23 de agosto | 2015

Corruptos, acautelai-vos, 184 anos de prisão para Cunha, presidente da Câmara

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Do Conselho Editorial

Os políticos de plantão, que antes e ainda há os que insistem no discurso, afirmavam que tinham conhecidos importantes no Distrito Federal, que conheciam ministros, desembargadores, que se orgulhavam de ter o poder de enviar, a contragosto, delegados, promotores e juízes para outras cidades quando se sentiam incomodados por algum motivo técnico, parece que perderam esta força.

Parece que o tempo em que as coisas se resolviam pela hierarquia e poder de mando, em que o Poder Executivo se destacava dos outros poderes por que detinha as finanças, colocando camisa de força nos outros poderes e impedindo que houvesse liberdade para que decisões que contrariassem o poder executivo fossem tomadas, tudo indica, começaram a acabar.

Os últimos suspiros da presença do deputado Eduardo Cunha na Presidência da Câmara dos Deputados dão bem a prova disto.

Para quem sabe fazer a leitura do que se esconde por trás de determinados discursos, Cunha nunca foi o favorito da presidência da República na disputa pela mesa da Câmara.

Sendo da base aliada, tendo cooptado muitos de seus companheiros de bancada com dinheiro arrecadado junto às grandes empreiteiras e lobbies que defendia, contribuiu economicamente para que muitos deputados fossem eleitos à sombra do seu chapéu que corre entre os empresários de maior porte das empresas nacionais e financiava campanhas.

Lançou sua candidatura e não deixou alternativa para que a situação não fosse para o enfrentamento consigo, e óbvio, obteve êxito na empreitada.

Infelizmente, para infelicidade do povo brasileiro, seu comprometimento durante a campanha para presidência, e ligação com as correntes mais conservadoras do pais fez com que levasse à votação pautas que propunham o retrocesso além do inevitável desgaste do governo, tanto por conta das derrotas implacáveis quanto pelo engessamento da tentativa de implantação de políticas econômicas que sinalizassem a saída da crise que se avoluma.

Optou pela linha oposicionista mais radical e populista, aproximou-se do tucanato e contraditoriamente enterrou propostas do governo de FHC para trazer desgaste ao governo a que se opõe.

Nesta condução intempestiva foi criando além de inevitáveis inimigos uma onda conservadora no país que de certa forma o vinculava a possibilidade de vir a ser o próximo candidato a presidência da República.

Estimulado pela oposição, que sem sombra de dúvidas alimentava seu ego super inflado levando em conta seu dossiê bem farto, que dava a certeza de que sua resistência iria até o dia em que as conveniências oposicionistas não se conflitassem com seu desejo de vôos mais altos que o das aves de bico longo.

Porém, como é tempo de caça a corruptos e corruptores, sendo seu telhado de vidro e seu discurso radical, daqueles que quando confrontados vão para o ataque mortal ao que o desafia, rompeu com o circulo próximo do poder.

Anunciou seu rompimento com a presidência e não bastasse entendeu que a investigação que era alvo na Lava Jato tinha o dedo do Palácio do Planalto mancomunado com o Procurador Geral da República.

Não poupou criticas a PGR, jogou de forma leviana e irres­pon­sá­vel­, entendendo que seria alvo de perseguição em uma investigação que já levou para a cadeia os maiores empresários do Brasil, os que possibilitavam que com o dinheiro das empreiteiras Eduardo Cunha comprasse os parlamentares que garantiram sua chegada a presidência.

Discurso mais incoerente não poderia haver, os que tinham domínio de Cunha pelo financeiro, os que controlavam as votações que os beneficiavam no mercado, os financiadores dele, atrás da grade, ele, o financiado, como tantos outros, entendeu que a investigação deveria passar o Brasil a limpo, poupando-o do constrangimento da investigação e da denúncia.

Esta semana, se finda com más noticias para Eduardo Cunha e ótima noticias para o Brasil, enfim, o Presidente do maior ninho de falcatruas, do maior criadouro de atos corruptos deste país foi denunciado e na denúncia foi pedido 184 anos de prisão para este que representa um dos poderes da República.

Mesmo que o país esteja dividido pelo pensamento binário que não aceita outra posição que não a sua, é necessário parar para refletir, que mesmo sendo radicalmente a favor ou contra a denúncia, por se estar favorável ou contrário ao governo, que esta denúncia demonstra na prática que o país da impunidade está sendo enterrado definitivamente.

Em tempo algum, em toda a história deste país se imaginou na hipótese de que tal denúncia poderia ocorrer com quem está com a caneta na mão, com o poder de determinar mudanças na Constituição e na vida do cidadão brasileiro, e de até interromper o mandato de quem ocupe o cargo de presidente da República.

Esta lição demonstra que os peixinhos pequenos que vivem de grandes falcatruas, que antes batiam no peito de que detinham o poder de interromper investigações, agora terão que se preocupar, os tempos são outros e a república vai enfim reconhecendo, meio que a fórceps, a independência entre os poderes.

Portanto, corruptos, acautelai-vos, o Procurador Geral da República pediu 184 anos de prisão para Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

 

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