29 de agosto | 2021

Entre o peito e o nó

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“Pedir que o tempo de paz e de concórdia volte a bater à porta trazendo
emprego, segurança, tranquilidade, e principalmente projetos
para a volta do crescimento da nação e do cidadão que não
consegue o mínimo para sua sobrevivência é pouco
perto do tanto que cada um necessita
para ser minimamente feliz”.

 

Do Conselho Editorial

Mesmo que as pessoas sejam fortes, autênticas, destinadas a superar todos os obstáculos que são colocados nesta maratona da vida, há dias em que o cansaço domina o espetáculo.

Há dias em que bater palmas para o amanhecer e continuar dançando e cantando enquanto as folhas do calendário bailam à volta de cada um até que a noite estenda seu lençol é mais um sacrifício que felicidade.

Por mais que um brasileirinho ou uma brasileirinha perdidos nos escombros das viciadas metrópoles ou escondidos entre samambaias, igarapés, jatobás, aroeiras, araras e douradas deseje, entre falta de dentes, esboçar um sorriso, o momento pede lamento e dor.

Milhares de zumbis transitam pelas ruas se esmolambando em conta-gotas, estômagos que muito pedem e nada veem para entristecer o triste tópico e o mais que entristecido trópico de Capricórnio.

Caixões aos milhares à beira das covas e milhares de sequelados que nunca mais serão os mesmos juntos a outros milhares que chorarão mortes e deficiências.

É lamentável que haja dias e editoriais assim, onde o canto e o conto se constroem da narrativa do caos e da desilusão.

O país se despedaça e o mundo desaba em doenças, guerras, preconceitos, divisões, polarizações estúpidas.

Onde se vai chegar se sabe por não se chegar a lugar algum que luta contra o desejo de dar passos a frente.

Esta inanição, esta sensação de briguentos que encostam o umbigo no balcão do boteco e se estapeiam com inverdades construídas pelo “achismo”, conduz a cirrose hepática nacional. Não há fígado que suporte se embriagar do nada por anos.

A sarjeta está se sobrecarregando de tantos que passaram a ser invisíveis, retirados que foram da zona de conforto e jogados nas praças, viadutos, debaixo de pontes sem esperança de retomada da dignidade e do retorno da normalidade da vida em sociedade.

É preciso escrever isto e muito mais, mesmo que os que se voltam ao positivismo idílico que prega a poesia terna e delicada das experiências em sociedade não compreendam que quem mora na boca do vulcão corre o risco de algum dia se queimar.

O problema todo é que lavas de miséria já escorrem por todo país e estão esparramadas nos desempregos, aumento de violência, queda na qualidade de vida e nos preços aviltantes nas prateleiras nos supermercados.

Mesmo que os políticos inescrupulosos digam o contrário é crescente o número de desamparados, desassistidos.

A miséria que antes morava ao lado agora bate palmas a sua porta implorando para além de um prato de comida, abrigo, justiça, paz, sensatez e equilíbrio.

Nunca se viu tanta loucura e tanta promoção de ódio em tão pouco tempo em um país em que a cordialidade e a compreensão reinavam de forma tranquila e absoluta.

Pedir que o tempo de paz e de concórdia volte a bater à porta trazendo emprego, segurança, tranquilidade, e principalmente projetos para a volta do crescimento da nação e do cidadão que não consegue o mínimo para sua sobrevivência é pouco perto do tanto que cada um necessita para ser minimamente feliz.

É preciso que todos gritem a plenos pulmões que não suportam mais conviver com a mediocridade, com a estupidez, com os erros e, principalmente, com a falência das instituições e com a falta de justiça.

Por falar em Justiça, a situação é tão caótica que muitos se perguntam se já houve Justiça por aqui por entenderem que se houvesse não se teria chegado neste fundo de poço que se chegou.

Por falar nisto, já houve Justiça por aqui?

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