09 de fevereiro | 2025

A fronteira entre a segurança e o abuso de autoridade

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ABORDAGEM OU ABUSO?
Vídeo da GCM levanta debate sobre limites e preparo dos agentes de segurança. Imagens de uma abordagem da Guarda Civil Municipal de Olímpia viralizam e provocam um debate necessário: até que ponto a segurança pública pode avançar sobre os direitos individuais? A condução da revista, o tom da abordagem e a postura dos agentes são questionados, reacendendo a discussão sobre limites e preparo profissional.

 

José Antônio Arantes – Esta semana, um vídeo que mostra uma abordagem da Guarda Civil Municipal de Olímpia, tomou conta das redes sociais e gerou uma forte repercussão. A gravação revela não apenas a condução da ação policial, mas também o tom da abordagem, a maneira como a revista foi realizada e, principalmente, a postura dos agentes diante da população. O episódio levanta uma questão essencial: onde está a linha que separa a segurança pública do abuso de autoridade?

As imagens são claras. Um homem é abordado por agentes de trânsito da GCM (estão em uma viatura de serviço de trânsito) em uma possível ação de fiscalização. O que inicialmente seria um procedimento de rotina rapidamente se transforma em um cenário de tensão.

O abordado, que se identifica como Guilherme Felipe, reage verbalmente à abordagem, questionando a legalidade da revista e afirmando que já cumpriu sua dívida com a Justiça. Ele menciona passagens anteriores por uso de drogas, medida protetiva e agressão a policial, mas insiste que sua situação está regularizada.

AGENTE FEMININA
EM REVISTA CORPORAL EM HOMEM

A polêmica não se concentra apenas no comportamento do abordado. O ponto que gerou mais discussão foi o fato de que uma agente feminina realizou a revista corporal no homem, incluindo toques em áreas sensíveis.

A questão, embora não tenha uma proibição expressa na lei, esbarra no princípio do respeito à dignidade do cidadão. As normas de segurança recomendam que abordagens sejam feitas por agentes do mesmo sexo sempre que possível, salvo em situações de extrema necessidade. No entanto, a abordagem registrada não parece se encaixar nessa exceção, o que levanta dúvidas sobre o preparo da corporação para lidar com esse tipo de situação.

O PREPARO DOS AGENTES DA GCM

A atuação da Guarda Civil Municipal de Olímpia já foi alvo de críticas anteriormente, e o episódio atual reacende a discussão sobre o nível de preparo dos agentes que atuam nas ruas.

Uma abordagem policial não deve ser apenas um ato de autoridade, mas também um exercício de respeito, profissionalismo e equilíbrio. A forma como o agente se comunica com o cidadão pode ser a diferença entre uma ação bem-sucedida e uma crise desnecessária.

CENÁRIO DE PROVOCAÇÃO MÚTUA

No vídeo, é perceptível o tom ríspido da abordagem. Em vez de uma postura profissional e controlada, o que se vê é um cenário de provocação mútua, em que o próprio cidadão, mesmo estando visivelmente incomodado, consegue manter um tom menos exaltado do que o da agente, observada por um colega que participa pouco da abordagem.

Isso levanta uma preocupação legítima: a GCM de Olímpia está preparada para lidar com abordagens sem transformar um simples procedimento de fiscalização em um espetáculo de autoritarismo?

O PAPEL DA GUARDA MUNICIPAL: SEGURANÇA OU OPRESSÃO?

Outro ponto que precisa ser analisado é o papel que a Guarda Civil Municipal desempenha na cidade. Historicamente, as GCMs foram criadas para atuar na proteção do patrimônio público e no auxílio à segurança urbana, mas em muitas cidades, os agentes passaram a desempenhar funções cada vez mais próximas das polícias estaduais. Isso levanta um problema: até que ponto a GCM pode exercer poder de polícia sem os mesmos critérios de treinamento e fiscalização?

O caso de Olímpia expõe essa fragilidade. Se a abordagem registrada no vídeo tivesse sido feita por uma polícia militar, provavelmente teria seguido protocolos mais rígidos. A falta de clareza sobre os limites da atuação da GCM pode gerar abordagens desproporcionais e, como consequência, desconfiança da população.

A REPERCUSSÃO NAS
REDES SOCIAIS
E O CLAMOR POPULAR

A explosão de comentários nas redes sociais evidencia um aspecto que as autoridades não podem ignorar: a população está de olho e exige respostas. A maneira como o vídeo viralizou mostra que o cidadão comum já não aceita mais certas posturas que, no passado, eram normalizadas. Hoje, qualquer abordagem pode ser registrada e compartilhada, tornando impossível para os agentes se esconderem atrás da impunidade.

Os comentários foram divididos entre aqueles que defenderam a ação da GCM e os que classificaram a abordagem como abuso de autoridade. A principal crítica se concentra no fato de que um homem foi revistado por uma agente feminina, o que pode ser interpretado como inadequado e até constrangedor. Outros questionam o tom da abordagem e a sensação de que os agentes agiram de maneira autoritária e sem necessidade.

HÁ QUEM DEFENDA

Mas há também um grupo que defende a ação dos agentes, argumentando que o crescimento da criminalidade exige abordagens mais rígidas. Essa é uma questão importante e legítima, mas o problema não está no fato de uma abordagem ter sido feita – e sim como ela foi conduzida. Segurança pública se faz com técnica, não com truculência.

O caso da abordagem da GCM em Olímpia deve servir como alerta. É preciso garantir que os agentes de segurança atuem dentro dos limites da legalidade, respeitando os cidadãos e evitando situações que possam ser interpretadas como abuso de poder.

É PRECISO TREINAMENTO RIGOROSO

O episódio reforça a necessidade de que a GCM passe por um treinamento mais rigoroso, com protocolos claros e fiscalização contínua para evitar que abordagens desnecessárias gerem crises de confiança entre a população e a instituição.

Mais do que nunca, a cidade precisa discutir qual o papel da Guarda Civil Municipal e quais são os limites de sua atuação. Segurança pública não se faz com excesso de autoridade, mas com técnica, profissionalismo e respeito aos direitos individuais. Se a GCM deseja ser respeitada, precisa primeiro aprender a respeitar a população que serve.

 

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