03 de janeiro | 2016

Adeus, meu bom Velho

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Willian Zanolli

Meu bom e querido Velho.

Vou me despedindo de ti como quem se despede de dilúculos e crepúsculos, sabores de jabuticabas, cheiro de es­tradas de terra depois da primeira chuva, da última lambida do sorvete de milho verde do Bar do Gino.

Me despeço de ti meu bom Velho, que morre lentamente, como alguém que se arrasta consigo nos caminhos das despedidas.

Em parte, que, por sua culpa e ida já não serei ­mais tan­to, serei menos pri­mavera.

Leva contigo mais este bom bocado para o além carregando todas as alegrias e esperanças, que você, meu Velho parceiro de segundos, horas, dias e ano me proporcionou.

Lógico, que, obedecendo a suas lições fiz direitinho o dever de casa e sorvi sua companhia, e sorverei até o teu ultimo suspiro.
Você leva meu Velho, na sua bagagem de ir embora tantas coisas que, inocente, pensei que fossem minhas mas que pertenciam ao tempo que te leva e que por enquanto me deixa.

Que saudades irei sentir das coisas que me foram dadas viver.

As borboletas sabem deste meu desejo de voar, de ser bem te vi, de orvalhar, escurecer, pintar de arco-íris as telas estendidas nas paisagens que hão de vir.

 Lagartear e bailar ao sol, deitar a sombra dos pés de jacaterão de Juquiá, floridos no novembro e assim vão até findar verão.

Flautar, flanar, que a cachoeira da fumaça há de nos banhar todos de pureza e paz um dia.

 Vai, meu Velho, me despeço de ti com a alma lavada, sentimento de dever longo e comprido e cumprido, de águas tantas percorridas, de barcos a subir corredeiras atrás de piaparas arriscas, tucunarés tinhosos, quarentas na proa e a vida sempre a mil rio afora, que a vida é pescar almas até se transformar em uma.

Muitos gatos vão ronronar na minha cumeeira, muitas curuiras farão festas no jardim, amargosas arrulharão pelos telhados, anús virão bicar as amoras, orquídeas florirão, haverá previsões para o futuro e nós, enquanto der e puder estaremos presentes.

Você será passado, nostalgia e saudade.

Vou lembrar de ti com o carinho de todos os outros Velhos e bons companheiros que marcaram comigo dia a dia a passagem do esgotamento da minha lenda.

Trouxeram tantas histórias, encheram meu velho baú de cantos e encontros e encantos, e, como você, meu bom e velho 2015 se foram.

Não resta mais que desejar que 2016 traga toda infelicidade, felicidade, tristeza, alegria, felicidade, angústia, pranto, riso  que você me trouxe, que só assim continuarei a me sentir incompleto e inacabado, algo por se fazer, um rabisco, um traço, nada de arte e nem de final.

Que esta coisa de se ter só harmonia não nos ensina a andar na corda bamba.

Se não fosse para ser aventura de nada valeria participar deste filme, cujo final, espero que seja tão feliz quando está sendo o teu, meu bom e velho 2015.

 Segura  na minha mão que um vento, brisa marítima suave te leve embora como trouxe.

Adeuuuus.

 

Willian A. Zanolli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de segunda, quarta, quinta e sextas-feiras, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque, na Rádio Cidade FM 98.7, e, aos domingos, no Sarau da Cidade, das 10h00 às 12h00, na mesma emissora de rádio.

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