minha casa era pertinho da avenida pedia uma carona.

Esta minha alma, desaprendida de falar não, às vezes me levava para cada fim de mundo, de onde voltava como falam os caminhoneiros, batendo lata, sem carga, sozinho, semi travado, por ter dado carona a alguém que morava onde o vento encosta o lixo.

A vida vai mudando e muito destes piolhos se enveredaram na política, e nesta nova função social, optaram por facilidades, por comodidades, por levar vantagem.

E nesta nova condição social pensam que viraram gente, desconhecem que o processo de formação passa por uma coisa chamada huma­ni­zação e passam a ter comportamentos diversos do que demonstravam antes.

Explico, por que sempre tem quem não entenda subtexto. Entrelinhas, é assim, o cara ta numa merda que dá dó, não paga luz, atrasa água, come mal, não tem emprego, encosta em um político que ganha eleição, já é nomeado para não fazer nada e ganhar muito, e muda.

Pensa que para melhor, mais não é bem assim, não é dinheiro que melhora as pessoas, pode até abrir pernas e portas, facilitar a plástica, pagar o carro novo e o convênio, só que ser melhor é coisa interior, é atitude, decência, ética.

E muitos destes caras, no poder, já perdem na largada a tal de humildade e vão se despindo de tudo que pode diferenciá-los de um malandro, por exemplo, vendem a dignidade, perdem a compostura, rasgam a moral, queimam o passado e rompem com a decência.

Tornam-se uns trapinhos, uns farrapos humanos, que quando sentam no banco do carro novo pensam que são as melecas mais importante, o ranho mais famoso do reino dos narizes, uns cocozinhos que se imaginam cheirando a chanel número cinco.

Ninguém consegue se olhar como deveria, e me incluo nesta dança das vaidades, só que alguns são mais cegos que outros.

Estes do poder passageiro e transitório possuídos pelo mito, pelo ritual do poder, que pensam que são alguma coisa a mais do que já foram sem ser, de tal forma que passam a se comportar como se fossem.

E ai aquele cara que eu dava carona na minha Brasília velha, ou no meu Fusca branco que eu chamava de fusca cavalheiro por que a porta do carona tinha de ser aberta pelo motorista sempre, por estar quebrada, ou neste fusca que hoje transito por ruas esburacadas da cidade, mudado na sua cabeça, passa de carro zero levantando pó e fingindo que nunca nos viu.

E se nós não agradecemos é por que o veloz do cara é de primeiro mundo e não dá tempo, e ficamos sempre na beira da estrada empoeirada e pensando esta bundinha que mamãe acariciou e papai encheu de porradas nunca vai sentar no assento de couro de um possante deste.

E pensar que a bundinha ou bundona que vai lá no banco do motorista já se arranhou nas molas expostas do banco do meu fusquinha, é o mundo, é a metáfora das bundas.

Só que ao longo dos tempos fui observando, os caras chegam no último degrau da escada e depois tem de descer, acaba o governo eles voltam para a rua da amargura, e vão cruzar o seu olhar com o nosso com a mesma dor de volta nas retinas, com a mesma tristeza e o mesmo inconformismo de pensar que não é nada e nem ninguém por se valorizar pelo bolso e pelo consumo, por não ter nada além de um grande vazio no cérebro.

E agora, pelo clima de velório e consternação, começo a achar que tem gente já articulando um meia volta volver para o Exército de Brancaleone, para a miséria das casas onde churrasqueira é feita de lata de tinta, o churrasco é de costela e a cerveja é a de promoção.

Tem gente com aspecto de quem vai voltar a comer lingüiça cabo de reio já já, estou sentindo, minha bola de cristal paraguaia está mostrando isto.

Sem desespero, desce do salto alto com carinho, a casa parece que caiu, e quando a casa cai sobra tijolo na cabeça de muita gente, veste a sandália da humildade, o banquinho no boteco no final da vila está te esperando saudoso, e o pingão com Cinzano, o rabo de galo a gente paga.

A única coisa que não vai ter nunca mais é a bundinha, ou bundona, sentada no banco de passageiro do meu fusquinha.

 

Willian A. Zanolli é artista plástico e jornalista.

 

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