16 de setembro | 2018

Amai-vos uns aos outros, ou… Armai-vos uns aos outros?

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Do Conselho Editorial

Muitos têm dito e repetido que são estranhos estes tempos em que tantos falam de religiosidade, fé, pregam amor nas catedrais e nos templos e praticam o ódio.

E parece ser muito mais estranho do que é porque o mestre dos mestres pregava a amorosidade, compreensão, paz, concórdia, e o que se vê nos dias de hoje é o contrário desta pregação.

Jesus Cristo, antes de iniciar a Paixão, antes de subir aos céus, fez seu discurso de despedida, que pode ser considerado co­mo se fora um testamento às gerações que o precederiam e prometeram seguir seus ensinamentos.

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: “Eu vos dou um manda­mento: amai-vos uns aos outros. Como? Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”.

João que eterniza estas palavras ora aprofun­dada, vê no amor mútuo o mandamento por excelência cuja vocação é justamente ser comunhão, ser unidade.

Em seguida Jesus complementa. “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos se vos amardes uns aos outros”.

Para reconhecer a autenticidade de um verdadeiro discípulo de Cristo, reconhecer o que os distingue é exatamente o amor mútuo vivido, onde todos são um só em única voz na pregação cristã, este o sinal que decifra um cristão na acepção da palavra.

Embora não seja regra, norma ou mandamento que se perfile, ao lado de outros, sugere a fala a impressão de que Jesus pretende revelar a seus seguidores uma forma de viver e de configurar com ternura e amor a existência. E de fato os primeiros cristãos faziam deste mandamento a base de suas vidas.

Antes de qualquer ação, de qualquer atividade, fosse qual fosse, trabalhar, estudar, ir a igreja se verificava se o amor mútuo reinava entre os que professavam a fé e os que viviam consigo.

E desta maneira, perdido entre guerras, inquisições, macarthis­mos, ditaduras, seguiram os cristão vendendo a ideia da esperança e da volta do salvador da humanidade.

Este país, cujo povo é cristão, em sua maioria, adormecia seus ressentimentos desde sempre em berço esplêndido.

Afora os golpes que iniciaram assim que foi proclamada a república e nunca mais foram interrompidos, a visão da ideia de um povo cordial, sereno e pacífico, de boa índole, do cristão que convivia tranquilamente com as diferenças e estranhezas, sobrevivia sem aranhões.

Os negros e os indígenas desde sempre foram tratados com desdém pela classe dominante. O preconceito e a discriminação eram ocultadas pelas autoridades e pouco discutidas pelos historiadores oficiais.

Tratados como se não existissem os excluídos e os invisíveis de todas as cores e espécies só eram reconhecidos nas pesquisas que maquiavam suas presenças no território brasileiro e diminuíam o impacto da segregação.

Mesmo o estrangeiro, coisa que, fora os indígenas, todos são, eram tratados com menoscabo e desprezo, desde que de origem negra ou latina.

No entanto, nestes tempos de tantas estranhezas parece que foi aberta a caixa de Pandora e todos os males que estavam ocultos ganharam as ruas e o preconceito ao pobre, negro, LGBT, mulher, estrangeiro, começou a circular como parte integrante da sociedade que precisa ser eliminada.

E o discurso da violência, da justiça pelas próprias mãos se sobrepôs a necessidade da presença do Estado para dirimir conflitos e parece que parte da sociedade quer pegar em armas para solucionar suas divergências no campo amoroso, trânsito, esporte, praia, balada e até um fanático evangélico tentou eliminar da disputa presidencial o estimulador destes discursos.

O que pode comprovar que ninguém, mesmo sendo preparado pelo exército, tendo como segurança o aparato da Polícia Federal, Militar, Civil, apoio de seus truculentos seguidores, consegue se defender do ataque surpresa de alguém violento e mal intencionado, que dirá o cidadão comum, mesmo que armado?

Pandora foi enviada para Epimeteu, que já tinha sido alertado por seu irmão a não aceitar nada dos deuses.

Ele, por “ver sempre depois”, agiu de forma precipitada e ficou encantado com a bela Pandora.

Ela chegou trazendo uma caixa (não era necessariamente uma caixa, mas um jarro) fechada, um presente de casamento para Epimeteu.

Epimeteu pediu para Pandora não abrir a caixa, mas, tomada pela curiosidade, não resistiu.

Ao abrir a caixa na frente de seu marido, Pandora liberou todos os males que até hoje afligem a humanidade, como os desentendimentos, as guerras e as doenças.

Ela ainda tentou fechar a caixa, mas só conseguiu prender a esperança.

Desde então a história de Pandora está associada com fazer o mal que não pode ser desfeito.

Nesse mito também está o nascimento do pensamento sobre o bem e o mal que a mulher pode causar.

É interessante perceber o motivo de a esperança estar presente entre os males trazidos por Pandora a Terra.

Para algumas interpretações, a esperança está guardada e isso é bom.

Entretanto, compreendendo a lógica do mito, pode-se ler a história de forma pessimista, pois a esperança está guardada dentro da caixa e a humanidade está sem esperança.

Essas duas leituras admitem que a esperança seja algo bom e se agregadas à ideia do amor mútuo tão evidenciadas por Jesus, se resgatadas e incorporadas à visão de espírito de nação, podem salvar o país da crise de descrédito e violência em que se encontra.

Antes de tudo, porém, esta nação cristã tem que lembrar que Jesus pediu para Amar-vos uns aos outros e não para Armar-vos uns aos outros.

 

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