12 de fevereiro | 2017

Escola pública ou implantação do teatro do absurdo do fingimento?

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GENTE, …
… que me perdoem os mais otimistas, mas após cinco anos na sala de aula tentando entender o que está acontecendo com o ensino público no Estado de São Paulo, não dá para ser menos pessimista.

SÓ PRA …
… tomar um pouco mais de tempo de vossas excelências, meus poucos mas fiéis leitores dos sabáticos finais de semana, este pacato mas estridente cidadão que vos escreve, dos 14 aos 18 anos, quando começou a se perguntar o que era e o que estava fazendo neste mundão sem porteira, apenas cheio de barreiras, chegou à conclusão que além de construir uma família e exercer a sua arte (para não ser escravo do Deus Mercado), também precisava realizar uma atividade social.

OU SEJA, …
… necessitava, para ser feliz, de não só pensar no próximo, mas fazer alguma coisa por ele, ter uma atividade social.

DESDE ESTA …
… época, passou a tentar evoluir nos três campos que entendia necessários para construir uma felicidade satisfatória, para poder viver este pequeno espaço temporal que vai do nascimento à morte.


É POUCO …
… tempo e não dá para desperdiçá-lo à espera de um paraíso ou uma dimensão perfeita após o último suspiro. É preciso tentar construir o Éden aqui mesmo, mesmo sem o glamour dos mitos e dos divagares metafísicos.


DAÍ EM DIANTE …
… foram várias as experiência neste quesito atividade social. Isto porque os outros dois não são tão complexos assim.


O PRIMEIRO …
… deles, no qual a gente passa atuando mais de 30 ou 40% da vida, é a atividade laboral. Percebam que odeio esta palavra trabalho, pois dizem que ela se origina de um instrumento de tortura da idade média.


AOS 14 ANOS …
… dei início à carreira jornalística, exercendo a função de tipógrafo no Tablóide da Nova Paulista que à época pertencia ao Nelito Santos e aos irmão Alves, Casse­miro e o Sabão.


DE LÁ, FUI…
… para o jornal da cidade e, ao depois, acabei indo para o Diário da Região de Rio Preto e, logo a seguir, montando junto com familiares e amigos (Orlando Costa, que depois passou suas cotas para o Alberto Carlos Gomes Lomba) e com o advogado Alfredo Baiochi Neto, o jornal Folha da Região.


DIFERENTEMENTE …
… do que muita gente pensa, embora tenha sido seu artífice, nunca fui proprietário deste jornal, mas, sim, seu editor por estes mais de 36 anos.


MAS A REALIZAÇÃO …
… laboral já estava definida. O jornalismo seria a minha atividade principal. Concomitantemente à Folha, fui executivo do Diário da Região de Rio Preto e, para o grupo, montei a FM Diário, em Mirassol. Isto na década de 90.


ANTES, PORÉM, …
… entre 1983 e 1985, fiquei sócio e assumi o comando da Rádio Difusora de Olímpia que estava praticamente abandonada após a fundação da à época, Menina AM.


DURANTE VÁRIOS …
… anos, junto com Valter Carucce, Orlando Costa, Jesus Hortêncio, Elso Martins e muitos outros, reerguemos a rádio e, inclusive, conseguimos inovar, principalmente transmitindo jogos de futebol do América, Campeonato Amador e até corrida de rua. Só não cobríamos briga de galo. O resto… Chegamos a transmitir até jogo do Estádio Morumbi, em São Paulo.


A COMUNICAÇÃO,…
… estava no sangue.


CLARO, …
… neste ínterim, a família já estava constituída. Faltava a realização social que, confesso, sempre foi a mais difícil. Primeiro que, para viabilizar qualquer coisa é preciso rea­prender a pensar. É preciso deixar de lado o umbigo, o pensar apenas no próprio estomago e conseguir ver além, enxergar que existem outros humanos que compõem o seu mundo. E se eles não estiverem felizes, dificilmente você vai conseguir estar, pelo menos de maneira satisfatória, pois a energia negativa gerada pelo sofrimento do próximo é por demais conta­giante e desgas­tante.


NUM PRIMEIRO …
… lampejo de busca de apoio ao próximo, tentei cursar psicologia. Num mundo tão conturbado (à época não era nem um décimo do que é hoje), nada melhor do que tratar a alma. Ajudar a entender a si mesmo e, através, visua­lizar a realidade que esquisitamente é diferente para cada um. Não existe uma igual a outra. Cada um enxerga à sua própria maneira.


POR AQUELES …
… ímpetos juvenis, liderei uma greve na faculdade que estudava e esta ficou praticamente três meses parada. Não tive condições de continuar.


ACOMODEI …
… na ideia de que o próprio jornalismo podia ser o canal para o realizar social.


MAS NÃO DÁ. …
… Então, fui fazer direito na mesma faculdade que me negara a possibilidade de ser psicólogo. Passei em quarto lugar no vestibular (à época, 1998, mesmo sendo particular era bastante concorrido) e conclui o curso quatro anos depois, já passando no último ano no exame da ordem.


FORAM MAIS …
… de dez anos tentando fazer justiça para chegar à conclusão que a justiça não é justa. As leis são aplicadas e interpretadas por homens que veem a realidade de formas totalmente diferentes.


