09 de agosto | 2020

Alguns brasileiros parecem ter adotado a mentira como se fosse a mais pura verdade

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“Ozônio pelo anus pode não curar Covid-19
mas pelo menos aqueles mentirosos que
não entendem a gravidade da situação
e que adoram tomar direto e reto
na própria entrada do reto, vão adorar”.

 

Do Conselho Editorial

A mentira, assim como o fuxico ou fofoca, não são novidades no universo humano, desde sempre ocorreram.

Desde que o homem começou a falar que uns imputam aos outros efeitos inexistentes ou criam histórias que não existiram para que o outro se con­ven­ça de que um ponto de vista sob o qual pairem dúvidas possa ser verdadeiro.

Verdade é a coisa, fato ou evento real, a propriedade de estar de acordo com os fatos ou a realidade.

Pode também ser aquilo que está ligado à sinceridade, a espontaneidade, ao que se tem como verdadeiro, a ausência de mentira.

O que é correto diante da realidade apresentada.

Por isto que alguns galos mais exaltados cantam da cumeeira de suas idiotices para o mundo ouvir que só cantam verdades.

Alguns pavões arrastam o rabo no terreiro mostrando penas do que interpretam como a beleza majestosa da verdade enquanto ocultam a feiura de seus pés afundados em mentiras e falcatruas.

E mentiram tanto para si mesmo que a mentira substituiu a verdade e passou ser entendida como se verdade fosse.

E como tivessem varinhas mágicas, de condão, poderes da hipnose, relação com a magia, poderes divinos, pacto com o Ti­nho­so do Tinder, Asmo­deus, Tio do Churrasco, Cra­munheta ou Espi­nos­sáuro Quadrúpede, o pessoal da mentira enfeitiçou muita gente.

É coisa recente, mas não é coisa nova esta vocação de se espalhar a mentira e as pessoas acreditarem por conveniência, falta de informação, educação, cultura, estupidez ou inocência.

Os maldosos, para impor uma narrativa que os beneficiem, esparramam umas mentiras que auxiliam a emplacar seus pontos de vista e os enumerados que vão dos “sim­plãos” aos mal intencionados, chegando aos estúpidos, vão se encarregando de disseminar como se aquilo fosse verdade absoluta.

E não se está escrevendo aqui que a reforma trabalhista iria melhorar a relação patrão empregado, gerar milhões de emprego, ampliar a renda do trabalhador.

Muito menos que reforma previdenciária iria resolver o rombo nas contas públicas, modernizar a previdência e amparar o trabalhador.

Menos ainda que a CPMF não voltaria nunca mais ou que a Lava Jato iria acabar com a corrupção ou que o novo governo só indicaria técnicos nos cargos de primeiro escalão e que jamais negociaria com o Centrão.

A mentira que se trata aqui lida com outras irres­ponsabilidades que matam de forma direta ou deixam sequelas para sempre na vida das pessoas e das sociedades.

A mentira é coisa muito antiga, existe desde sempre e no Brasil vem substituindo verdade e trazendo um comprometimento enorme ao tratamento da Covid-19.

Iniciou-se com a negação da ciência e com a propagação da Cloroquina enquanto solução para tudo, contrariando estudos que negam sua eficácia no tratamento do Covid.

A cloroquina e a hidroxi­clo­roquina são medicamentos indicados pa­ra doenças autoimu­nes e em pacientes com malária.

Para a Opas e a OMS os dados e os resultados recentemente anunciados mostraram que uso de Clo­roquina e Hidroxi­cloro­quina não resulta na redução da mortalidade de pacientes com Covid-19 hospitalizados, quando comparados com padrão de atendimento.

Nem bem esgotaram o estoque de baboseiras a respeito da Cloroquina criaram o mito de uma nova panaceia curativa, a Iver­mectina no combate ao Covid 19.

Até onde se sabe a Iver­mectina é eficiente contra parasitas gastroin­testinais e eco parasitas que são os parasitas externos.

Segundo estudiosos do assunto, além de contribuir para o aumento do preço do medicamento, a alta demanda por iverme­ctina pode induzir pessoas a usarem medicamentos para animais.

A troca é um risco grave à saúde, adverte o professor Marcelo Beltrão Molento, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “A indústria farmacêutica para humanos investe dez vezes mais em pesquisa científica do que a veterinária para desenvolvimento de medicamentos”, compara. “A ivermectina bovina, por exemplo, tem característica de formulação para ser administrada em um animal de 450 a 600 quilos”.

“Tem oleosidade específica, continua, persiste mais porque os animais têm mais tecido adiposo [gordura]. Administrar em uma pessoa um medicamento desses é completamente contraindicado, não existe paralelo tera­pêutico possível. Seria um grande risco de intoxicação medicamen­tosa para humanos”, explicou Molento.

Mas, nem começou a indicação da Ivermectina e o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (MDB), anunciou que a cidade faria parte de um estudo para utilizar a ozonioterapia por via retal no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

A falta de comprovação científica do método causou polêmica após o anúncio do político, uma vez que o CFM (Conselho Federal de Medicina) desa­conselha o uso labora­torial da ozonioterapia, assunto que virou meme nas redes sociais.

Estudo submetido pela Sobom (Sociedade Brasileira de Ozoniote­rapia Médica) conclui que o efeito da ozo­nioterapia em humanos infectados por coronavírus é desconhecido e não deve ser recomendado como prática clínica ou fora do contexto de estudos clínicos.

A grande novidade e a promessa de salvação da humanidade é a aplicação de ozônio pelo ânus endossado, assim como a Cloroquina e o Iverme­ctina, pelos descontro­lados senhores que ocupam o Palácio do Planalto que contribuem para que mentiras se esparramem pelo país como se verdades fossem.

E juntos com mais de cem mil mortos se coleciona “istórias” de caixões carregados de pedras, aumento do valor destinado a saúde por morto com Covid, número de mortos em cartórios menor que a realidade, mortos com outras doenças registrados como Covid e por aí vai.

Só algumas coisas são certas no meio desta mentirada toda: a falta de noção de algumas pessoas, a mente criminosa de outras, a omissão criminosa do governo, a ganância de muitos empresários.

E no meio de tantas coisas erradas pelo menos uma pode estar certa, a aplicação de ozônio pelo anus.

Pode não curar Covid 19, mas pelo menos aqueles mentirosos que não entendem a gravidade da situação e que adoram tomar direto e reto na própria entrada do reto, vão adorar.

 

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