28 de fevereiro | 2021

Atitudes para aumentarmos o rendimento visual

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Ouço muitas queixas de estudantes e
observando a correção óptica dos
seus olhos como também os problemas
oriundos da motilidade ocular, aliada à
postura encontro a origem
destas reclamações.

 

Waldeluir Dublim Sacchetin
Querido amigo José Arantes. Com satisfação em ler no seu jornal a notícia sobre a instalação de câmeras de vigilância nas ruas de Olímpia veio a preocupação ao notar, na foto da reportagem, a altura dos monitores na central de observação. Explico a preocupação: – quando o monitor está acima da linha normal de mirada os músculos do pescoço são obrigados a contrair para justamente elevar a cabeça e o olhar. Teremos incômodo ou dor proporcional a contração muscular ou tempo de contração. A dor poderá ser na coluna ou nos músculos do próprio pescoço.

É frequente o encontro de telas em locais públicos tipo rodoviária, aeroporto, colocadas em posição elevada a ausência de observadores mesmo interessadas porque o sacrifício supera o interesse e resulta na desistência da observação. Não suportamos a extensão dos músculos do pescoço, ainda mais aliada à contração dos músculos retos superiores dos olhos que o deslocam para cima tem atitude incomum do olhar acarretando sofrimento e afastando o espectador.

Em atividades de longa duração, como leitura de livros e telas eletrônicas devemos cuidar da postura da cabeça aos pés, sim dos pés à cabeça, em nome do conforto e rendimento na atenção ou aprendizado. Notando que a cabeça pode ter ligeira flexão, o queixo se aproxima do pescoço, assumindo assim posição confortável no olhar. A “natureza” programou no homem o foco de audição e visão a 6m no chão em sua frente, provavelmente para auxiliar a sua defesa, então a linha de maior rendimento auditivo e visual está situada no chão a 6 m de distância.

Observando uma pessoa com o olhar perdido, absorto em seus pensamentos, ou um cego temos ideia da amplitude de flexão do pescoço em sua posição de maior conforto. Tem preocupado os especialistas a postura assumida nas pequenas telas, celulares, Smartphones e etc onde costumamos olhar para baixo, flexionando o pescoço em demasia com potencial prejuízo principalmente para a coluna cervical.                                                                                                                                            

Na leitura ou uso de computador sobre as mesas podemos determinar, com facilidade, a melhor posição do objeto de leitura. Como? Levando um jornal ou revista grande na mirada mais cômoda retirando o jornal que estaria entre os olhos e objetos encontramos a linha para a melhor leitura.

O corpo merece também atenção: deve estar ereto, a coluna reta na vertical e totalmente apoiada no encosto da cadeira, de preferência de espaldar alto. Na digitação os punhos devem apoiar na borda do teclado ou na mesa, conservando sempre a coluna ereta. As pernas em ângulo reto, significa em 90° com as coxas e com os pés que devem estar totalmente apoiados no chão. As coxas e o assento da cadeira ficam, então, na horizontal. Mesas de leitura e cadeiras possuem regula­gem, justamente para adequação, conduzindo a postura mais adequada. Muitas vezes temos que ajustar altura da mesa, não só do objeto da leitura sobre elas, ou da cadeira.

Vemos em algumas atividades o posicionamento completamente fora dos modelos anatômicos, por exemplo os caixas dos bancos que usam elevar os seus assentos para nivelar com os clientes que estão em pé à sua frente, aí as pernas ficam penduradas. Para sustentá-las apoiam o salto do sapato no arco inferior da cadeira levando a fadiga, contrações, dores etc. Há três correções possíveis nesse caso :

1) elevar o piso na elaboração do ambiente

2) adicionar um tablado total ou usar pequenos apoios de plástico, existem modelos prontos,  ou ainda improvisar com caixa de frutas em dimensões próprias  colocadas entre a cadeira e o balcão

3)   “sentar” o cliente   nivelando-o com o funcionário, sentado, permitindo assim assumir a postura ideal  apoiando totalmente os pés no chão. 

É muito importante o posicionamento corporal porque interfere, em grande evidência com o aprendizado na leitura e atenção, pois a fadiga desvia atenção por requerer demasiado esforço gerando queda no rendimento na tarefa a ser realizada.

Para termos, então, sucesso além da posição do corpo temos que observar o ângulo do objeto, seja livro ou película, que deve estar inclinado em aproximadamente 60 graus para que os nossos olhos fiquem na perpendicular do objeto, oferecendo visão mais nítida, aproveitando todos os raios luminosos provenientes do objeto e mantendo a mesma distância seja na parte superior ou inferior da página.

Ouço muitas queixas de estudantes e observando a correção óptica dos seus olhos como também os problemas oriundos da motilidade ocular, aliada à postura encontro a origem destas reclamações. Os casos de grau, nas lentes cor­retoras, óculos, moti­lida­de ocular fazem parte da assistência oftalmo­ló­gica, mas a postura é atribuição nossa, dos leitores.

É muito comum a ocorrência de queixas e foi objeto de tese defendida na Universidade de São Paulo. A doutora Ana Cas­te­llana encontrou entre 400 alunos de uma escola particular da capital ao menos um erro de postura significando que todos tinham pelo menos um motivo para sentir incômodo, desconforto ou dor na leitura e uso do computador. O objetivo do estudo foi analisar lesões músculo-es­que­léticas e suas relações com o uso de computador e leitura. Respondendo a questionário entre 800 desses alunos 40% dos jovens referiram algum tipo de dor. É claro que na ocorrência de dor o rendimento estudantil deteriora.

Nos trabalhadores as queixas são mais profundas daí minha preocupação. Eles são obrigados a cumprir horários, cobrança de desempenho etc. Os jovens ao contrário podem afastar,desistir ou interromper as suas tarefas. O trabalhador não. Vem daí o imperativo de oferecermos todas as condições posturais de excelência para  trabalhadores . A chamada LER, Lesão por Esforço Repetido ou DORT, Distúrbio Osteomuscular Relacionado com o Trabalho, constitui a principal doença ocupacional do mundo, ocorre quando a posição é errada ou ficamos na mesma posição, realizando movimentos idênticos, por longos períodos. A causa mais comum é o uso de telas e de computadores.

No caso dos monitores que o prefeito Fernando Cunha,em boa hora im­plementou, são recursos abençoados por evitarem que os mais fracos moralmente pequem, sonhamos agora com a adição do reconhecimento facial. Assim a adequação na altura das telas da Central de Observação permitirá uma vigilância mais eficiente e confortável resultando em mais segurança (estamos precisando) para nós.

Zezé entendo ter cumprindo obrigação de colaborar ao esclarecer atitudes para aumentarmos o rendimento visual de leitores e trabalhadores.

Abraços do amigo e admirador.

Waldeluir Dublim Sacchetin é médico oftalmologista em Olímpia.
 

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