CONJUNTAMENTE,…
… então, veio a tentativa de entrar para a política, pois seria uma maneira direta de fazer a diferença no sentido de fazer pela sociedade. Ledo engano. Da mesma forma que no direito, a política (embora seja palavra de significado amplo e de histórias diversas) também dependia da formação do humano.


MAS A PALAVRA …
.. em uma de suas explicações aponta para a junção de duas outras, mas de origem grega: polis (equivalente a cidade) e tica (qualquer coisa como Bem Comum). Ou seja, política seria promover o bem comum da cidade, dos seus cidadãos.


MAIS UMA TRISTE, …
… constatação: 99,99% dos políticos, ao que demonstram, nunca pesqui­saram ou tiveram acesso a este significado. Parece que vivem olhando para o próprio umbigo. Ou seja, não pensam socialmente, vivem para encher os bolsos, engordar o próprio patrimônio e os outros que se danem.


PASSADOS …
… dez anos em que este jornalista e seu escudeiro, SanchoWillianPança, montaram o PV – Partido Verde em Olímpia e, principalmente, após várias campanhas de moraliza­ção do voto, foi provado que chegar ao poder era possível, mesmo sem se corromper e gastar milhões. No entanto, também ficou comprovado que não havia gente honesta para construir um grupo de trabalho que pudesse levar adiante o sonho da verdadeira política: promover o Bem Comum na polis.


DAÍ, FORAM …
… meses e meses de introspecção, tentando descobrir o que ainda poderia ser feito. Como poderia ajudar na transformação do mundo.


O JORNALISTA,  …
… o advogado, o pai, o filho e o olimpiense então chegaram à conclusão que se o problema era o ser humano, o melhor seria trabalhar diretamente na sua formação. Aí surgiu a ideia no filho da Sofia de cursar filosofia.


DITO E FEITO, …
… em 2012 o ser já um tanto combalido pelo passar do tempo vai para a sala de aula com o vigor de um adolescente que está tentando descobrir como viver a sua própria vida.


FORAM …
… vários anos de experimentação, de observação, de estudo. Para complementar enriquecer  o entendimento, outros cursos foram realizados. Hoje, o jornalista, além de advogado, também conseguiu concluir Pedagogia e Ciências Sociais. Tudo para tentar enxergar o que estava acontecendo com os homens de amanhã.


2017, …
… começando um novo ano. Novamente o estado de desencanto toma conta do ser que ainda sonha em mudar o mundo. Não dá para fazer muita coisa na sala de aula. O sistema não quer formar cidadãos. Ao contrário, quer colocar meros operários, verdadeiros escravos a sustentar uma pequena casta que consegue ter oportunidade de ser humano.


AOS DESAMPARADOS,…
… aos mais pobres a senzala, o inferno, coincidentemente os que cuja maioria tem famílias desagregadas que vivem numa verdadeira selva de pedra lutando pela mera sobrevivência, enganados diariamente por um Deus onipotente (Mercado) que quer criar apenas robôs programados para trabalhar e consumir.


ALEGANDO …
… o falso dogma da inclusão, lotam salas que mais parecem celas, em escolas que mais parecem presídios, cujas disciplinas não conseguem ser sequer captadas pelos detentos que em grande parte não sabe nem ler e escrever com a mínima competência exigida para quem precisa aprender e entender.


NÃO DÁ …
… para tentar estimular o conhecimento entre seres tão díspares em termos de conhecimento. Não dá para incluir em classes lotadas e tendo que ensinar a ler e a escrever alunos do ensino médio. Ao contrário, o que o Estado está fazendo é discriminar os mais humildes e empurrá-los de cabeça no mundo do crime. Ou vocês acham que eles têm a mesma oportunidade do que os que têm família, os que têm alimento material e espiritual?


O FUTURO …
… para eles, o exemplo que eles tem, passa pelo tráfico, pelo furto, pelo tomar de quem tem, por não ter tido a mesma oportunidade que a minoria tem de se colocar num mundo cada vez mais seletivo e desagregado, onde empa­tia, solidariedade, amor e outros bons sentimentos estão em extinção.


DENTRO …
… deste contexto e com a nova lei imposta goela abaixo pelo governo Temeroso, o que se espera é a regulamentação desta situação. Os que têm família e pais que ganham bem vão ser médicos, dentistas, advogados, engenheiros e outras mais; vão exercer a sua arte e não ser escravos torturados pelo trabalho.


JÁ OS …
… “desfamiliados”, os jogados no mundo, vão aprender a ser operários, fazer cursos técnicos para terem uma profissão, se torturarem a semana inteira, se drogarem nos finais de semana para esquecer que na segunda-feira começa tudo de novo e assim passarem uma mera vida inteira. Ou… encurtar a própria vida passando para o lado do tráfico, vão viver no outro Estado dentro do próprio Estado, os PCCs, os CVs, etc.


E O ESTADO, …
… de camarote, cumpre o seu papel neoliberalista de não distribuir a renda e de não incluir através da igualdade de oportunidades, ao contrário, passa a ideia de que só os corruptos, só os bandidos de colarinho branco, são felizes …


E PARA …
… perpetuar esta sina, o tal do Estado, desgover­nado, faz com que um tri­nômio surrealista seja im­plementado cada vez ma­is: o professor finge que en­sina, o aluno finge que a­prende e o Estado finge que paga. É um fingimento só.

José Salamargo – Mais uma vez, em fase de in­trospecção. Duvidando da própria jornada. Sem saber o que fazer. Sem saber pra onde ir. E agora José?

 
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