20 de outubro | 2013

Dia do Professor

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Ivo de Souza

Mais um dia, como outro qualquer. Um dia para muito refletir e pouco comemorar. Repensar o nosso ofício, reavaliar o nosso trabalho para a tomada de novas ações, mudança de postura pedagógica diante dos alunos, uma postura nova, moderna, sem se esquecer das bases, os alicerces levantados, erigidos, em um passado mais longínquo ou mais imediato.

Sou adepto incondicional da pedagogia “fora das quatro paredes”. Quanto mais o aluno saí das quatro tediosas paredes, mais ele aprende: com a vida, com as pessoas, com as novidades encontradas na aula fora da sala… de aula. Leitura no pátio das escolas, sob as árvores do jardim, nas escadarias das igrejas…

Visitar um zoológico, um bosque, um museu, uma biblioteca, um shopping são todas ações educativas. São momentos especiais de aprendizagem. E a criança leva esses acontecimentos para sempre em sua vida.

E precisamos fugir de qualquer resquício de pieguismo quando nos referimos ao professor, ou seja, a nós mesmos. Que tenhamos um dom divino, precioso, uma missão, um sacerdócio, mas não podemos deixar de falar em profissão, da qual sobrevivemos. Somos profissionais, antes de tudo, quer sejamos professores ou educadores. E precisamos ganhar, ser remunerados adequadamente, condignamente, decentemente, pela profissão que “abraçamos”, pois ninguém vive de brisa. E aquela história, supostamente romântica, velha, de dois e uma cabana já foi devidamente deletada, mandada para o espaço. Nem só de pão vive o homem, mas o homem também vive de pão, do fruto e do suor (educar sua, sim, senhores!) de seu rosto. Temos de gostar do que fazemos e, no caso do professor, mais do que gostar, tem de amar verdadeiramente o que faz. Caso contrário não dá mesmo certo. Devemos lutar para colocar a Educação no topo das prioridades governamentais. De verdade. Pra valer.  Precisamos ser valorizados, nós, professores aposentados ou não, assim como deve ser valorizada a Educação. E sem dinheiro não se dá essa valorização, e a mesmice prevalece. Mas só o dinheiro ainda não basta.

Professores e alunos precisam de espaço físico adequado para realizarem, conjuntamente, um trabalho de qualidade. Currículos mais flexíveis e metodologias diversificadas. Aulas apenas ex­po­sitivas e currículo conteu­dís­tico não interessam mais a ninguém, nem a quem ensina, nem a quem aprende. Encher lousas e mais lousas de coisas velhas, ultrapassadas é quase assassinar uma aula. O professor, cada vez mais, tem de ser um mediador do conhecimento, que deve ser partilhado entre e com todos os alunos, os quais devem aprender de modo coletivo e aprender também a educação colaborativa, principalmente quando nos referimos às tecno­logias na sala de aula.

A Educação necessita de material didático de qualidade, que deve ser usado pelo docente e pelo aluno, caso contrário não faz sentido esse material, necessita, mais que tudo, de bons professores, capacitados continuamente, apoiados pela direção e pela coordenação pedagógica da unidade escolar e, repito, salários que traduzem o desempenho da mais difícil das profissões. E mais: respeito! O professor tem de ser respeitado pelos alunos, pelas famílias, pela sociedade em geral e, primeiramente, pelos governantes, as chamadas autoridades constituídas: prefeitos, governadores e presidente (a) da República.

P. S.: Muitos me perguntam por que escolhi essa profissão. Eu, hoje, ouso responder, parodiando meu mestre Carlos Drummond de Andrade. Um dia, um anjo torto, desses que andam no escuro me disse: “Vai, Ivo, ser educador na vida”. Eu fui. E posso dizer a todos vocês: Não me arrependi um minuto sequer do conselho angelical. Parabéns a todos os professores e a todos os educadores desse país.

P.S.:2  Quem sou eu para desobedecer a um pedido de um anjo (ainda que torto e ainda que ande no escuro). Só uma coisa não me disse o querubim: que os governos não valorizavam essa nobilíssima profissão… Mas como “tudo vale a pena/se a alma não é pequena”… Sinto-me honradíssimo e agradecido a Deus por ter escolhido essa profissão: difícil, digna, nobre, transformadora.

Ivo de Souza é professor universitário.

 

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