26 de fevereiro | 2023

A “sertanejização” dos eventos culturais

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“Vai chegar um momento em que o número de escolas de samba e os blocos vão diminuir por falta de interesse da população de participar deles.  E caminharão para a inexistência, o que possivelmente culminará no final do carnaval em algumas cidades, o que já está ocorrendo”.

 

Do Conselho Editorial

Antes que alguém, por apenas ler o título do editorial, jogue a peruca no chão e pise em cima.

Antes que alguém queira tira cuecas ou calcinhas pela cabeça transtornado em razão do título.

Antes que alguém saia do salto Luiz XV com o qual desfila hipócrita imaginação de cultivar pensamentos progressistas e libertários é preciso que se esclareça.

Não há nada a favor e nem contra a música sertaneja e seus intérpretes no que se vai analisar abaixo.

Música de baixa qualidade existe em todos os gêneros musicais, principalmente neste período obscurantista em que a busca por likes, curtidas, engajamentos, determinam o retorno econômico para os criadores em todas as áreas abraçadas pela cultura.

O que interessa para o debate é a imposição da música sertaneja na maioria dos eventos que antes tinham cunho cultural e que viram a penetração deste universo em seus domínios, em razão do aumento de público e lucro e se desvirtuaram.

Este fenômeno surreal ditado pelo mercado e pela falta de cultura e respeito pelos símbolos tradicionais da nossa história, que tem suas raízes na preservação dos bens culturais, no final irá destruir tanto a memória quanto a avidez mercenária do mercado.

A maioria das cidades brasileiras e seus governantes populistas e demagogos, em um surto de hipocrisia e desejo de se notabilizar, transformaram o carnaval e outros eventos culturais em uma ode a mediocridade e a falta de bom gosto.

A maioria dos compositores de música sertaneja, ou sertanejo universitário, na maioria das composições, trabalham em cima de rimas pobres e bordões repetitivos.

Abusam da dor de corno, louvam o machismo, reproduzem preconceitos e não se preocupam com mensagens que pelo menos clamem a que as pessoas pensem sobre o universo em que residem.

Há coisas valorosas, mas, a maioria é de uma pobreza intelectual e espiritual que chega a estarrecer quem imagina que a missão do ser humano, em sua breve passagem pela terra, seja evoluir e evoluir.

E o poder público, que deveria privilegiar eventos com vistas ao crescimento intelectual de seus comandados, utiliza enormes quantias para contribuir com a divulgação da insignificância e da falta total de talento.

O que se viu pelo Brasil neste carnaval é de uma miséria incomparável, ninguém normal e com senso civilizatório desenvolvido pode concordar que houve um carnaval dentro da normalidade do que seja um evento carnavalesco.

Vai chegar um momento em que o número de escolas de samba e os blocos vão diminuir por falta de interesse da população de participar deles.

E caminharão para a inexistência, o que possivelmente culminará no final do carnaval em algumas cidades, o que já está ocorrendo.

Acontecendo este fenômeno, restará a alternativa de se promover shows sertanejos em seu lugar, o que, não sendo carnaval, virará lugar comum, carne de vaca e sucumbirá também, como já sucumbiu em alguns lugares.

Acontecendo esta previsão que não tem magia nenhuma, não sobrará nem um nem outro, sobrará apenas a antropofagia, o canibalismo do capital, na sua ânsia por lucro, engolindo a si mesmo.

Afirmar que este foi um carnaval envolvente, pelo menos nas pequenas cidades do interior, é não saber o que é carnaval ou o que é envolvente.

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