31 de outubro | 2021

Você vive para outros ou para você?

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“Amo a todas as coisas que existem na minha vida como elas são.
Não quero mudá-las, pois se o quiser, não as amo,
amo aquilo que elas poderiam ser”.

Mestre Baba Zen Aranes

A VIDA IDEAL …

… ou que, desde o início da consciência humana, o que é Felicidade, é sempre tema de debate, de discussões acaloradas que também levam a uma diversidade imensurável de teorias e fórmulas que, uma pesquisa simples na grande enciclopédia virtual, daria para encher milhares de páginas de um livro.

E, DE CARA, …

… vai a pergunta pra você caro leitor. Qual é a vida ideal para você?

PENSE BASTANTE, …

… formule várias premissas, busque na história, na ciência, na filosofia, na sociologia, nos exemplos familiares, na sua própria vida e chegue à sua própria boa teoria.

ENQUANTO …

… você caminha nesta jornada reflexiva, este ser que ousa pensar e colocar no papel o que pensa, abre espaço no seu próprio pensamento para também tentar explicar este termo que tanto já se falou e se fala até hoje.

CLARO, …

… como defensor da tese de que somos verdadeiras máquinas biológicas, ou computadores de carne e osso, formatados pela moral, costumes e ambiente que vivemos, não poderia deixar de estabelecer a primeira premissa de que tudo depende da formação de cada um.

MAS, JÁ PARTINDO …

… para a segunda premissa, curioso sobre os vários tipos de amor, não poderia deixar de tascar, será que não é o amor que dita todas as regras sobre o que é a felicidade?

PARA NÃO …

… se estender muito e não entrar na complexidade do amor incondicional, vamos nos ater ao tipo de amor mais palpável, o formulado pelo verdadeiro pai da psicanálise, o alemão Friedrich Nietzsche, o chamado Amore Fatti.

SIMPLISTAMENTE …

… traduzido como amor de fato. “Amo a todas as coisas que existem na minha vida como elas são. Não quero mudá-las, pois se o quiser, não as amo, amo aquilo que elas poderiam ser”, entende o mestre Baba Zen Aranes.

MAS, AO SE …

… tentar enxergar o mundo atual, o que presenciamos como o amor que impera, é o propagado por Platão, o Eros, o amor que se baseia no desejo.

PARA EXPLICÁ-LO …

… vamos apelar para o mestre Baba novamente: “Eu desejo o que não tenho. O que é meu já me pertence e não me causa mais tanto prazer”.

ORA, …

… este é o tipo de amor que move a humanidade hoje, inclusive a própria economia. É nele que surge a moda (normas que você tem que seguir para ser feliz), a economia (se você só deseja o que não tem, tem que comprar para ter); e as próprias relações (muito mais superficiais). Enfim, a moral, os costumes e o próprio sistema hoje são servos do Deus Eros, fomentam e vivem do desejo.

MUITO DIFERENTE …

… do Amore Fatti que prega o amor por todas as coisas do jeito que são e o incondicional, que é o amor acima de tudo, sem condição nenhuma para existir (por exemplo o da mãe pelos seus filhos).

MAS, …

… para exemplificar a tese deste “calunista” – escritor que tem calos – achei deveras interessante reproduzir um texto chamado “Diálogo da vida ideal”, da psicóloga cognitivo-comportamental, Mara Lúcia Madureira, publicado recentemente no Diário da Região de Rio Preto, no estilo de Platão, que usava os diálogos para compor sua obra.

– O que ela é sua?

– Ela não é nada minha. Apenas estamos juntos, temos filhos, dividimos a casa, a cama, as contas, fazemos planos e amor, realizamos projetos juntos.

– Então ela é a sua mulher!

– Não. Ela é mulher, mas não é minha. É dela mesma, mas decide estar comigo.

– Então é sua esposa!

– Também não. “Esposa” é uma antiga definição para algemas. E ela não está presa a mim. Está comigo pelo simples desejo de estar. Não temos contratos, apenas vontade. Não temos nenhuma obrigação de permanecer, o fazemos por desejo.

– Isso não é perigoso?

– Perigoso é uma pessoa se sentir obrigada a permanecer onde não deseja estar, fazer sexo por “dever” e sem empolgação, conviver sem amor, estar presa por interesses materiais, coerção social, familiar ou religiosa.

– Então, o que é família?

– Família é um grupo de pessoas com algum grau de parentesco, com ancestralidade comum.

– E os laços afetivos, não contam?

– Ah! Esses são os que realmente importam. Desde que sejam afetos como o amor e desejo recíprocos, em um ambiente de compreensão e cooperação num formato relacional, onde todos se sentem valorizados e beneficiados. De outro modo, restam o medo e a submissão. São relações de domínio. E toda vez que alguém se sente controlado, sente-se também humilhado e, nessa condição, nascem as aspirações de liberdade e vingança.

– Eu não vejo dessa maneira.

– Então você não vê! O olho só vê o que o cérebro é capaz de processar. Mentes trabalhadas para não pensar não ousam atravessar o limite das imposições. E, quando o fazem, sentem-se culpadas e pecadoras.

– Para mim, toda essa fala sua parece blasfêmia.

– É justamente essa a ideia. Sua fala revela o sucesso do condicionamento mental: evitar questionamentos e manter o velho padrão estabelecido. Para os controladores não importa se você é feliz, importa manter as aparências. Não importa que você sofra; desde que conserve as “boas práticas” do manual alienante, você estará em paz com sua imagem social. Ainda que você desenvolva transtornos mentais e doenças físicas, não tem problema, sorria e acene. Continue… Viva uma vida sem prazer, mutile seus sonhos, mas não dê desgosto à família. Tenha pesadelos, insônia e angústia. Ninguém precisa saber o que se passa entre quatro paredes. Além do mais, a indústria cosmética oferece excelentes corretivos para olheiras, os laboratórios farmacêuticos têm antidepressivos e ansiolíticos de última geração para todo mal-estar e a religião está aí para lhe dizer que você não está só.

José Salamargo, certo de não conseguir estabelecer uma verdade incontestável, pelo menos “feliz” por saber que existem seres neste planeta que comungam de teorias parecidas para explicar a vida e, mais ainda, por ter levantado todas estas premissas e esperançoso de poder ter ajudado você explicar para você mesmo o que poderia ser a sua vida ideal.

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