27 de outubro | 2024

A triste constatação de que fomos todos enganados e o desgosto da sensação de que não vai melhorar

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Olímpia e seus moradores merecem muito mais do que promessas vazias

 

Por José Antônio Arantes

O recente aumento de 9,52% nas tarifas de água e esgoto em Olímpia, anunciado no dia 24 de outubro, trouxe à tona um profundo sentimento de engano e frustração entre os moradores. Quando a Sabesp assumiu a concessão do serviço de abastecimento, as promessas eram de que a cidade veria melhorias na infraestrutura e na qualidade do serviço sem que os reajustes ultrapassassem a inflação, pelo menos nos primeiros cinco anos.

Contudo, pouco mais de um ano após a concessão, não só as tarifas foram aumentadas em quase o dobro da inflação, como a qualidade da água e o estado da infraestrutura atingiram níveis elevados de insatisfação popular.

PROMESSAS QUE SE ESVAÍRAM NO CAMINHO

Durante a concessão do DAEMO à Sabesp, o ainda prefeito Fernando Cunha, o “Nandão”, garantiu que a nova gestão traria melhorias aos sistemas de abastecimento, com a promessa explícita de manter os reajustes dentro da inflação. Essas promessas agora se mostram frágeis e distantes da realidade.

A justificativa oficial de que o reajuste acompanha o IPCA desde a proposta inicial apenas aumenta a desconfiança e o descontentamento popular. A população, já prejudicada pela crise econômica, se vê diante de uma despesa mais pesada para um serviço essencial que ainda falha em oferecer segurança e qualidade.

SITUAÇÃO PIOROU DESDE A CONCESSÃO

Ao que parece, esse compromisso não está sendo cumprido, e a situação para muitos moradores piorou desde a concessão. A sensação de ter sido enganado não se limita a promessas não cumpridas: ela reflete o impacto direto nas contas e na qualidade de vida de cada família.

A falta de transparência no processo de concessão também se mostrou uma grande frustração. Originalmente, um plebiscito daria à população de Olímpia o direito de participar da decisão, mas uma emenda legislativa imposta pelo próprio prefeito Cunha removeu esse direito, deixando os moradores sem voz sobre o destino de um serviço essencial.

TAMBÉM FUI ENGANADO

Como homem de marketing e estrategista político, fui parte dessa história ao ajudar a estruturar o projeto de concessão e também experimentei uma decepção pessoal: não recebi por isso.

Por mais que tenha atuado de maneira profissional e imparcial, ao longo dos anos ficou evidente que as atitudes autoritárias e até narcisistas do prefeito não serviam aos interesses da cidade, mas sim a interesses pessoais e políticos.

Assim como eu, muitos moradores sentiram que foram enganados. A concessão, que deveria representar uma nova era de eficiência e modernização, se transformou em um peso.

O aumento de quase 10% nas tarifas e a falta de ação significativa da Sabesp para corrigir o sistema de distribuição, com tubulações antigas e água de qualidade duvidosa, mostram o preço que Olímpia paga por acreditar em promessas vazias.

SISTEMA OBSTÁCULO: UMA ESTRUTURA PRECÁRIA QUE PERSISTE

O estado da infraestrutura de distribuição de água de Olímpia é uma questão crítica e não se resolverá sem investimentos consistentes e urgentes. O sistema antigo, com canos enferrujados, é conhecido pelos gestores, que admitiram os problemas, mas pouco fizeram para solucioná-los.

No contrato com a Sabesp, a concessionária tem, ao que se informa, uma década para realizar esses investimentos, um prazo dilatado que já preocupa a população, pois o custo da renovação do sistema de distribuição é alto, e o retorno destas melhorias aparentes parece distante.

“TOMO BANHO E PARECE QUE AINDA TEM SABÃO NO CORPO”

Em bairros como Cohab I, moradores relatam que a água chega às torneiras com aspecto esbranquiçado, às vezes de ferrugem, cheiro desagradável e, em algumas situações, com uma consistência “gosmenta”. A água, que deveria proporcionar saúde e qualidade de vida, se transformou em motivo de reclamações e medo.

Adriana Silva, moradora de Cohab I, descreveu sua experiência desconfortável ao usar a água local, afirmando que “parece que ainda tem sabão no corpo depois do banho”, algo que não deveria ser realidade para ninguém.

A DESCONFIANÇA COMO LEGADO DE UMA CONCESSÃO MAL PLANEJADA

A realidade de Olímpia nos leva a questionar o compromisso da administração pública com o bem-estar dos seus cidadãos. A situação atual é o reflexo de uma concessão que excluiu a participação popular, deixando um serviço essencial nas mãos de uma empresa voltada ao lucro.

A expectativa de um serviço melhor foi rapidamente substituída pela percepção de que o município foi envolvido em um acordo que trouxe mais problemas do que soluções. A Sabesp, apesar de sua grandeza, tem demonstrado dificuldades em lidar com a complexidade e o histórico problemático do sistema de abastecimento da cidade.

A realidade é que a cidade de Olímpia foi enganada, e a sensação de decepção transcende as promessas quebradas do prefeito. A concessão em si passou a representar não um avanço, mas uma barreira, um fardo financeiro e estrutural que a população carrega sem ter pedido.

A falta de plebiscito, a demora nos investimentos e os aumentos excessivos geram um clima de desconfiança generalizada.

A NECESSIDADE URGENTE DE TRANSPARÊNCIA E RESPONSABILIDADE

Este momento pede responsabilidade, transparência e compromisso real por parte da administração pública e da Sabesp. É preciso que ambos, prefeito e concessionária, reconheçam a decepção e tomem medidas que realmente beneficiem a população.

O reajuste atual precisa ser revisto à luz de critérios mais justos e da realidade econômica local, e é essencial que investimentos no sistema de distribuição aconteçam imediatamente, não daqui a uma década.

Olímpia, como uma cidade com potencial turístico e uma população trabalhadora, merece um serviço de abastecimento digno e que ofereça segurança e qualidade.

POPULAÇÃO PRECISA TER VOZ E VEZ

Se há um aprendizado que fica desta experiência é a importância de manter a voz popular como pilar de decisões que afetam a coletividade. A exclusão do plebiscito foi uma falha democrática que abriu portas para uma concessão impopular e lesiva.

Que este episódio sirva de lição para que o futuro de Olímpia, e de qualquer cidade que considere a concessão de serviços essenciais, seja construído com a participação, a confiança e o respeito dos cidadãos.

ESPERANÇA VIRA INDIGNAÇÃO

Para a cidade de Olímpia, a concessão do DAEMO à Sabesp poderia ter sido um marco de progresso. No entanto, o aumento abusivo das tarifas, a falta de investimentos imediatos e as promessas quebradas transformaram essa esperança em indignação.

É hora de retomar o controle da situação, rever o contrato e buscar alternativas que realmente tragam benefícios para a cidade.

Olímpia e seus moradores merecem muito mais do que promessas vazias; merecem ações que tragam justiça e dignidade ao cotidiano da população.

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