04 de março | 2019

Combate à poluição será prioridade no mundo pós-Covid

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“As cidades com a pior qualidade do ar, por exemplo, possuem até 15% mais chances de morte por Covid-19 que lugares mais limpos”.

Jacyr Costa Filho

Nos últimos meses es­ta­mos vivendo algo que nunca pensávamos em presenciar: uma pandemia de um vírus jamais visto paralisou várias atividades do nos­so cotidiano seja no trabalho ou na vida social. O alto grau de contágio e a falta de uma terapia comprovada que enfrente os males decorrentes do no­vo coronavírus fazem com que muita gente no mundo inteiro esteja neste momento confinada. Só para pegar um número para ilustrar o impacto do isolamento social: no dia 28 de abril, o Dia da Educação, cerca de 1,3 bilhão de estudantes no mundo inteiro estava em suas casas – 3 em 4 cada estudantes.

O Covid-19 está nos trazendo diversos percalços, mas também muitos apren­dizados. O primeiro é que a sociedade já deveria ter elevado a preocupação com a saúde pública. E não me refiro a estarmos preparados com leitos de hospitais, mas, sim, para evitarmos doenças. A poluição, principalmente a do ar, é um dos maiores problemas de saúde do mundo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 91% da população do planeta vive em locais com a qualidade do ar abaixo do recomendado. A instituição também estimou que a poluição é responsável por 7 milhões de mortes prematuras por ano, em todo o mundo. No Brasil, especificamente na capital pau­lis­ta, a poluição é responsável por 12% das inter­na­ções, segundo o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Alguns cientistas apontam que a queda da poluição que está acontecendo durante a quarentena é tão acentuada que, se estivéssemos com estes índices antes da pandemia, milhares de vidas seriam salvas, pois esse mal é responsável por provocar e agravar quadros de doenças respiratórias em todo o planeta. A reflexão fundamental é sobre o que temos que fazer para se reduzir a utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia.

Para a Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan, em Boston, existe ligação direta entre taxas mais altas de mortalidade com a poluição. As cidades com a pior qualidade do ar, por exemplo, possuem até 15% mais chances de morte por Covid-19 que lugares mais limpos.

Em Nova York, as emissões de monóxido de carbono de automóveis diminuíram 50% em comparação ao ano passado, segundo a Universidade Co­lumbia, no período de isolamento social. O mesmo aconteceu no Brasil. Segundo a Cetesb, a poluição atmosférica em São Paulo também caiu pela metade após uma semana de quarentena na capital. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, apresentou uma redução de 33% nos níveis de dió­xido de nitrogênio (NO²). O foco tem de ser em par­ti­culados ou CO2, não NO2. A emissão do gás diminuiu mais de 30% nos meses de março e abril deste ano, em relação a 2019.

Se a poluição é o problema e contribui para os casos de óbitos, como podemos resolver? De acordo com o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), a gasolina aumenta em 30% a emissão de nanopartículas que entram nos pulmões que com­prometem o sistema respiratório.  Ainda, segundo a pesquisa, se São Paulo trocasse os combustíveis fósseis da frota veicular por etanol, a poluição cairia 50%. Isso acontece porque a cana-de-açúcar, em seu ciclo de desenvolvimento vegetal, absorve de 70% a 80% do CO² liberado na queima do etanol combustível.

O Brasil é o segundo maior produtor de biocom­bus­tíveis, atrás dos EUA. Só na safra 2019/20, foi responsável pela produção de 3,6 bilhões de litro de etanol, e dispõe de in­fraestrutura existente para distribuição deste combustível reno­vá­vel através dos mais de 42 mil postos de combustíveis distribuídos no Brasil todo.

A solução para prevenir doenças respiratórias existe no Brasil, que é o maior uso da biocombustíveis, e pode ser copiado em diversos países do mundo como Índia, China e outros aonde a poluição do ar nas grandes metrópoles é um grave problema.

Jacyr Costa Filho  é Membro do Comitê Executivo do Grupo Tereos e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp.


 

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