24 de julho | 2016

A Rádio Balada e a campanha na Anormália

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Willian Zanolli
Tem uma cidadezinha na Anormália onde tudo que não é normal é o que acontece como se fora.

Seria tipo uma cidade de trás pra frente, aquilo que não pode ser é o que é, e os cidadãos, na sua maioria, obviamente pensam de trás pra frente, leem o livro do final para o primeiro capítulo.

Não sei se consegui me explicar; se não consegui, isto é ótimo, sinal que já até posso solicitar dupla cidadania daqui e de lá.

Ser da Capital Nacional do Folclore ajuda em muito para se conseguir este tão necessário registro de dupla cidadania. Seria algo como se fora um currículo, principalmente se houver acréscimos do tipo acreditar em mulas sem cabeças, sem conseguir explicar que utilidade teria para uma mula uma cabeça, ou o que muda em uma mula o fato de não ter a mesma.

Pensará menos que antes? Comerá menos capim que as outras? Não utilizará o Tapa-olho Tanino e visualizará toda e qualquer asnice praticada por todos os anormalianos do país?

Anormalianos devem ter percebido meus normais leitores (não vou rir porque tenho um dente doendo demais), são os que nasceram na Anormalia e lá vivem ou migraram para terras folclóricas onde se pode crer na Cobra Grande ou no Saci Pererê, sem se perguntar exatamente qual a função de ambos a não ser encher lin­guiça nas horas que não se está fazendo nada e se precisa distrair uma criança com uma lenda maravilhosa?

Gente que mora na Anormalia ou migrou para lugares de sonhos e fantasias onde se crê que o Curupira por ter os pezinhos para trás, pode fazer uma cidade andar na contra mão da história, e os habitantes de lugares anormais assim, nada se preocupam com a história local que de tão perdida vende a sensação que tudo começou sempre agora.

É exatamente na Anormalia, esta terra tão, tão distante, onde era uma vez…

Que se repetiram várias outras vezes, em que os senhores primitivos e feudais para manter o sistema faziam uso do serviço de divulgação local, uma espécie de alto falante para alienar, iludir a população e alimentar em períodos de escolha dos conselheiros do rei e da manutenção da sombra do próprio rei nos assentos reais, convencendo-os que esta ou aquela opção poderia ser melhor que a outra.

Explico. Família real briga muito entre si nas questões de sucessão; é como a história do fantasma que mais de quatrocentos anos e toda selva pensando que era sempre o mesmo, não o era, no reinado era assim também, mudava as moscas, mais a latinha e o conteúdo continuava o mesmo.

Se não entendeu, tento explicar mais ainda, afinal não somos normais, não pode haver normalidade em quem escreve o que estou escrevendo e deve haver menos normalidade ainda em que está lendo.

Havia na Anormália vários candidatos ao trono; sua maioria era fruto do mesmo pé, tudo Fantasma, tudo igual ao outro, a popular farinha do mesmo saco, era a troca que permitia que tudo continuasse como sempre foi.

Por aqui, no Brasil, isto se chama alternância; tipo a parte corrupta da maçonaria, que não é pequena, tira o D. Pedro que era um maçom sério e coloca no lugar um outro maçom militar corrupto e sem seriedade nenhuma que vai produzindo corrupção e golpes maçônicos até hoje.

Não sacou ainda?

Sejamos mais explícitos. Poucos grupos na Anormalia detinham a possibilidade de alianças políticas; nem todos no reino contavam com condições de disputar o cetro, apenas alguns e entre estes alguns, os que o rei indicava.

Os que não eram simpáticos, de mentirinha, a política real, por que rei sempre quer quem ele quer no poder, tentavam, às vezes, furar o bloqueio real, entre eles um ou outro, dispunha dos meios para tentar iludir a população, e estes meios, passam sempre pela comunicação.

Quem não comunica se trumbica, e ai os candidatos cor­riam no que detinha o alto falante, o comunicador, para disseminar informações que vinculassem negativamente a imagem dos adversários que haviam contratado seus serviços.

Em razão disto, nos períodos que antecediam esta troca do mesmo pela mesma coisa, embora os produtos fossem todos tão iguais e conhecidos, pois a Anormália era um território pouco extenso, diminuto, onde a maioria se desconhecia suficientemente mal, necessário que o inverso da verdade se impusesse para que se optasse pelo que poderia de haver de menos notável no reino.

E se há, segundo a anormalidade, uma única forma de se desconhecer a fundo a questão dos princípios é se desconhecendo os “finalmentes” conquistados através dos meios, diria o grande filósofo anormalense Antonicolò di Bernarantulus dei Maquiavelhos, na sua obra “A princesa e o sapo”.

E se impunha a verdade através da divulgação da construção daquilo que se imaginavam fatos, e em sendo tudo de trás pra diante como era, cria-se exatamente naquilo que não era, e repetindo Bernarantulus, uma mentira repetida milhares de vezes arrasta a verdade para debaixo do tapete.

Restava, no entanto, escolher qual mentira de qual optante naquele ano seria reproduzida para convencer súditos que optavam muito mais por mesquinharias insignificâncias e mediocridades do que pela realidade.

Onde o virtual se impõe a vida vira sonho como diria Calderon de la Barca, e sonho é sonho, e sonho que se sonha só é só sonho que sonha só e sonho que sonha junto é realidade, razão pela qual a realidade da Anormália era algo assim como absurda e surreal, sem magia e encanto.

E naquele ano, se não falha minha seletiva mente anormal, inaugurou-se por lá, naquele ano tão tão distante a que nos referimos anteriormente, imitando anos outros, a Rádio Balada, e foram os anormalenses, até onde se sabe infelizes para sempre….

Willian A. Zanolli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de quarta, quinta e sextas-feiras, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque, na Rádio Cidade FM 98.7, e, aos domingos, no Sarau da Cidade, das 10h00 às 12h00, na mesma emissora de rádio.

 

 
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